LIVRO: O CARTEIRO E O POETA
Mário Jiménez é um rapaz de 17 anos que
morava em uma pequena vila de pescadores no Chile, mas que não queria trabalhar
com pesca. Um dia, a agência de correios local abre uma vaga de carteiro, e
Mário aproveita para assumir o cargo. No entanto, o emprego tinha uma
peculiaridade: o único cliente a receber cartas em um povoado de gente iletrada
era o ilustre escritor Pablo Neruda.
E é assim que, aos poucos, nasce uma amizade inusitada e sincera entre o
carteiro e o poeta.
Este
é mais um livro que estava na minha estante há tempos e que foi escolhido para
me acompanhar nas viagens de metrô devido ao seu formato de bolso. Li em um
dia. Tudo o que eu sabia sobre o livro era o que a sinopse mostrava e que já
havia sido adaptado para o cinema. Então, foi uma grata surpresa me deparar com
uma história tão singela e encantadora, uma trama de amizade e de amor vivida
por um protagonista de uma inocência rara e comovente.
Logo
que descobre que o destinatário de seus pacotes seria Neruda, Mário fica
empolgado com a possibilidade de pedir a ele um autógrafo, já sonhando com o
dia em que mostraria o livro assinado às moças da aldeia, impressionando todas
elas. Todavia, as coisas não saem bem como ele imaginava, e então ele revela ao
escritor que gostaria de saber se expressar de modo tão bonito e é aconselhado
a pensar em metáforas. Com dificuldade, Mário se empenha na tarefa e, de
repente, tudo fica mais claro quando ele se encontra pela primeira vez com a
linda Beatriz, por quem se apaixona
perdidamente.
Passando
de cliente a instrutor de poesia e depois a conselheiro sentimental e
casamenteiro, Neruda entra de vez na vida de Mário, ao mesmo tempo em que se
envolve também na política. E é por causa desse envolvimento político, em plena
ditadura de Pinochet, que Neruda sai do país e vai se refugiar na França.
Acompanhamos então o impacto do novo regime sobre a população chilena, a
tristeza de Mário ao se separar do amigo e sua esperança de um dia
reencontrá-lo.
O
que mais me agradou no livro foi a forma como a amizade se estabelece entre
Neruda e Mário e a extrema inocência do carteiro. Sua pureza é uma mistura de Forrest Gump com Guido de 'A vida é bela'. O amor entre Mário e Beatriz também é juvenil e espontâneo,
embora haja algumas cenas bem quentes ao longo da narrativa. E, de quebra, ainda
insere a trama no panorama histórico da ditadura chilena, do qual só tenho
conhecimento superficial. Acho sempre válido e interessante saber um pouco mais
sobre nossa história recente.
“Mas
os trens que conduzem ao paraíso são sempre locais e se confundem em estações
úmidas e sufocantes. Os expressos são só aqueles que viajam para o inferno”.
Livrinho
curto com personagens cativantes em uma trama simples, porém carregada de
emoção. Recomendo!
Assim
como o livro, também o filme estava me aguardando há um bom tempo no HD. Só o
que eu sabia é que havia sido indicado ao Oscar em 1996 (foi indicado em 5
categorias, e ganhou em apenas uma: Melhor Trilha Sonora Original). Não sei
quais eram os concorrentes naquele ano, mas entendo perfeitamente que “O
Carteiro e o Poeta” tenha levado a estatueta de trilha sonora: é impossível não
ficar com as melodias gravadas na memória.
Quanto
à trama, é bem diferente do livro: o cenário deixa de ser o Chile dos anos 70 e
passa a ser a Itália dos anos 50.
A princípio, pode parecer totalmente sem sentido essa
mudança, mas a história se sustenta perfeitamente. Outra alteração
significativa é o desfecho da história. Mais uma vez, digo que, dentro do
universo apresentado na tela, a solução final é coerente e tem um grande
impacto no espectador.
O
filme consegue manter a sensibilidade do livro e ganha o reforço das belas
paisagens italianas e da já comentada trilha sonora. Massimo Troisi, intérprete de Mário, me pareceu um
pouco velho demais para os 17 anos do protagonista, mas seu trabalho é tão
delicado que o estranhamento inicial desaparece em pouco tempo. Philippe
Noiret também está muito bem na pele do poeta. E Maria Gracia Cucinotta, a
Beatriz, faz bem o tipo de garota
capaz de enlouquecer homens e meninos.
Curiosidade
triste: o ator e roteirista Massimo Troisi adiou um cirurgia cardíaca para poder
finalizar o filme. No dia seguinte ao término das filmagens, ele sofreu um
ataque cardíaco fatal.
Uma
prova de que fidelidade à história original não é tudo. Um dos raros casos em que
o filme é tão bom quanto o livro, mesmo com mudanças significativas.
Trailer:
6 comentários:
Como eu sou desinformada, não sabia que esse filme era baseado em livro. Cada hora mais eu acho que não existe roteiristas de cinema, só adaptação de livros :)
Eu adoro esse filme, é muito sensível ! Vou anotar o livro aqui para ler.
bjos
Assisti o filme e o achei fofo! De uma ingenuidade graciosa.
Melissa,
É verdade. Antigamente a gente não tinha acesso a tanta informação, então não percebia o número absurdo de adaptações literárias. Leia sim!
Julia,
Exatamente! A ingenuidade é o diferencial.
Oi, Michelle! Tenho uma simpatia enorme por histórias sensíveis, ainda mais quando envolvem amizade.
Sua resenha me incentivou a lê-lo e peguei hoje um exemplar na biblioteca.
Volto para deixar uma opinião depois! :)
Bjs ;)
Ana,
Que legal que você se animou para ler essa história linda! Espero que goste. Aguardo seus comentários, tá?
Oi, Michelle! :)
Demorei, mas terminei de ler. Ultimamente tenho pausado minhas leituras para estudar.
Enfim, minhas impressões com o livro foram muito boas. É realmente muito delicado, poético e tem uma história linda de amizade. O toque especial do livro é mesmo a ingenuidade do Mario e a paciência do Neruda. ^^
Rende momentos bem divertidos, né?
Terminei o livro comovida. Afinal, tem um contexto histórico conflituoso.
Pretendo escrever uma resenha em breve e linkar teu blog, já que sua (ótima) resenha aguçou minha curiosidade.
Bjs ;)
Bjs ;)
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