sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Veja Mais Mulheres: Filmes #1 e #2 - Toni Erdmann / A 13a Emenda

Eu tinha planejado iniciar o #vejamaismulheres deste ano fazendo um post sobre as pioneiras do cinema e tal. Mas janeiro e fevereiro são sempre meses que dedico ao Oscar. Mesmo dizendo que a cada ano gosto menos dos indicados, não consigo deixar de assistir. Pelo menos os de outras categorias que não a principal (essa realmente me desanima). Enfim... decidi então começar o projeto falando de duas produções dirigidas por mulheres que concorrem ao Oscar este ano: Toni Erdmann (indicado a Melhor Filme Estrangeiro) e A 13ª Emenda (indicado a Melhor Documentário). Vamos lá então!


Filme #1: Toni Erdmann (Toni Erdmann – Alemanha, 2016)
Ines é uma executiva que está sob grande pressão para fechar um negócio importante. Às vésperas de sua partida para a Romênia, ela vai à reunião familiar de bota-fora e de comemoração antecipada de seu aniversário, mas passa o tempo todo ao celular, evitando contato com os convidados. Winfried, seu pai, é um sujeito simples e brincalhão, o que irrita muito Ines. Percebendo que a filha se afasta cada vez mais dele, Winfried embarca atrás dela e a surpreende em seu ambiente de trabalho, achando que essa era uma boa forma de se aproximar, mas sua intrusão acaba piorando ainda mais as coisas.

Há muitos aspectos a se considerar nesse filme. Para começar, o comportamento de Ines com respeito aos parentes. É compreensível o nervosismo dela por causa do trabalho, bem como a importância que ela dá à sua vida profissional, colocando-a acima das relações familiares. Ela é jovem e busca seu lugar no mundo. Mas isso não quer dizer que ela precise ser tão grossa com todos que a querem bem. No que tange ao seu relacionamento com o pai, ela é bem dúbia. Ao mesmo tempo em que tem vergonha dele devido ao seu jeitão largado e à sua natureza brincalhona, ela às vezes surpreende ao convidá-lo para eventos do trabalho e, ao perceber que ele realmente tem carisma, se aproveita disso na esperança de facilitar sua negociação com os clientes.

Winfried também é um personagem complicado. Senti grande empatia por ele, por sua intenção verdadeira de fazer a filha relaxar e perceber que a vida vai muito além do ambiente corporativo. Só que entendi a exasperação dela quando ele aparecia de surpresa nas reuniões de trabalho dela e começava a fazer piadas e imitações – isso poderia, de fato, prejudicá-la. E, ao contrário dos convidados, não achei as gracinhas dele tão engraçadas assim. A intenção podia ser boa, mas a abordagem era muito inconveniente.

No geral, é uma história bacana sobre uma relação conflituosa entre pai e filha e como eles conseguem se reconectar, mesmo com altos e baixos. Adorei a cena em que Ines e o pai cantam juntos e quando ela surpreende os colegas de trabalho com a festa dos pelados, invertendo o conceito de "vestir a camisa da empresa". Achei divertido e inteligente. No entanto, achei duas horas e meia de filme tempo demais. Isso acabou prejudicando um pouco o resultado final.
[Indicado ao Oscar 2017 na categoria Melhor Filme Estrangeiro]

Nota: 3/5

Sobre a diretora:

Maren Ade é uma roteirista, produtora e diretora alemã. Ela começou dirigindo curtas-metragens ainda adolescente, ingressando posteriormente no curso de cinema e TV da Universidade de Munique. Em 2001, fundou a produtora Komplizen Film com a colega de faculdade Janine Jackowski. Ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Sundance 2005 por seu primeiro longa-metragem, A floresta para as árvores. Em 2009, ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim com o filme Todos os outros. Toni Erdmann é seu filme mais recente e ganhou o prêmio de Melhor Filme Europeu em 2016.

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Filme #2: A 13ª Emenda (13th – Estados Unidos, 2016)

O documentário mostra como uma brecha na interpretação da 13ª emenda à Constituição dos Estados Unidos permite que detentos sejam submetidos a trabalho forçado e à escravidão, e como essa brecha permite que inocentes, em sua maioria negros, sejam mandados para a prisão pelos motivos mais banais. Estudiosos, ativistas e políticos são entrevistados e dão seus pontos de vista em uma tentativa de entender melhor como tudo começou e como isso afeta a sociedade americana.


Em certo momento, o polêmico filme ‘O nascimento de uma nação’, de 1915, é usado para exemplificar como surgiram alguns estereótipos relacionados aos negros (que são mais violentos e bestiais, que estupram as mulheres brancas) que continuam assombrando os cidadãos americanos até hoje e que são constantemente alimentados pelas políticas de combate à criminalidade que acabam estimulando o medo e o ódio, mas que têm pouco efeito prático.

Estranhamente (e com pesar), o filme de referência permanece atual, e algumas cenas da obra de Griffith ainda são reproduzidas nas ruas americanas. Imagens assustadoras comparando um cidadão negro sendo acossado por brancos no filme e de uma moça negra sofrendo tratamento parecido em um comício realizado durante as últimas eleições nos EUA corroboram a teoria de que pouca coisa mudou.

‘A 13ª emenda’ é um filme importante, que traz dados perturbadores sobre as prisões americanas, a administração de complexos penitenciários terceirizados, grupos de multinacionais votando diretamente em projetos de lei de acordo com seus interesses e muito mais. É estranho conhecer os bastidores do sistema prisional americano, principalmente com imagens das rebeliões em presídios brasileiros bem recentes na memória. Ver o quanto a ideia de eficiência que as prisões americanas passam é distorcida preocupa, desanima, revolta. Não que eu achasse que fosse realmente tão idílico quando as notícias mostram, mas é aquela coisa... a grama do vizinho é sempre mais verde, né? Então percebemos que é mais verde porque é sintética. E ficamos sem saber o que pensar, diante de nossa grama ressecada e cheia de falhas.
[Indicado ao Oscar 2017 na categoria Melhor Documentário]

Nota: 4/5

Sobre a diretora:

Ava DuVernay é uma publicitária, roteirista e diretora nascida na Califórnia, Estados Unidos. Seu primeiro trabalho como diretora foi o documentário This is life, de 2008. Ela ganhou o prêmio de Melhor Direção no Festival de Sundance 2012 com seu segundo trabalho, Middle of Nowhere, sendo a primeira mulher afro-americana a receber essa premiação. Em 2014, ela foi a primeira diretora negra a ser indicada ao Globo de Ouro de Melhor Direção pelo filme Selma. Ela é fundadora do AFFRM, movimento que tem o intuito de incentivar a produção e a distribuição de filmes independentes de diretores negros.

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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação deste segundo ano do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Para ver o post de apresentação do primeiro ano do projeto com a lista de filmes e links, clique AQUI.

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