Eu
tinha planejado iniciar o #vejamaismulheres deste ano fazendo um post sobre as
pioneiras do cinema e tal. Mas janeiro e fevereiro são sempre meses que dedico
ao Oscar. Mesmo dizendo que a cada ano gosto menos dos indicados, não consigo
deixar de assistir. Pelo menos os de outras categorias que não a principal
(essa realmente me desanima). Enfim... decidi então começar o projeto falando
de duas produções dirigidas por mulheres que concorrem ao Oscar este ano: Toni Erdmann (indicado a Melhor Filme
Estrangeiro) e A 13ª Emenda (indicado
a Melhor Documentário). Vamos lá então!
Filme #1: Toni Erdmann (Toni Erdmann – Alemanha, 2016)
Ines
é uma executiva que está sob grande pressão para fechar um negócio importante.
Às vésperas de sua partida para a Romênia, ela vai à reunião familiar de
bota-fora e de comemoração antecipada de seu aniversário, mas passa o tempo
todo ao celular, evitando contato com os convidados. Winfried, seu pai, é um
sujeito simples e brincalhão, o que irrita muito Ines. Percebendo que a filha
se afasta cada vez mais dele, Winfried embarca atrás dela e a surpreende em seu
ambiente de trabalho, achando que essa era uma boa forma de se aproximar, mas
sua intrusão acaba piorando ainda mais as coisas.
Há
muitos aspectos a se considerar nesse filme. Para começar, o comportamento de
Ines com respeito aos parentes. É compreensível o nervosismo dela por causa do
trabalho, bem como a importância que ela dá à sua vida profissional,
colocando-a acima das relações familiares. Ela é jovem e busca seu lugar no
mundo. Mas isso não quer dizer que ela precise ser tão grossa com todos que
a querem bem. No que tange ao seu relacionamento com o pai, ela é bem dúbia. Ao
mesmo tempo em que tem vergonha dele devido ao seu jeitão largado e à sua
natureza brincalhona, ela às vezes surpreende ao convidá-lo para eventos do
trabalho e, ao perceber que ele realmente tem carisma, se aproveita disso na
esperança de facilitar sua negociação com os clientes.
Winfried
também é um personagem complicado. Senti grande empatia por ele, por sua
intenção verdadeira de fazer a filha relaxar e perceber que a vida vai muito
além do ambiente corporativo. Só que entendi a exasperação dela quando ele
aparecia de surpresa nas reuniões de trabalho dela e começava a fazer piadas e
imitações – isso poderia, de fato, prejudicá-la. E, ao contrário dos
convidados, não achei as gracinhas dele tão engraçadas assim. A intenção podia
ser boa, mas a abordagem era muito inconveniente.
No
geral, é uma história bacana sobre uma relação conflituosa entre pai e filha e
como eles conseguem se reconectar, mesmo com altos e baixos. Adorei a cena em que Ines e o pai cantam
juntos e quando ela surpreende os colegas de trabalho com a festa dos pelados,
invertendo o conceito de "vestir a camisa da empresa". Achei
divertido e inteligente. No entanto, achei duas horas e meia de filme tempo
demais. Isso acabou prejudicando um pouco o resultado final.
[Indicado ao Oscar 2017 na categoria Melhor
Filme Estrangeiro]
Nota:
3/5
Sobre
a diretora:
Maren Ade é uma roteirista, produtora e
diretora alemã. Ela começou
dirigindo curtas-metragens ainda adolescente, ingressando posteriormente no
curso de cinema e TV da Universidade de Munique. Em 2001, fundou a produtora Komplizen Film com a colega de faculdade Janine Jackowski. Ganhou o prêmio
especial do júri no Festival de Sundance
2005 por seu primeiro longa-metragem, A floresta para as árvores. Em 2009,
ganhou o Urso de Prata no Festival de
Berlim com o filme Todos os outros. Toni Erdmann é seu
filme mais recente e ganhou o prêmio de Melhor Filme Europeu em 2016.
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Filme #2: A 13ª Emenda (13th – Estados Unidos, 2016)
O
documentário mostra como uma brecha na interpretação da 13ª emenda à
Constituição dos Estados Unidos permite que detentos sejam submetidos a
trabalho forçado e à escravidão, e como essa brecha permite que inocentes, em
sua maioria negros, sejam mandados para a prisão pelos motivos mais banais.
Estudiosos, ativistas e políticos são entrevistados e dão seus pontos de vista
em uma tentativa de entender melhor como tudo começou e como isso afeta a
sociedade americana.
Em
certo momento, o polêmico filme ‘O nascimento de uma nação’, de 1915, é usado para exemplificar
como surgiram alguns estereótipos relacionados aos negros (que são mais
violentos e bestiais, que estupram as mulheres brancas) que continuam
assombrando os cidadãos americanos até hoje e que são constantemente
alimentados pelas políticas de combate à criminalidade que acabam estimulando o
medo e o ódio, mas que têm pouco efeito prático.
Estranhamente
(e com pesar), o filme de referência permanece atual, e algumas cenas da obra de Griffith
ainda são reproduzidas nas ruas americanas. Imagens assustadoras comparando um
cidadão negro sendo acossado por brancos no filme e de uma moça negra sofrendo
tratamento parecido em um comício realizado durante as últimas eleições nos EUA
corroboram a teoria de que pouca coisa mudou.
‘A
13ª emenda’ é um filme importante, que traz dados perturbadores sobre
as prisões americanas, a administração de complexos penitenciários
terceirizados, grupos de multinacionais votando diretamente em projetos de lei
de acordo com seus interesses e muito mais. É estranho conhecer os bastidores
do sistema prisional americano, principalmente com imagens das rebeliões em
presídios brasileiros bem recentes na memória. Ver o quanto a ideia de
eficiência que as prisões americanas passam é distorcida preocupa, desanima,
revolta. Não que eu achasse que fosse realmente tão idílico quando as notícias
mostram, mas é aquela coisa... a grama do vizinho é sempre mais verde, né? Então
percebemos que é mais verde porque é sintética. E ficamos sem saber o que
pensar, diante de nossa grama ressecada e cheia de falhas.
[Indicado ao Oscar 2017 na categoria Melhor
Documentário]
Nota:
4/5
Sobre
a diretora:
Ava DuVernay é uma publicitária,
roteirista e diretora nascida na Califórnia, Estados Unidos. Seu primeiro trabalho como diretora foi o
documentário This is life, de 2008. Ela ganhou o prêmio de Melhor Direção no
Festival de Sundance 2012 com seu
segundo trabalho, Middle of Nowhere, sendo a primeira mulher afro-americana a
receber essa premiação. Em 2014, ela foi a primeira diretora negra a ser
indicada ao Globo de Ouro de Melhor
Direção pelo filme Selma. Ela é fundadora do AFFRM, movimento que tem o intuito de
incentivar a produção e a distribuição de filmes independentes de diretores negros.
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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação deste segundo ano do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Para ver o post de apresentação do primeiro ano do projeto com a lista de filmes e links, clique AQUI.
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