LIVRO: The Birds
Nat Hocken é um ex-veterano de guerra
com sequelas físicas que agora trabalha em uma fazenda executando atividades
leves. Ele mora com a esposa e dois filhos pequenos em um chalé no terreno de
seu empregador. De hábitos solitários e natureza contemplativa, ele está sempre
de olho no que acontece ao seu redor, especialmente agora, no outono, quando
se entrega à observação dos pássaros que migram para escapar do inverno. Nat
sabe que a migração outonal é diferente da que ocorre na primavera; é mais
agitada, barulhenta, tensa. Mesmo assim, este ano parece que as aves estão
agindo de um jeito estranho...
Quem
já viu “Os Pássaros”, do Hitchcock,
deve estar achando essa introdução meio diferente. Eu estranhei quando comecei a ler, mas,
agora que já sei que o diretor usa as histórias como uma ‘leve inspiração’ para
seus filmes, nem encano muito, e me preparo para conhecer uma trama
completamente distinta. E é exatamente o que temos em “The Birds”, o conto escrito por Daphne du Maurier.
Ao
contrário da loira platinada que estrela a adaptação nas telas, o protagonista
do livro é um homem comum, que aprecia as coisas simples da vida, que gosta de
observar a natureza, e é por isso que logo nota que os pássaros estão
inquietos, como se estivessem com uma fome constante, embora não comam, se
unindo em formações peculiares, criando ligações entre espécies que geralmente
não andam juntas. Eles apenas alternam momentos de agitação com outros de
espera infinita. Mas eles não deveriam estar voando para longe antes da chegada
do frio?
Os
bandos de pássaros começam a se amontoar nas árvores, nos telhados, nas cercas.
Nat vai ficando cada vez mais incomodado e apreensivo com esse comportamento
incomum, mas não sabe o motivo. E então as aves começam a atacar as pessoas e a
invadir as casas. Um relato aqui, outro ali... o que estaria levando os animais
a agirem assim? Seria fome? Frio? Não importa. Os ataques eram reais e mortais
e orquestrados por centenas, milhares de aves! Eles se jogavam contra portas e
janelas, muitas vezes morrendo no choque, mas logo atrás deles vinham outros, e
mais outros, e as madeiras e vidros enfim cediam, permitindo a entrada dos
invasores.
É
lógico que, no início, ninguém dá importância para alguns casos isolados. Nat,
tendo resistido à invasão de sua própria casa e lutado incansavelmente contra
as aves que avançavam com bicos e garras contra seus filhos, vai correndo
avisar aos patrões para se protegerem, mas, toda a história parecia absurda
demais para ser verdade. Resultado: quando Nat volta à casa principal no dia
seguinte, encontra apenas destruição e corpos despedaçados.
A
vantagem (se é que se pode usar essa palavra nessa situação) de Nat em relação
aos outros moradores é que ele é um cara vivido, que sabe como os diferentes
pássaros se comportam, e, além disso, tem conhecimento militar. Não demora
muito para ele perceber que os ataques seguem determinados padrões, e que os
bandos agem em uma escalada de potência. Ele aproveita os intervalos de
calmaria para reforçar as portas e janelas de sua casa, para sair em busca de
comida e outros itens de sobrevivência, e, durante as angustiantes horas dos
ataques, apenas se junta à esposa e aos filhos, tentando distrair os pequenos
dos sons de coisas quebrando e dos baques surdos dos corpos contra portas e
janelas. Pelo rádio, que logo deixa de transmitir notícias, ficam sabendo que a
cidade também sofria com os pássaros, e percebem as malogradas tentativas do
governo de deter os animais. O que resta então além de viver um dia de cada
vez?
Embora
curto, o texto é muito tenso e aflitivo. A forma como a autora descreve os
pássaros se juntando, esperando, observando e atacando é desesperadora. O
ambiente da casa de Nat, durante os ataques diários, é claustrofóbico e
aterrorizante. Assim como os moradores do chalé, eu ficava esperando que as
aves conseguissem invadir a sala de Nat a qualquer momento. Sem contar o peso
da incerteza de não saber até quando as barricadas aguentariam, até quando
durariam as provisões, até quando a mente resistiria à loucura da situação.
