Lena é uma jovem que volta ao vilarejo onde nasceu depois de ter
passado dois anos em Moscou, fugindo da guerra. Em seu regresso, encontra
apenas resquícios da comunidade outrora festiva: casas dilapidadas, moradores
assustados com a violência, só velhos, mulheres e crianças como habitantes. A
recepção da avó não é das mais calorosas. As duas discordam em muitos aspectos,
mas o principal é que, enquanto a mais velha se recusa a partir, a mais nova
não vê motivos para ficar.
“O Farol” é um filme de silêncios, de sutilezas. Nada é dito com
todas as letras; só o que podemos fazer é supor. Lena não diz exatamente o que
a fez voltar, mas as possibilidades são apresentadas ao longo da projeção:
saudade de casa, necessidade de salvar os avós, vontade de voltar para o que
conhecia, dar à luz a um filho em sua terra natal. Pode ser por qualquer, todos
ou nenhum desses motivos. Não importa. Assim como também não importam vários
outros elementos do longa: quanto tempo transcorreu desde a chegada de Lena até
o desfecho do filme, se o desfecho em si é real ou imaginação, qual a
localidade exata do povoado – em se tratando de guerra, os horrores são sempre
muito parecidos.
Embora seja um filme curto, ele
demora a chegar ao fim. Não que seja ruim. Imagino que essa indefinição do
tempo e essa sensação de dias que se arrastam sejam intencionais, para
sinalizar a vida em suspensão e as incertezas sobre o futuro. Achei bem
interessante como a diretora construiu uma atmosfera de sonho (que às vezes
estava mais para pesadelo), mesclando lembranças de um passado feliz da
protagonista com o desalento do presente. A costura das cenas desesperadoras interpretadas dos moradores tentando pegar o último trem para fugir da guerra com imagens
reais recuperadas de arquivos consegue intensificar e tornar mais palpável
aquela situação degradante.
Por definição, um farol serve para
mostrar um caminho para os navegantes perdidos em alto-mar. No filme,
os moradores do vilarejo são impedidos de buscar um caminho que os leve para
longe da guerra; a luz do farol serve apenas para iluminar suas almas e dar a
eles força para que consigam se adaptar e seguir vivendo em meio ao caos.
Achei válido pela proposta visual
diferente e por ser um dos raros representantes do cinema produzido pela
Armênia.
Nota: 3/5
*************************
Sobre a diretora:
Mariya Saakyan nasceu em 1980 na ex-União Soviética (atual Armênia) e é roteirista, montadora e
diretora. “O Farol” foi seu primeiro
longa-metragem, inspirado parcialmente nas memórias da diretora, que também
deixou sua terra natal por causa dos conflitos no Cáucaso dos anos 90 e foi
para Moscou estudar. O filme também é importante por ser o primeiro dirigido
por uma mulher na Armênia desde os primórdios da indústria cinematográfica
daquele país, nos anos 20.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
3 comentários:
Mais um para a lista.
É incrível como eu não conheço esses filmes que você tem indicado no projeto.
Beijos,
Carissa
www.carissavieira.com.br
Carissa,
Eu tenho descoberto muita coisa com o projeto também. Isso é o mais bacana :)
Nossa parece interessante este filme! *-* Quero ver. Obrigada por compartilhar sobre este filme.
Postar um comentário