“O Andar do Bêbado” trata dos
princípios que regem o acaso, de como foram desenvolvidos e como agem em
diversos campos (política, negócios, medicina, economia, esportes e lazer).
Misturando teoria e exemplos do cotidiano, o autor nos mostra como tomamos decisões
e quais processos nos levam a julgamentos equivocados, bem como a fazer
escolhas ruins diante da aleatoriedade / incerteza.
Definitivamente,
esse é um livro que foge de tudo o que eu costumo ler. Sabem como é... a pessoa
é formada em Letras e se limita às operações básicas com o auxílio de
calculadora. Qualquer coisa envolvendo a área de exatas é imediatamente
classificada como “não faço ideia e não me diz respeito”. Por que decidi ler
esse livro então? Porque achei o título muito curioso e pedi o livro em uma
troca anos atrás. Apesar do assunto completamente estranho para mim, fiquei
intrigada. A oportunidade perfeita para resgatar o título que juntava poeira na
prateleira surgiu com o tema do mês do Desafio
Literário Skoob: Ler um livro que você
normalmente não leria, que esteja há anos na fila de leitura ou que seja
indicado por outro participante.
Conversa
vai, conversa vem, recebi duas indicações: 1)
Contos Fantásticos do Século XIX
escolhidos por Italo Calvino (indicado por uma participante a quem eu disse
que não costumo ler histórias de fantasia); e 2) O Andar do Bêbado, que eu vi na estante do Skoob de outra
participante enquanto procurava algum título para indicar a ela para o desafio –
comentei que também tinha esse livro fazia um bom tempo e então ela acabou
me recomendando a leitura dessa obra. Comecei a ler o do Calvino e estava adorando, mas
percebi que era o tipo de leitura que eu quero fazer com calma, explorando cada
conto. Deixei de lado e peguei o segundo indicado.
De
modo bem didático, o autor nos apresenta a grandes nomes das ciências exatas,
como Cardano, Galileu e Pascal, entre outros, e a suas teorias
e aos princípios e regras desenvolvidos graças a essas grandes mentes. A parte da explicação
das regras é cansativa, mas o texto ganha leveza quando situações do dia a dia
são usadas para demonstrar os conceitos. Por exemplo: o que acontece quando as
estatísticas são erroneamente interpretadas na medicina, o erro da inversão e a
falácia da acusação nos tribunais – usando o caso de O. J. Simpson para ilustrar o ponto, a supervalorização de medidas
subjetivas como a classificação de vinhos, a receita para o sucesso baseada em
habilidade + preparo + esforço + fatores aleatórios (a que chamamos de ‘sorte’
às vezes).
Um
dos casos de exemplificação de que mais gostei foi o do iPod shuffle. Diz o autor que, pouco depois do lançamento do
primeiro modelo da Apple, um monte de usuários escreveu para a empresa
reclamando que o aparelho às vezes tocava duas músicas de uma mesma banda o
que, na concepção deles, contrariava totalmente a ideia de aleatoriedade. Só
que o princípio da aleatoriedade inclui repetições! A solução da empresa foi,
então, alterar o programa para que o aleatório usado no dispositivo eliminasse
essas repetições, o que torna a reprodução aleatória do aparelho não tão aleatória
assim... rs.
No
geral, foi uma leitura muito interessante e, se não melhorei meus conhecimentos
de matemática, pelo menos fiquei sabendo um pouco mais de como o cérebro humano
funciona, da nossa necessidade de determinar padrões e manter o controle das situações, de como a aleatoriedade
incomoda e influencia até as decisões mais simples que tomamos. E não poderia
haver um nome melhor para descrever o movimento aleatório que rege o mundo do
que "o andar do bêbado". Simplesmente perfeito.
"A mente humana foi construída para identificar uma causa definida para cada acontecimento, podendo assim ter bastante dificuldade em aceitar a influência de fatores aleatórios ou não relacionados".
Para
fãs de ciências exatas (ou não). Basta ser curioso.
2 comentários:
Também tenho esse livro e ele está parado na estante há muito tempo... Não costumo ler não ficção, mas gosto bastante de matemática, embora seja mais curiosidade do que conhecimento em si. Acho que vou dar uma chance ao livro em breve. (:
Nunca imaginaria que esse era o assunto do livro. Baixei ele aqui para ler em e-book, mas confesso que não li a sinopse, só o livro e as indicações me deixaram curiosa, rs. Bjs!
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