quinta-feira, 18 de junho de 2015

Resenha: Seda


Em meados do século 19, o negócio da seda estava no auge na França. Hervé Joncour é um dos bem-sucedidos comerciantes desse tecido tão belo e delicado, que agora enfrenta uma praga que mata todos os ovos de bicho-da-seda importados do Oriente Médio. A solução é sugerida por Baldabiou, o visionário que introduziu o negócio na região: mandar alguém comprar novos ovos no longínquo e misterioso Japão.

Hervé era um homem tranquilo que não se encaixava no exército, embora seu pai lhe garantisse que teria um grande futuro defendendo a nação. Apesar do desgosto do pai, ele faz fortuna ainda jovem no ramo da seda. Mas quando toda a comunidade que vive da produção do tecido se vê diante de uma crise, Baldabiou sugere que Hervé vá até o outro lado do mundo adquirir ovos que gerarão um produto de primeira. Mesmo inseguro e triste por ter que se separar da esposa amada, ele vai. E essa viagem muda sua vida para sempre.

Como é de se imaginar, a viagem naquele tempo levava semanas, meses. Além da distância e do cansaço, o protagonista enfrenta também o desafio de estar em terra estrangeira sem entender o idioma e sem conhecer ninguém. Para piorar, o trajeto é cheio de mistérios e encontros clandestinos, senhas e esperas. No entanto, do jeito que pode, Hervé consegue superar todos os obstáculos que surgem em seu caminho. Mas de uma armadilha imprevista, ele não consegue escapar: da hipnotizante mulher com rosto de menina que não tinha olhos rasgados.

Gosto muito de histórias que se passam no oriente. Independente de o exotismo ser real ou inventado, as tramas geralmente conseguem prender minha atenção. Quando li a sinopse de “Seda”, fiquei imediatamente interessada no livro. Apesar do olhar do escritor ser o de um estrangeiro observando encantado as peculiaridades de uma outra sociedade, não dá para negar que ele consegue captar as sutilezas e os enigmas daquele mundo. A força imagética da narrativa de Baricco é enorme, e o texto é cheio de simbolismos. Ainda que seja escrito em prosa, a linguagem do autor é poética, calcada nas sensações. E na sensualidade. A relação de Hervé com as mulheres que o cercam é sempre intensa, dolorosa, avassaladora.

O livro é bem curtinho, daqueles para ler numa sentada. Embora tenha 128 páginas, o espaçamento é grande, e o texto geralmente ocupa meia página. Esses vazios têm seu significado, mas, se fôssemos colocar toda a parte escrita em diagramação normal, acho que daria unas 70 páginas só. Porém, não se enganem. Por trás da aparente simplicidade está uma história que enreda o leitor tanto quanto os encantos enigmáticos da menina-mulher.

“A menina continuava a fitá-lo, com uma violência que arrancava de cada palavra dele a obrigação de soar inesquecível. O cômodo parecia agora resvalar para uma imobilidade sem volta quando, de repente, e de maneira absolutamente silenciosa, ela tirou uma das mãos de sob o vestido, fazendo-a deslizar sobre a esteira, diante de si. Hervé Joncour viu aquela mancha pálida se aproximar de seu campo visual, viu-a roçar a xícara de chá de Hara Kei e depois, absurdamente, continuar a deslizar até agarrar sem hesitação a outra xícara, que era inexoravelmente a xícara em que ele bebera, erguê-la levemente e tomá-la para si. Hara Kei não deixara nem por um segundo de fixar sem expressão os lábios de Hervé Joncour. A menina ergueu ligeiramente a cabeça. Pela primeira vez afastou os olhos de Hervé Joncour e os pousou na xícara. Lentamente, girou-a até que seus lábios estivessem precisamente sobre o ponto em que ele bebera. Entreabrindo os olhos, tomou um gole de chá. Afastou a xícara dos lábios. Tornou a pô-la onde a recolhera. Sua mão desapareceu sob o vestido. Voltou a apoiar a cabeça no colo de Hara Kei. Os olhos abertos, fixos nos de Hervé Joncour.”


Uma leitura rápida, porém arrebatadora. Mais que recomendada. Já quero ler outros livros do autor.

P.S. > Acabei de descobrir que tem um filme com o Michael-lindo-Pitt e com a Keira Knightley!! Saindo enlouquecida atrás de um torrent em 3, 2, 1...

2 comentários:

Pipa disse...

Ah, que lindo que você também se apaixonou por Baricco, é um dos meus escritores preferidos. Pode ler qualquer coisa dele, vale muito a pena :)
O filme é lindo, mas depois desse livro, acho que nada se iguala - depois me diz se gostou :)
beijo,
Pipa

Anônimo disse...

Interessante. Não conhecia o livro e tampouco o filme. Se a história por si só já é intrigante, com as aventuras e contratempos, imagina com o surgimento de uma mulher misteriosa... Olha, eu leria se tivesse oportunidade.

Bjs ;)