O LIVRO (A Festa de Babette)
Em
1871, na cidadezinha norueguesa de Berlevaag, surge uma mulher de cabelos
negros, pálida e com cara de adoentada, que desmaia à porta da casa das irmãs Martine e Philippa, portando uma carta de um velho amigo de ambas que pedia
para que as bondosas senhoras acolhessem a viajante desconhecida. Em troca de
abrigo, Babette, a recém-chegada,
ofereceria sua incrível habilidade de cozinheira.
Voltamos
alguns anos na história para conhecer certos fatos que foram fundamentais para
o destino das irmãs. Elas eram filhas do profeta protestante que fundou a
comunidade de Berlevaag e, na juventude, a beleza de ambas havia chamado a
atenção de muitos rapazes. No entanto, o profeta afastava qualquer pretendente,
dizendo que precisava das filhas assim como precisava de seus dois braços. Dessa
forma, após a morte do pai, Martine e Philippa assumiram a organização do
ofício religioso, dedicando suas vidas à caridade e em manter vivos os
princípios de sua religião que pregava a renúncia a todos os prazeres mundanos.
Acontece
que, às vésperas da comemoração do que seria o centésimo aniversário do
profeta, as irmãs, percebendo a desunião e os conflitos frequentes entre os
membros da congregação, decidem oferecer um jantar em homenagem ao falecido
pai, pretendendo, ainda, restaurar a boa convivência entre os fiéis. É nesse
momento, então, que Babette se oferece para preparar um legítimo jantar francês
(o que assusta tremendamente as irmãs, já que isso significava um lauto
banquete - o que ia contra o princípio de vida simples de sua fé). Como as
irmãs achavam que Babette estava prestes a retornar à sua terra natal,
consideram justo conceder esse pedido à cozinheira. E é então que o verdadeiro
dom de Babette vem à tona.
Fazia
tempo que eu queria assistir ao filme, e o livro já estava na minha estante há
um tempo. Quando montei minha lista de “Livros que Viraram Filmes” nem havia
cogitado ler essa história. Peguei o livro para ler por acaso, quando estava de
saída e meu mp3 quebrou. Como detesto ficar sem fazer nada no metrô, escolhi
aleatoriamente um livro, com base apenas no tamanho (a minha edição é pocket,
com 64 páginas apenas). Resultado: li quase o livro todo no trajeto e percebi
que poderia encaixá-lo no Desafio do
Skoob (e também no Desafio 12
Livros, 12 Receitas – amanhã tem receita dinamarquesa no blog!).
O
que me interessou na história é o fato de envolver comida. Acho que já disse
aqui que adoro histórias de cozinha. Mais do que o ato de comer, considero a
preparação dos pratos uma coisa mágica. E, em "A Festa de Babette", a magia acontece diante dos olhos
do leitor/espectador. A comida (e a bebida) é libertadora e conciliadora. Os
pratos preparados por Babette são puras obras de arte e alimentam corpo e alma.
Além
do aspecto da comida e seu poder transformador, o livro também aborda as
diferenças religiosas, de hábitos e de línguas (que Babette aprendeu a
contornar rapidamente), a promessa de felicidade após a morte (já que os
personagens quase sempre abrem mão de uma possível satisfação terrena com a
certeza de que serão recompensados na eternidade) e as diferentes perspectivas
sobre o que é ser “pobre” e sobre o que é valioso para um artista.
“Babette
chegara exaurida e com olhar esgazeado, como um animal sendo caçado, mas, em
seu novo ambiente de cordialidade, logo adquiriu a aparência de uma criada
confiável e respeitável. Antes, parecera uma mendiga; agora, mostrava-se uma
conquistadora. As feições serenas e o olhar firme e profundo tinham qualidades
magnéticas; sob seus olhos, as coisas se moviam, sem fazer ruído, para o lugar
apropriado."
Uma
história sobre gente simples, fé e transformação. Recomendo!
Sobre
o filme, não tenho muito o que falar. É extremamente fiel ao conto. As únicas
alterações que notei foram a troca de país (no livro a história se passa na
Noruega, enquanto no filme o cenário é a Dinamarca) e o povoado cinzento e sem
graça mostrado na tela, que não é nem de longe tão bonito quanto o que eu
imaginei ao ler (a descrição no livro fala de casinhas coloridas de madeira que
davam ao local um aspecto de cidade de brinquedo).
O
grande momento é, obviamente, o jantar e o desfile de pratos requintados,
harmonizados com as bebidas e apresentados de forma a tocar aos poucos cada
conviva, abrindo seus corações e mentes. Só a parte de preparação foi um pouco
aflitiva, com a tartaruga na prateleira e o depenamento e destrinchamento das
codornas. O livro, felizmente, não detalhava esses processos... rs
Pelos
mesmos motivos que recomendei o livro, também recomendo o filme.
Trailer legendado em inglês
8 comentários:
Oi!! Não conhecia o livro e o filme. Achei bem interessante!! Vc já leu "A escola de sabores"? É uma fofura!
Bjs
Não conhecia a história, fiquei curiosa, vou (pelo menos) procurar o filme pra assistir. Valeu pela indicação!
Li esse conto no livro "Anedotas do Destino", da Blixen, e achei muito bom, lírico, encantador mesmo. O filme nunca assisti, acho que desde criança vejo a chamada pra ele na tevê, mas nunca conferi... Por que será que mudaram o país no filme? Os textos da Blixen merecem ser conferidos!
Oiee vim visitar e seguindo ;)
Não conhecia nem o livro nem o filme, e fiquei curiosa, bem depois que você ficou fissura e terminou o livro no percurso do metro, creio que eu tenho que ver pelo menos o filme!!
Beliscões carinhosos da Máh ~~♥
Cantinho da Máh
@Maaria_Silvana
É um dos meus filmes favoritos, tenho o livro aqui em casa depois de seus comentários devo retirá-lo da pilha.
Faz tempo que eu comprei Anedotas do Destino justamente por causa desse conto e até agora não li. Parece ser muito bom. Deve despertar o apetite!
Flá,
Já li sim (em um LV, por sinal). Bem gostosinho também!
Jacy,
Veja sim (mas de barriga cheia ou com petiscos por perto...hahaha)
Bia,
Acho que nunca vi a chamada do filme na TV (ou será que esqueci?). Acho que mudaram o país no filme porque o diretor é dinamarquês e talvez tenha ficado mais à vontade falando de sua terra natal... ou porque quis usar o país de nascimento de Blixen. Vai saber!
Maria Silmara,
Juntou a vontade de conhecer essa história curta e um percurso razoavelmente longo e deu nisso ;)
Marta,
Tire sim! Depois me conte o que achou!
Flávia,
Nem me fale! Só de imaginar aquelas comidas já fiquei salivando. E olha que eu nem como metade dos pratos! hahaha
Já ouvi falar no filme, mas não sabia que havia um livro sobre o qual foi baseado. Jura que tem só 64 páginas? Curtinho. Deve ser bom de ler. E agora com essa resenha, aí que vou fazê-lo mesmo. :)
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