Para quem ainda não viu, resenhei o livro no post anterior, então não vou
repetir a sinopse de novo. O objetivo aqui é falar um pouco sobre duas das três
adaptações da história: a primeira
delas, americana, lançada em 1928, e
a mais recente, francesa, de 2012. Bora ver os pontos fortes e
fracos de cada uma?
O filme foi um dos
primeiros da Universal Pictures a fazerem a transição do cinema mudo para o
falado. Embora naquela época ainda não fosse possível sincronizar o som com as
imagens e se utilizassem aqueles cartazes de fala dos personagens, a música já
marcava presença, dando muito mais dramaticidade às cenas.
Seguindo a cartilha do expressionismo alemão, com seu jogo de claro-escuro e expressões intencionalmente
exageradas, o sorriso de Gwynplaine acaba
se tornando muito macabro, o que faz com que o filme seja classificado como
terror, embora a história seja, no fundo, um drama. De fato, a combinação de
sorriso sombrio, olhares penetrantes e música poderosa me fez sentir mais
medo do que pena do protagonista.
Independente do gênero
cinematográfico em que se enquadra, é uma obra muito boa, que consegue prender
a atenção e sustentar o drama até o final, pecando apenas por alterar o
desfecho, o que enfraquece a história. De qualquer forma, recomendo muito.
Para quem gosta de um bom filme, independente de gênero ou época.
Veja uma cena incrível do filme:
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O Homem que Ri (L’Homme
Qui Rit), 2012
A versão mais recente da história ganha pontos por
manter o desfecho do livro e a característica trágica da trama. No entanto, o
visual é mais suave e romantizado e o amor entre Gwynplaine e Dea é mais
bem explorado.
Outro ponto positivo é que a personalidade desbocada e
ranzinza de Ursus foi muito bem
transposta para a tela, em uma interpretação de Gérard Depardieu, que
alterna com perfeição momentos de rudeza e doçura.
Embora pequenas alterações tenham sido feitas para
aumentar a carga dramática ou dar mais fluidez à trama, algumas me agradaram
bastante, como, por exemplo, a cena em que Ursus e Dea são convidados por Gwynplaine
para visitá-lo no castelo (isso não acontece no livro), e, lá, Dea é separada
de Ursus de propósito e fica vagando, perdida no labirinto, até ser assediada
pelos serviçais. Imagino que seria bem possível isso acontecer e o terror da
cena foi bem real. Apenas um ou outro detalhe me desagradou, mas nada ruim o
bastante para estragar o filme. Vale a pena conferir.
Tem drama, tem romance e tem aventura. E um visual incrível. Precisa de mais?
Trailer legendado em português:
NOTA 1: A segunda adaptação de “O homem que ri” (L'Uomo che Ride) é italiana
e foi lançada em 1966. A ação foi
transferida da Inglaterra para a Itália, na época dos Bórgias. Não assisti. Se alguém
viu, deixe um comentário falando o que achou.
NOTA 2: A aparência assustadora do Gwynplaine americano
serviu de inspiração para um personagem clássico dos quadrinhos (e, atualmente,
de filmes): o Coringa. O primeiro
encontro do vilão com o homem-morcego foi retratado no gibi “Batman: O Homem que Ri”, de 2005 (que,
aliás, eu li, mas achei apenas OK. Desculpem, mas não é a minha praia).
Seja no livro, nos filmes ou inspirando quadrinhos, "O homem que ri" tem um visual marcante. Fato.
Um comentário:
Adoro o fato de você ir a fundo em uma obra, pesquisar suas adaptações e referências. Confesso que nem sempre tenho esse fôlego. Comecei a ver essa versão mais nova, mas dormi antes de final e nunca retomei...mas dormi de cansaço, não porque era chato, rs.
bjs
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