segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Leia o Livro, Veja o Filme: Extremamente Alto & Incrivelmente Perto /Tão Forte e Tão Perto

Oi!

Semana passada, na coluna 'Leia o Livro, Veja o Filme', fiz um post sobre 'A Chegada' e o conto que deu origem ao filme. O post trazia primeiro o filme e depois o texto, já que foi nessa ordem que tive contato com adaptação e livro. Hoje vou fazer mais uma postagem na ordem inversa, ainda mais porque, neste caso, vi o filme há 4 anos (e inclusive resgato e adapto o post originalmente publicado no blog Equalize da Leitura em 18 de abril de 2012), bem antes de ler o livro, que só tive a chance de conferir este ano. Então, sem mais delongas, vamos às observações sobre 'Tão Forte e Tão Perto' (o filme) e 'Extremamente Alto & Incrivelmente Perto' (o livro).

FILME: Tão Forte e Tão Perto
Nesta história, acompanhamos Oskar Schell (Thomas Horn), garoto extremamente inteligente cujo pai, Thomas (Tom Hanks), morre no atentado contra as Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001. Oskar fica desnorteado pela perda da única pessoa no mundo que o entendia e, um dia, ao vasculhar o armário paterno, encontra uma chave desconhecida, que parecia ser de uma caixa postal ou guarda-volumes, e bota na cabeça que esse é o elo que dará a ele uma nova chance de falar com seu pai. Junto com a chave, havia apenas o nome “Black” anotado. O garoto, então, começa a elaborar mapas e desenvolve um sistema para visitar todas as pessoas com sobrenome “Black” existentes em Nova York.


Apesar da inteligência excepcional, Oskar tem muita dificuldade para se comunicar com as pessoas e é cheio de fobias (medo de gente velha, medo de altura, medo de transporte público, etc), indícios claros de Síndrome de Asperger (um tipo mais leve de autismo). Inclusive, foi para estimular Oskar a superar seus medos que seu pai havia criado um jogo de exploração, no qual espalhava pistas de uma missão fictícia pelo Central Park para que o filho as encontrasse. Na jornada de Oskar em busca de um último contato com o falecido pai, ele vai vencer muitos de seus medos, encontrar todo tipo de pessoa e até fazer amigos.


Uma dessas pessoas é o inquilino misterioso de sua avó, vivido por Max Von Sydow. Esse senhor que parou de falar por opção e que passou a se comunicar escrevendo em um bloco de papel decide acompanhar Oskar em sua aventura.


Um ponto que merece destaque no filme é relação conflituosa de Oskar com sua mãe, vivida por Sandra Bullock. Ele a culpa por ter enterrado um caixão vazio e acha que ela não sente a falta de Thomas. Na escala de importância, a mãe sempre fica por último: o primeiro lugar era do pai, a avó ocupa a segunda posição e agora até o inquilino é mais apreciado do que a mãe. Todo o desprezo (ao meu ver, indevido, apesar de a mãe agir de forma estranha boa parte do filme) que ele tem por ela é uma coisa que me incomodou muito durante a sessão de cinema. Aliás, o comportamento de Oskar geralmente é bem irritante, mas, a partir do momento em que percebi que seu jeito de agir podia ser explicado pelo Asperger, as coisas passaram a fazer mais sentido.


Não vou falar mais nada para não estragar a história. Só vou dizer que o filme tem um final interessante e passa uma mensagem bacana que vai fazer muita gente se acabar em lágrimas. A trilha sonora também colabora muito nesse sentido.


A história é uma adaptação do livro “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”, de Jonathan Safran Foer. O filme foi indicado ao Oscar 2012 nas categorias Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (Max Von Sydow), mas não levou nenhum prêmio.

Nota: 3/5
********************
LIVRO: Extremamente Alto & Incrivelmente Perto

Fazia tempo que eu estava a fim de ler algo do Foer, mas só agora consegui. Infelizmente, foi depois de assistir à adaptação. Digo infelizmente porque, em geral, eu  perco a vontade de ler um livro que já vi transformado em filme - principalmente porque tenho uma ótima memória visual, então, enquanto estou lendo, as cenas da produção voltam vividamente à minha mente, o que acaba estragando parte da experiência de leitura. Sei que leitores (e eu me incluo no grupo) constantemente reclamam da falta de fidelidade ao texto nas versões levadas para a telona, mas o fato é que, no caminho inverso (primeiro o filme, depois a leitura) o excesso de fidelidade é um problema, pois torna a leitura previsível e, consequentemente, chata.

Senti um pouco isso enquanto estava lendo. Como todos os eventos do livro são mostrados sem muita variação na tela, fui lendo já sabendo o que iria acontecer, sem nenhuma expectativa, meio que para chegar às últimas páginas apenas. Talvez, por isso, eu não tenha achado o livro tão sensacional assim. Muitos amigos têm verdadeira paixão por essa obra do Foer (e detestam o filme), mas comigo não rolou esse amor todo.

Mas isso não quer dizer que eu não tenha gostado do livro. Gostei, sim. Mais até do que do filme. O Oskar do livro é mais cativante do que o da telona. Acho que isso acontece porque dá para perceber o Asperger do garoto mais rapidamente no texto, pela forma como ele se expressa, não só por suas atitudes, e isso me fez ser mais compreensiva com ele. A mãe continua parecendo ausente, mas isso é intencional, para dar mais força à resolução da história. Um dos personagens que me tocaram mais no livro é a avó (senti que ela tem mais destaque nas páginas - ou talvez seja só impressão, porque não lembro direito de sua presença no filme). 

O diferencial do livro é seu trabalho gráfico. É dito que Oskar tinha o hábito de sair com sua Polaroid, registrando tudo que achava interessante no caminho. A edição contém várias dessas fotos, que, muito mais do que servir de ilustração, ajudam a contar a história. Outro recurso muito legal são palavras circuladas em certas páginas (como se tivessem sido assinaladas a caneta), numa espécie de mensagem cifrada, exatamente como no jogo que Oskar costumava fazer com seu pai.

O resultado é que, embora não tenha se tornado um dos meus livros favoritos, "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto" conseguiu deixar sua marca, mesmo competindo com as lembranças do filme. Isso não é pouca coisa.

“Se as coisas fossem fáceis de encontrar não valeria a pena encontrá-las”

Nota: 4/5

Nenhum comentário: