Antonia
retorna para seu vilarejo natal vinte anos depois de ter partido em virtude da
guerra. Com ela vai a filha Danielle, que gosta de pintar e esculpir. Como
estão acostumadas a viver na cidade grande, essas duas mulheres independentes e
de mentalidade aberta logo deixam os aldeões chocados. Aos poucos, elas vão
transformando o povoado, e Antonia vai passando para as várias gerações de
sua família seus genes revolucionários.
O
vilarejo em que se passa a história é cheio de personagens peculiares: o
filósofo pessimista que nunca sai de casa, a mulher que uiva nas noites de lua
cheia, a menina superdotada, a mulher que adora gerar filhos, etc. Os dias são
de trabalho pesado no campo, os domingos consistem em presença obrigatória na
missa, a rotina quase não muda. Até a chegada de Antonia.
A
força do filme está em sua protagonista e nas mudanças que ela provoca. Para
começar, ela acaba com estereótipos femininos: embora seja viúva, não quer se
casar; anos depois, vai propor encontros sexuais sem casamento ao mesmo homem
que havia se oferecido para ser seu marido; apoia a filha quando ela decide que
quer ter um filho, mas que não pretende se casar com ninguém – e vai com ela
até a cidade arranjar um “reprodutor”; respeita a fato de a neta não ser do tipo maternal; encara o rapaz que abusava sexualmente
da irmã. Além disso, aceita em sua casa qualquer um que precise de ajuda. E a
rede de amor que constrói vai transformando o povoado em um lugar mais feliz e
justo.
O
filme tem vários momentos impagáveis. Um dos meus preferidos é logo no início,
quando a protagonista chega ao povoado chamando a atenção dos homens, e sem
demora um deles se oferece para se casar com ela, afinal, ele era viúvo, ela
era viúva, e ele tinha quatro filhos que precisavam de mãe. À proposta, ela
responde simplesmente que eles podiam precisar de mãe, mas ela não precisava de
filhos... hahaha. O coitado do homem fica desnorteado. Como assim? Com Antonia,
a resposta vem sempre na lata.
Outro
momento que me fez rir foi quando a barriga de grávida de Danielle se torna
evidente e, na missa, o padre escolhe uma leitura daquelas que culpam as
mulheres por todas as desgraças do mundo, lançando indiretas para a moça. Só
que o safado é flagrado por Antonia transando com uma paroquiana e, na
celebração seguinte, o tom da pregação muda completamente, colocando a mulher
como o ser mais abençoado do planeta. Nada como julgar os pecados alheios
ignorando os próprios, não é mesmo?
Enfim...
o filme é delicioso e estava na minha lista há muito, muito tempo mesmo.
Felizmente a Cláudia Oliveira fez um post sobre ele para o #vejamaismulheres e finalmente assisti a essa produção conjunta de Holanda, Bélgica e
Inglaterra. Recomendo muito!
Nota:
4/5
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Sobre
a diretora:
Marleen Gorris nasceu em 1948 na Holanda. Ofereceu seu primeiro roteiro
à cineasta belga Chantal Akerman, que sugeriu que ela mesma o filmasse,
resultando em seu primeiro filme: “Uma
questão de silêncio”. Seus trabalhos são conhecidos pelo viés feminista e
de apoio a gays e lésbicas. Seu maior sucesso é “A excêntrica família de Antonia”, ganhador do Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro em 1995. Aliás, ela foi a primeira mulher a ganhar um Oscar nessa categoria.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
3 comentários:
Ainda não vi, vou baixar também!
Gente, lembrei da minha missa de formatura, tive que ler um trecho da bíblia bem assim mesmo, que colocava a culpa nas mulheres das desgraças todas do mundo. Eu saí pulando um monte de coisa hahahaha o padre ficou horrorizado e na homilia começou a me mandar indireta. Um dos grandes momentos da minha vida.
Beijos, Mi!
Não conhecia o filme, Michelle.
Vou começar a fazer esse projeto lá no blog. Achei incrível e tem tudo a ver com a minha pesquisa sobre a mulher no cinema.
Beijos,
Carissa
www.carissavieira.com.br
Tati,
Hahahaha... eu ri imaginando você pulando trechos e o padre mandando indiretas na formatura. Acho que você vai gostar desse filme. :)
Carissa,
Que bom que vai participar! Já aguardo posts :)
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