quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Leia o Livro, Veja o Filme: O Carteiro e o Poeta

LIVRO: O CARTEIRO E O POETA

Mário Jiménez é um rapaz de 17 anos que morava em uma pequena vila de pescadores no Chile, mas que não queria trabalhar com pesca. Um dia, a agência de correios local abre uma vaga de carteiro, e Mário aproveita para assumir o cargo. No entanto, o emprego tinha uma peculiaridade: o único cliente a receber cartas em um povoado de gente iletrada era o ilustre escritor Pablo Neruda. E é assim que, aos poucos, nasce uma amizade inusitada e sincera entre o carteiro e o poeta.

Este é mais um livro que estava na minha estante há tempos e que foi escolhido para me acompanhar nas viagens de metrô devido ao seu formato de bolso. Li em um dia. Tudo o que eu sabia sobre o livro era o que a sinopse mostrava e que já havia sido adaptado para o cinema. Então, foi uma grata surpresa me deparar com uma história tão singela e encantadora, uma trama de amizade e de amor vivida por um protagonista de uma inocência rara e comovente.

Logo que descobre que o destinatário de seus pacotes seria Neruda, Mário fica empolgado com a possibilidade de pedir a ele um autógrafo, já sonhando com o dia em que mostraria o livro assinado às moças da aldeia, impressionando todas elas. Todavia, as coisas não saem bem como ele imaginava, e então ele revela ao escritor que gostaria de saber se expressar de modo tão bonito e é aconselhado a pensar em metáforas. Com dificuldade, Mário se empenha na tarefa e, de repente, tudo fica mais claro quando ele se encontra pela primeira vez com a linda Beatriz, por quem se apaixona perdidamente.

Passando de cliente a instrutor de poesia e depois a conselheiro sentimental e casamenteiro, Neruda entra de vez na vida de Mário, ao mesmo tempo em que se envolve também na política. E é por causa desse envolvimento político, em plena ditadura de Pinochet, que Neruda sai do país e vai se refugiar na França. Acompanhamos então o impacto do novo regime sobre a população chilena, a tristeza de Mário ao se separar do amigo e sua esperança de um dia reencontrá-lo.

O que mais me agradou no livro foi a forma como a amizade se estabelece entre Neruda e Mário e a extrema inocência do carteiro. Sua pureza é uma mistura de Forrest Gump com Guido de 'A vida é bela'. O amor entre Mário e Beatriz também é juvenil e espontâneo, embora haja algumas cenas bem quentes ao longo da narrativa. E, de quebra, ainda insere a trama no panorama histórico da ditadura chilena, do qual só tenho conhecimento superficial. Acho sempre válido e interessante saber um pouco mais sobre nossa história recente.

“Mas os trens que conduzem ao paraíso são sempre locais e se confundem em estações úmidas e sufocantes. Os expressos são só aqueles que viajam para o inferno”.

Livrinho curto com personagens cativantes em uma trama simples, porém carregada de emoção. Recomendo!

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FILME: O CARTEIRO E O POETA

Assim como o livro, também o filme estava me aguardando há um bom tempo no HD. Só o que eu sabia é que havia sido indicado ao Oscar em 1996 (foi indicado em 5 categorias, e ganhou em apenas uma: Melhor Trilha Sonora Original). Não sei quais eram os concorrentes naquele ano, mas entendo perfeitamente que “O Carteiro e o Poeta” tenha levado a estatueta de trilha sonora: é impossível não ficar com as melodias gravadas na memória.


Quanto à trama, é bem diferente do livro: o cenário deixa de ser o Chile dos anos 70 e passa a ser a Itália dos anos 50. A princípio, pode parecer totalmente sem sentido essa mudança, mas a história se sustenta perfeitamente. Outra alteração significativa é o desfecho da história. Mais uma vez, digo que, dentro do universo apresentado na tela, a solução final é coerente e tem um grande impacto no espectador.


O filme consegue manter a sensibilidade do livro e ganha o reforço das belas paisagens italianas e da já comentada trilha sonora. Massimo Troisi, intérprete de Mário, me pareceu um pouco velho demais para os 17 anos do protagonista, mas seu trabalho é tão delicado que o estranhamento inicial desaparece em pouco tempo. Philippe Noiret também está muito bem na pele do poeta. E Maria Gracia Cucinotta, a Beatriz, faz bem o tipo de garota capaz de enlouquecer homens e meninos.


Curiosidade triste: o ator e roteirista Massimo Troisi adiou um cirurgia cardíaca para poder finalizar o filme. No dia seguinte ao término das filmagens, ele sofreu um ataque cardíaco fatal.

Uma prova de que fidelidade à história original não é tudo. Um dos raros casos em que o filme é tão bom quanto o livro, mesmo com mudanças significativas. 

Trailer:

 

6 comentários:

Melissa Padilha disse...

Como eu sou desinformada, não sabia que esse filme era baseado em livro. Cada hora mais eu acho que não existe roteiristas de cinema, só adaptação de livros :)
Eu adoro esse filme, é muito sensível ! Vou anotar o livro aqui para ler.
bjos

Anônimo disse...

Assisti o filme e o achei fofo! De uma ingenuidade graciosa.

Michelle disse...

Melissa,
É verdade. Antigamente a gente não tinha acesso a tanta informação, então não percebia o número absurdo de adaptações literárias. Leia sim!

Julia,
Exatamente! A ingenuidade é o diferencial.

Anônimo disse...

Oi, Michelle! Tenho uma simpatia enorme por histórias sensíveis, ainda mais quando envolvem amizade.
Sua resenha me incentivou a lê-lo e peguei hoje um exemplar na biblioteca.
Volto para deixar uma opinião depois! :)

Bjs ;)

Michelle disse...

Ana,
Que legal que você se animou para ler essa história linda! Espero que goste. Aguardo seus comentários, tá?

Anônimo disse...

Oi, Michelle! :)
Demorei, mas terminei de ler. Ultimamente tenho pausado minhas leituras para estudar.

Enfim, minhas impressões com o livro foram muito boas. É realmente muito delicado, poético e tem uma história linda de amizade. O toque especial do livro é mesmo a ingenuidade do Mario e a paciência do Neruda. ^^
Rende momentos bem divertidos, né?

Terminei o livro comovida. Afinal, tem um contexto histórico conflituoso.

Pretendo escrever uma resenha em breve e linkar teu blog, já que sua (ótima) resenha aguçou minha curiosidade.

Bjs ;)

Bjs ;)