Um corpo aparece no mar de uma tranquila comunidade
japonesa. Diante do fato inusitado, dois adolescentes tentam desvendar o
mistério enquanto aprendem a lidar com questões de vida e morte.
Como boa parte dos filmes orientais, é bem
contemplativo, com poucas falas e imagens arrasadoras. Cheio de simbolismo e
reflexões. Para quem gosta, é um prato cheio! Decidi ver esse por acaso, ao ler
a sinopse na revista de programação da NET. Ao final, fiquei maravilhada e
feliz ao notar que a direção era de uma mulher. Opa! Mais um filme que se
encaixa no projeto #vejamaismulheres!
Kaito é um rapaz tímido, que sempre segue as regras e que
mora com a mãe (a quem pouco vê, já que ela passa grande parte do tempo no
trabalho). Guarda uma raiva reprimida da mãe por ela estar à procura de um novo
companheiro (mas prefere ignorar o fato de ter sido o pai a abandonar o lar em
busca da agitação da cidade grande). É ele quem encontra o corpo boiando no
mar.
Kyoko é uma moça alegre e destemida, disposta a
experimentar tudo o que a vida tem a oferecer. No entanto, sua mãe está
gravemente doente e prestes a morrer. Ao se deparar com a aproximação da morte
de alguém querido, ela começa a se questionar sobre escolhas, se enraivece
diante da 'injustiça' da morte, já que a mãe é uma xamã e, como tal, Kyoko
acredita que deveria ter certos privilégios quando o fim chega.
O bacana dessa história é ver como os dois jovens de
personalidade tão opostas se apoiam e se transformam ao longo da trama. Kyoko
tem uma maturidade enorme para tratar de questões sexuais e se impõe duramente
para fazer Kaito perceber o quanto estava sendo injusto com a mãe. Por outro
lado, é ele quem a ajuda a lidar com a raiva pela perda da mãe e a ver as
coisas como um ciclo - algo visivelmente marcado ali naquela ilha com estações
do ano bem demarcadas e onde a vida e a morte estão claramente interligadas e
são fundamentais para manter a harmonia.
Com um visual belíssimo, é um ótimo filme sobre
amadurecimento. Recomendo muito!
Nota: 4/5
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Sobre a diretora:
Naomi Kawase nasceu em Nara, no Japão, em 1969. Iniciou a carreira
como documentarista e seus filmes têm uma alta carga autobiográfica por abordarem
os tema de abandono pelo pai e morte dos pais. Oriunda de uma cultura voltada para o
coletivo, ela coloca em destaque os dramas individuais. Tem uma vasta
filmografia, iniciada em 1988, e "O segredo das águas" é seu 33o
trabalho.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres,criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
3 comentários:
Fiquei interessada!
Vi um filme da Naomi Kawase recentemente, "Shara", que, apesar de parado demais para o meu gosto, é muito bonito e me deixou com vontade de conhecer mais da obra da diretora. "O segredo das águas" parece muito bom. :)
Cláudia,
:)
Lígia,
Ela tem tantos filmes! Quero ver outros!
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