A
história acaba de forma bem abrupta. Não, não estou falando de final aberto
(que é o que temos no livro), mas de uma parada totalmente repentina. Isso me
incomodou um pouco (tanto que fui ver se não estavam faltando páginas no
conto), mas, por outro lado, entendo que não havia outra forma de encerrar a
trama. É como se a autora dissesse: ‘Bem, é isso. Imagine o que quiser daqui em diante.’ As minhas previsões para o pobre Nat e sua família não são nem um pouco
animadoras...
Achei
a história tensa, incômoda e angustiante. Tudo o que se pode esperar de um
suspense. Recomendo.
Melanie Daniels é uma moça bonita que
compra um par de periquitos para dar de presente à irmã de um cara em quem ela
está interessada. Devido a um contratempo, e como queria fazer surpresa, ela
acaba tendo que levar os pássaros pessoalmente até a casa do moço, que fica
numa cidadezinha isolada. Alguns acontecimentos fazem com que Melanie passe o
fim de semana todo no local. E coisas estranhas, envolvendo ataques de pássaros,
começam a acontecer.
Como
eu já disse, Hitchcock usa histórias originais apenas como inspiração para
seus filmes. Neste caso, a única coisa em comum com o livro é o fato de haver
ataques de pássaros a pessoas que não fazem ideia de por que viraram alvo.
Eu
tenho medo de pássaros, então essa história sempre me impressionou muito. No
fim de semana, aproveitei que o filme estava passando na sessão de Clássicos Cinemark, e fui conferir a produção em tela grande. Mesmo
com óbvias limitações técnicas, o filme ainda me deixa aflita e querendo me
esconder debaixo da poltrona. No entanto, ao refazer minha avaliação da
adaptação no Filmow, tive que
diminuir as estrelinhas.
No
começo da história, quando Melanie e
Mitch se encontram pela primeira
vez, em uma loja de animais, fica claro que já haviam se encontrado antes,
embora ela não se lembre imediatamente dele. Como ele esclarece pouco depois, o
encontro foi em um tribunal, e por algum motivo que não o deixa nada feliz.
Ele
menciona que queria comprar um casal de periquitos (não diz para quem), mas a
loja não tinha no momento. Depois que ele vai embora, ela decide encomendar as
aves para dar a ele. As coisas não saem bem como planejado, mas ela,
insistente, não se deixa abater. Vai até a cidadezinha onde ele mora (que ela
não conhecia), descobre que as aves eram para sua irmã mais nova, e, querendo
adulá-lo, presenteia a garota.
Não
vou me prender ao fato de que todos a ajudam (muito provavelmente porque ela é
bonita e porque a história se passa em uma outra época, quando as pessoas eram
mais amáveis e menos desconfiadas), mas tudo se desenrola muito facilmente. A
mudança de atitude de Mitch em relação a ela então... literalmente, de um dia
para o outro. Se bem que, diante da possibilidade de ter sua cara arrancada por
pássaros enfurecidos, por que não aproveitar para dar uns beijos, que talvez
sejam seus últimos na vida?
Enfim...
tirando o argumento fraco e as atitudes imbecis de alguns personagens (daquelas
clássicas de filmes de terror), o filme ainda consegue prender minha atenção e me
deixar tensa. E ainda leva a uma reflexão bacana sobre quem está do lado de
dentro e quem está do lado de fora da gaiola, sobre os seres humanos e seu
poder devastador sobre o planeta.
Mesmo
não sendo o melhor filme do Hitch, é claro que recomendo.
Este post faz parte do 'Hitchcock Reading Project'. A lista de livros e suas adaptações com as respectivas resenhas está AQUI.
Trailer original do filme (em inglês) com a apresentação irônica do filme pelo próprio diretor:
2 comentários:
Michelle, "Os Pássaros" foi o primeiro filme de Hitchcock que assisti, lá nos tempos do Cinema em Casa, no SBT (ainda passa?). Eu morria de medo. Morria mesmo. Não sabia que era baseado em um livro da Daphne. Ainda quero ler alguma coisa dela.
Beijo!
O conto parece ser muito bom, só de ler sua resenha já senti a tensão! Lendo seus posts do projeto, fiquei com vontade de fazer algo parecido, só que eu provavelmente levaria algumas décadas para terminar. :P
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