sexta-feira, 8 de abril de 2016

Veja Mais Mulheres - Filme #14: Pura


Katarina é uma jovem de vinte e poucos anos que vive em um bairro afastado da capital sueca com um namorado acomodado e a mãe alcoólatra, e que tem dificuldade de se manter em um emprego, graças a um vídeo que a difamou na internet. Suas expectativas em relação ao futuro eram nulas, até topar por acaso com um vídeo de Mozart no YouTube, quando então passa a ver a música clássica como uma forma de escapar da dura realidade que a cerca e uma chance de deixar para trás sua vida miserável.


É o acaso que faz Katarina descobrir Mozart, e também é a casualidade que a faz estar no auditório no exato momento em que a diretora aguardava uma candidata para a vaga de recepcionista, oportunidade que a protagonista agarra com unhas e dentes, inventando umas mentiras sobre o destino trágico de sua mãe e expressando todo seu encantamento e interesse pela música.


Ocupando o novo cargo, Katarina parece finalmente ter encontrado um rumo num emprego que lhe permitia aprender e ainda respirar música todos os dias. Um dia, ela se aproxima do maestro Adam, que se mostra admirado com a dedicação da jovem e a estimula com livros de poesia e filosofia e apresentando novos músicos. Os dois vão se tornando cada vez mais próximos e acabam virando amantes. Não preciso nem dizer quem leva a pior quando o relacionamento termina, certo?


Katarina é uma pessoa incompreendida. Ela acredita que a vida é mais do que apenas trabalhar e se jogar no sofá no fim do dia para assistir programas de TV alienantes, como fazem seu namorado e amigos. Ela sente que não deve se acomodar com o que tem por medo de arriscar, como a mãe que sugeriu que ela agarrasse o namorado enquanto ainda era nova e bonita, mesmo que ela não gostasse tanto assim dele. Ela é julgada por seu passado sexual e vista como louca e agressiva por não conseguir escutar desaforos calada, e não faltam aqueles que sugerem a ela que tome uns remédios para se acalmar ou se interne. Tudo o que ela quer é viver intensamente, se entregar de verdade às suas paixões e crenças, ainda que de modo um tanto inconsequente, afinal, ela está começando a viver. Mas quem se atreve a pensar diferente paga caro.


Lisa Langseth usa a peça Den älskade (‘Beloved’/‘The loved one’), escrita por ela e encenada na Suécia anos antes por Noomi Rapace, como base de seu primeiro filme para falar de diferenças sociais, conformismo, machismo e coragem. Se a vida de Katarina começou a mudar sem querer, é só com muito empenho e ousadia que ela consegue superar tudo que tentava arrastá-la de volta para a vida medíocre da qual ela quer fugir. E ela aprendeu direitinho a lição do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard: "Coragem é a única medida da vida".

Estreia da diretora Lisa Langseth nos longas e primeiro trabalho como protagonista da atriz Alicia Vikander – que dupla!

Nota: 4/5
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Sobre a diretora:

Lisa Langseth é sueca e atua como roteirista, diretora de teatro e cineasta. Ganhou o prêmio sueco de melhor roteiro em 2010 (Guldbagge Award) com “Pura”. Seu segundo longa-metragem, “Hotel Terapêutico” (Hotell), também conta com a participação de Alicia Vikander. 

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI. 

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