Eu estava atualizando os marcadores de vários posts e, por algum motivo, esta postagem maravilhosa sumiu. Enfim, resgatei o texto e posto aqui de novo porque um dos meus filmes favoritos da vida não pode ser eliminado do meu histórico do blog por força do acaso. 'Amor' foi indicado (e vencedor) na categoria Melhor Filme Estrangeiro de 2013. Quem ainda não viu, vai atrás porque é lindo demais.
Bombeiros
arrombam a porta de um apartamento e encontram uma senhora morta deitada na
cama coberta de pétalas de flores, vestida e posicionada como se estivesse em
um caixão. Corta para um concerto de piano em que vemos essa mesma senhora
sentada na plateia, emocionada com a apresentação. Algumas cenas adiante, vemos
a senhora voltando para casa com seu marido, conversando. Na manhã seguinte,
enquanto o casal toma o café da manhã, ela sofre um derrame.
Conhecido
por seu estilo cru e violento (como nos excelentes Violência Gratuita e A Fita
Branca, - já falei de ambos AQUI), o diretor Michael Haneke escolheu um tema que, à primeira vista, pode parecer
destoante de sua filmografia: o amor. No entanto, logo percebemos que o filme
combina perfeitamente com as demais histórias, já que o "amor"
mostrado nesta nova obra passa bem longe do ideal romântico invocado por tal
palavra. O amor de Haneke é aquele que envolve doação, paciência, sacrifício...
aquele que consta nos votos de “fidelidade na saúde e na doença, até que a
morte os separe”, alegremente proferidos no altar, mas que, na prática, é
muitas vezes esquecido.
A
câmera de Haneke fica grudada nos protagonistas o tempo todo e mostra como
nossa vida pode virar de pernas para o ar em um segundo, passando de uma vida confortável
e boa para a desordem e o caos. É comovente ver como Georges (Jean-Louis Trintignant)
se dedica à esposa, Anne (Emmanuelle Riva), é triste ver como
ela passa a depender cada vez mais de outras pessoas, é assustador ver como ela
tenta livrar o marido do fardo de sua doença.
“Amor” é um filme cruel e violento,
sim. Infelizmente, é o tipo de violência contra o qual não temos armas para
lutar: nossa fragilidade e finitude como ser humano. É, pelo menos para mim, um
dos maiores temores. Não a morte em si, mas a perda da autonomia, a dependência
de terceiros. Acho que a única coisa que alguém nas mesmas condições de Anne
poderia desejar é um companheiro tão amoroso e verdadeiramente apaixonado
quanto Georges, alguém disposto a dar a última e mais difícil prova de amor que
alguém poderia pedir. Lindo e absurdamente triste.
5 comentários:
Não deve ser um filme fácil de ver, mas, ao mesmo tempo, é interesse se deixar levar por um olhar próximo porque real do processo de morrer. Quero ver! Bjs
Nossa, é incrível como sempre me comovo com suas resenhas de filmes por aqui. Adorei a forma como você descreveu a história, principalmente o relato sobre a finitude da vida. Você escreve de uma forma tão poética sobre algumas coisas, adoro ler!
Eu acho que não seria "forte" o suficiente pra ver esse filme, apesar de achar que ele poderia fazer mudanças enormes em mim! Vou pensar sobre a dica.
Beijos.
Vivi,
Não é fácil mesmo. Muito angustiante. É duro ver o sofrimento alheio porque neste caso é muito fácil se colocar no lugar dos outros (tanto da senhora doente quanto do marido). Respire fundo e assista!
Gabi,
Realmente, não dá para não se emocionar e não sair pelo menos um pouco transformada da sessão. Recomendo muito!
Tô com os dois filmes do Haneke aqui (A Fita Branca e Violência Gratuita), mas ainda não vi (kill me).
Quero MUITO ver "Amor", me interessei assim que vi o poster, e agora que li sua resenha, deu mais vontade ainda! XD Deve ser mesmo muito interessante ver essa forma diferente do amor que não estamos acostumados, que ninguém fala, na verdade. :/
bjões!
Raíssa,
Para tudo e vai ver esses filmes AGORA! Virei fã do Haneke por causa deles. Depois conta se gostou ;)
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