José (Fernando Luján) descobre
que a ex-esposa se suicidou. Ele avisa o filho, que estava curtindo férias com
a família fora do país, e liga para o médico. Recebe, então, a
visita inesperada do Rabino Jacowitz (Max Kerlow), que diz que se a morta
não fosse enterrada ainda naquele dia, só poderia ser sepultada quatro dias
depois, devido à celebração da Páscoa Judaica. Dividido entre o peso de ter que
aguardar a volta do filho para o enterro segundo os princípios judaicos e a
vontade de resolver logo a situação, José tenta lidar com assuntos burocráticos,
religiosos e fantasmas do passado.
Nora (Silvia
Mariscal) pensou em todos os detalhes antes de se matar: organizou
fotos, escreveu cartas, deixou instruções para o preparo das comidas típicas a
serem servidas na Páscoa, abasteceu a despensa com tudo que seria necessário,
etiquetou todos os recipientes da geladeira com o que continham e a quem eram
destinados. No entanto, em vez de enxergar o cuidado da ex-mulher para com
aqueles que continuam vivos como um gesto generoso, já que ela, mais uma vez e
nos momentos finais de sua existência, preferiu se colocar em segundo plano,
José decide que ela fizera tudo de modo friamente calculado só para causar a
ele mais aporrinhação.
Durante
quase todo o filme, só o que José faz é reclamar, tentar impedir que as
instruções da falecida fossem seguidas, evitar que as últimas vontades dela
fossem realizadas; ele se mostra extremamente egoísta e grosso com as outras
pessoas, chegando a ofender deliberadamente o Rabino e o pessoal encarregado
preparar o corpo. Os únicos momentos em que ele não pensa apenas em si mesmo
são aqueles em que brinca com as netas. Mesmo
sabendo que a ex-esposa tinha problemas e que já havia tentado se matar outras
vezes, ele nunca parece se importar com o que ela havia sofrido, com o que ela
poderia ter sentido – o foco é sempre ele: por que ela o estava punindo?; por
que ela sempre lhe causara preocupações?; por que ela decidira se matar agora?;
que segredos ela escondera dele a vida toda?
O
mais curioso é que nada sabemos sobre Nora – apenas que tinha tendências
suicidas. Não sabemos do que ela gostava ou desgostava, de como fora sua vida
(exceto por alguns flashes de quando ela era jovem), se tinha amigos, se ela
tinha uma religião (embora as pessoas briguem por isso). Não sabemos nada.
Parece que, mesmo em vida, ela sempre fora um corpo inerte que as pessoas
jogavam de um lado para o outro.
Apesar
do assunto pesado e do protagonista egoísta (que faz as pazes com o passado,
com os familiares e consigo mesmo no final), o filme tem alguns momentos
engraçados (como quando José começa a trocar as etiquetas dos potes de comida
na geladeira numa atitude infantil), mostra como é difícil entender e respeitar
a fé alheia e como, às vezes, a religião também impõe dogmas que parecem
desconsiderar completamente o sofrimento das pessoas (como Nora se matou, só
poderia ser enterrada numa área destinada a suicidas e assassinos do cemitério
judaico; apenas um rabino aceitou enterrá-la no túmulo da família, indo contra
os preceitos da religião e dizendo que não cabia a ele julgar as ações da
falecida – palmas para ele!).
Uma
boa história contada em um ritmo lento, mas não entediante.
Nota:
3,5/5
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Sobre
a diretora:
Mariana Chenillo é uma roteirista e
diretora mexicana. Foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Ariel (o ‘Oscar’
mexicano) de Melhor Filme, em 2010, com ‘Cinco
dias sem Nora’, sua estreia na direção (que também levou vários outros prêmios). Seu filme mais recente, ‘Paraíso’, fala de um tema polêmico e
atual: a gordofobia.
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4 comentários:
Vou ver na próxima semana. :)
Já tenho o filme, mas não encontro legendas :/
Amei, Mi! Cinema latino-americano e uma diretora mulher, duas coisas que ando procurando :) vou ver! beijos!
Cláudia,
Eba! Aguardo sua opinião :)
Tati,
Uma combinação interessante e rara. Vamos trocando figurinhas sobre os achados.
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