Uma
pequena cidade e sua única livraria. Um livreiro sistemático, solitário e preso
ao passado. Um livro raro roubado. Um policial que gosta de romances policiais.
Uma representante de vendas que nunca mente a um cliente sobre a qualidade dos
livros que vende. Um misterioso pacote deixado na livraria. Um livro que fala
de livros.
Olha, não sei quanto a
vocês, mas eu sou apaixonada por livros que tenham como tema principal outros
livros, leitores e a leitura em
si. Então , lógico que quando fiquei sabendo do lançamento de "A Vida do Livreiro A. J. Fikry"
fui correndo espiar do que se tratava. E, assim que li as primeiras páginas, já
me vi flanando entre as estantes da livraria Island Books, passando pelos
corredores da loja entupidos de provas a serem avaliadas, participando das
discussões do clube do livro realizadas no estabelecimento. Acima de tudo,
fiquei intrigada com cartas cheias de referência a livros e contos que abrem
cada capítulo. A quem será que se destinam? Quero ler essas indicações!
A. J. Fikry era o dono da única livraria da pequena cidade de Alice Islands. Todas
as noites, depois de dispensar a garota que trabalhava como atendente, ele
fechava a loja e subia para seu pequeno apartamento para mais uma sessão de
comida congelada, (muito) vinho e (pouca) leitura de algum de seus autores
favoritos. Desde que sua esposa morrera em um acidente de trânsito havia alguns
anos, nada mais tinha graça.
Após uma dessas noites de
jantar ruim e bebida em excesso, ele desmaia e seu livro raríssimo de poesias
de Poe desaparece e, com ele, o sonho de levantar uma grana e dar um jeito nos
negócios, que iam cada vez pior graças ao modelo de vendas on-line ao qual ele
se recusava a aderir. Na delegacia, Fikry conhece o delegado Lambiase, o típico estereótipo de policial americano:
gordo e louco por donuts. Para completar o clichê, o cara é fã de literatura
policial. O mais bacana disso tudo é que Lambiase tem noção do quanto se
encaixa no típico modelo de ‘homem da lei’ e desenvolve com Fikry altas
conversas sobre literatura e arquétipos. Depois desse primeiro encontro
involuntário, os caminhos de Fikry e Lambiase acabam se cruzando novamente e,
sem querer, eles se tornam amigos.
O fato é que os dois
personagens de que falei acima são apenas alguns dos tristes seres humanos que
encontramos nas páginas de "A Vida
do Livreiro A. J. Fikry". Todos ali se esforçam para seguir vivendo da
melhor forma possível, apesar das decepções e dificuldades. Aliás, é a saída de
cena de uma jovem personagem apavorada que transforma a vida de todos os
demais, e os efeitos de sua tragédia mudam a dinâmica de toda a comunidade de
Alice Island.
É difícil
expressar aqui o quanto o livro é incrível e traduzir em palavras o quanto a
história me encantou sem fazer revelações importantes da trama. Não que seja um
livro de suspense e que determinadas informações possam arruinar o mistério e a
vontade de ler que talvez vocês tenham. Longe disso. O que mais me agradou no
livro é justamente o tema simples e a forma como a autora vai revelando aos
poucos detalhes sobre a vida de cada personagem, tornando-os cada vez mais
humanos e próximos. Isso e, claro, as referências bibliográficas. Alguns livros
já estavam na minha lista e acabaram por saltar algumas posições; outros eu não
conhecia e fiquei muito interessada em ler.
Enfim... "A Vida do
Livreiro A. J. Fikry" é uma história de amor: pelos livros, pelas pessoas
e pelos sonhos.
“As pessoas contam mentiras chatas sobre política,
Deus e amor. Você descobre tudo que precisa saber sobre uma pessoa com a
resposta desta pergunta: Qual é o seu livro preferido?"
Nota:
4/5
3 comentários:
Eu gostei dele. A sua escrita deu vontade de reler... mas tem tanta coisa esperando, como posso?
Esse livro me cativou tanto <3 Fiquei com vontade de reler também! Livros sobre livros me interessam bastante, mas não li tantos assim... Beijos! Feliz ano novo!
Marta,
O eterno dilema dos leitores com estantes lotadas, né?
Maura,
Eu tenho uma listinha de livros sobre livros e, sempre que posso, pego um título de lá para ler :)
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