Sheila (Drew
Barrymore) e Joel (Timothy Olyphant) são casados e
trabalham como corretores imobiliários. Um dia, durante a exposição de uma casa
a possíveis compradores, Sheila passa mal e vomita no carpete novinho do
imóvel. Enquanto o marido conduz os clientes a outros cômodos, ela se tranca no
banheiro e vomita. E vomita. E vomita. Joel a leva ao pronto-socorro, onde
passam horas sem ser atendidos, e depois vão para casa. E é então que ele descobre
que a esposa está... morta.
‘Santa Clarita Diet’ é uma série de
comédia e terror, um ‘terrir’ se preferirem. Definitivamente, não é para
qualquer pessoa, mas aqueles que se aventurarem vão se divertir muito, sem
dúvida. Só não recomendo assistirem na hora das refeições (que foi o meu caso)
porque a cena de vômito é realmente nojenta. As imagens de canibalismo e
estripamento não me afetam, mas com vômito é difícil lidar.
Mas
voltando à história... Joel fica preocupado e tenta descobrir o que está
acontecendo com a esposa. A resposta vem de onde menos esperam: da boca do
vizinho nerd, que afirma categoricamente que Sheila é um zumbi. E que
deve se alimentar constantemente para manter sua impulsividade sob controle. O
problema, como eles logo descobrem, é que agora ela só consegue comer carne
humana fresca. Algo ‘fácil' de conseguir, não é mesmo?
Se,
por um lado, a escolha do 'prato do dia' e seu 'preparo' é uma tarefa
complicada (e divertidíssima, já que Sheila e Joel são novatos na arte da
matança) e gera certos conflitos morais entre o casal, por outro, a mudança de
comportamento de Sheila é benéfica para ela. Ao contrário do que normalmente
acontece em histórias de zumbis, ela não fica mais lerda nem abobalhada; ela
ganha mais energia e mais força física, sua libido aumenta, ela se sente mais
confiante e passa a impor mais suas vontades (e também começa a xingar mais, o
que não é bem uma vantagem, mas é engraçado).
O
interessante na série é que, por trás de uma história de zumbi engraçada,
assuntos sérios são abordados. Como o relacionamento familiar, por exemplo. A
transformação de Sheila altera drasticamente a rotina da família, mas acaba
aumentando a cumplicidade entre mãe e filha e fortalecendo os laços entre
marido e esposa. Com leveza, o programa brinca com os estereótipos de masculino
e feminino, já que é Sheila a criatura feroz, mas sempre atribuem a violência e
os assassinatos a Joel. Ele, aliás, sente sua masculinidade ferida em alguns
momentos, quando é chamado de 'banana' por ficar com a parte fácil do trabalho ou quando a esposa passa a exigir mais e mais sexo e ele se sente cansado.
A
série mostra ainda o quanto as aparências enganam. Quem vê a família de fora
pode achar que tudo está bem, mas só eles sabem o que estão enfrentando. E há
os pequenos segredos que todos guardam e que, em algum ponto, acabam gerando problemas. Além disso, o próprio nome da série já dá uma cutucada no American way of life supostamente
perfeito nos subúrbios ensolarados da Califórnia, onde os gramados são sempre
verdes e as esposas sempre sorridentes e dispostas às maiores loucuras para
manter a forma (e, de novo, as aparências). Para mim, o programa é uma mistura
de 'Weeds' (que brincava exatamente
com essa falsa perfeição dos subúrbios) com 'A mão assassina' (um filme tosco dos anos 90 que tem a mesma pegada de terror
com humor e um morto que não está morto de fato).
'Santa Clarita Diet’ é uma série
divertidíssima e viciante. Com 10 episódios de vinte e poucos minutos e
personagens cativantes, é muito fácil sentar e acompanhar o desenvolvimento da
trama. Essa primeira temporada termina com um gancho, e uma continuação seria
justificável e muito bem-vinda. Pode encomendar a temporada 2, Netflix!
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