A protagonista é uma mulher casada que tem um bebê de seis meses. Ela mora com o marido, o filho e o cachorro numa casa isolada de interior. Sem contato com outras pessoas e sobrecarregada pelos afazeres domésticos e pelos cuidados incessantes com a criança, ela se sente exausta, frustrada, sozinha, enraivecida e cheia de sentimentos conflituosos. Um retrato realista e cruel da maternidade e de uma mulher que sofre por sentir que não se enquadra no papel idealizado e imposto de esposa amável, dona de casa perfeita e mãe carinhosa e exemplar. Um mergulho na mente confusa dessa personagem. Muito bom.
“Quero ir ao banheiro desde que acabou o almoço, mas é impossível fazer qualquer coisa além de ser mãe. E dá-lhe choro, chora, chora, chora, vou ficar doida. Sou mãe, pronto. Eu me arrependo, mas nem posso dizer. Para quem. Para ele, sentado nos meus joelhos, metendo a mão no meu prato com seus restos frios, brincando com o osso da galinha? Não! Deixa isso que você engasga. Jogo um biscoitinho para ele. Ele me devolve. Tenho a boca cheia de sua saliva, de migalhas. Tenho tomate grudado no braço. Não o deixo terminar e lhe meto outro biscoito, ele se entala. Não me preocupo com o que possa pensar de mim. Eu o trouxe ao mundo, já é o suficiente. Sou mãe em piloto automático. Choraminga e é pior que o choro. Eu o levanto, lhe ofereço um sorriso falso, aperto os dentes. Mamãe era feliz antes do bebê.”
Nota: 4/5
(publicado originalmente no Instagram em 21 de julho de 2021)
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