segunda-feira, 9 de maio de 2016

Veja Mais Mulheres: Filme #17 - Advantageous


Garotas na adolescência lidando com a pressão de se destacar na escola para ter um bom futuro. Os efeitos prejudiciais dessa pressão em seus corpos. Uma sociedade que valoriza mais a aparência física do que a experiência de suas funcionárias. A busca pela juventude a qualquer preço. Não são assuntos inéditos, é verdade. Mas são problemas reais explorados muito bem sob um verniz de ficção científica pela diretora Jennifer Phang.



Assim como o terror, sci-fi também é um gênero cinematográfico considerado masculino. Mas se no primeiro caso são feitas concessões às diretoras porque é um gênero ‘menor’, no segundo a presença feminina atrás das câmeras é ainda mais rara, já que tecnologia e efeitos especiais (o que geralmente envolve um orçamento milionário) não são ‘coisas de mulher’. “Advantageous” está aí para comprovar que é possível realizar um filme digno do estilo sem gastar rios de dinheiro, mantendo o foco no que é imutável independente da época em que se passa uma história: a essência humana.


No mundo futurista criado por Phang, o visual é muito próximo dos nossos dias. Não há um tom pós-apocalíptico nem um ideal de evolução da espécie que geralmente encontramos em produções de ficção científica. A invenção mais revolucionária da trama é uma cirurgia de transferência de corpórea de consciência, que, em outras palavras, permite que uma pessoa troque seu corpo antigo e com marcas de idade por um novinho em folha, mantendo sua memória antiga. Mas, como dá para imaginar, as coisas não saem exatamente como planejado. E essa falha levanta algumas das questões do filme: O que nos torna únicos? O que compõe nossa identidade? Os registros cerebrais são 100% equivalentes às memórias do corpo? O que é um ser humano, afinal?


Além de todos esses questionamentos filosófico-existencialistas, o filme ainda aborda assuntos pertinentes ao universo feminino: as dificuldades de ser uma mãe solteira (algo que, aparentemente, não muda ao longo dos séculos), o peso de suas escolhas (que afetam não só a si mesma, mas também aos seus filhos), as cobranças estéticas e de juventude em detrimento ao intelecto, a exclusão forçada das mulheres do mercado de trabalho para manter o dinheiro (e o poder de decisão, é claro) nas mãos dos homens.


Uma das minhas cenas preferidas é quando Gwen, a mãe, entra no quarto da filha Jules e pergunta 'Em cima ou embaixo?' A menina então sobre na cama e tenta ouvir os sons do apartamento de cima, e depois encosta o ouvido no chão para escutar os rumores que vêm do andar de baixo. Por fim, responde 'Ambas'. Na hora não fica muito claro o que aquilo queria dizer, já que não dá para ouvir os ruídos. Algumas cenas adiante, a menina repete os movimentos, sai do quarto na ponta dos pés e vai escutar atrás da porta do quarto da mãe. A mãe chora. Daí percebemos o significado daquilo tudo: há sempre alguma mulher chorando. Triste e sintomático de um mundo doente.


Não é preciso ser fã de ficção científica para ter uma experiência cinematográfica agradável. Basta focar na delicada relação entre mãe e filha: duas mulheres fisicamente frágeis, que vivem sem o apoio de ninguém, mas que enfrentam todos os obstáculos para proteger uma à outra.


Preciso dizer que recomendo?

Nota: 4/5
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Sobre a diretora:

Jennifer Phang nasceu na Califórnia, Estados Unidos, e atua como diretora e roteirista. Em 2008, foi eleita um dos “25 Novos Rostos do Cinema Independente” pela revista Filmmaker. Seu primeiro longa, “Meia Vida”, estreou no Festival de Sundance de 2008, e depois colecionou prêmios em vários outros festivais. “Advantageous” é seu segundo filme e também estreou em Sundance, na edição de 2015, levando o Prêmio do Júri de Visão Colaborativa (dedicado a Phang e a Jacqueline Kim, roteirista, produtora e atriz principal).

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI. 

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