quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Resenha: Os Outros Dois


Alice Waythorn, que já foi Alice Haskett e Alice Varick, está em seu terceiro casamento. Das uniões anteriores ela traz uma filha pré-adolescente e o domínio da arte da maleabilidade. Quando pouco depois do mais recente matrimônio a garota adoece e passa a receber visitas do pai (o primeiro marido de Alice), o Sr. Waythorn se vê numa situação desagradável, piorada quando o destino o faz assumir, no trabalho, o caso do segundo ex da esposa.

Waythorn é um sujeito de boa posição social e sabia dos comentários maldosos sobre o passado de Alice (afinal, imaginem só... dois casamentos, numa história publicada em 1904), mas nunca os levou muito a sério, encantando com o jeito espontâneo e a alegria dela. Nunca se interessou em saber mais sobre os ex-maridos. Mas quando começa a lidar com eles, Waythorn vai percebendo como eram bem diferentes entre si e como não tinham nada a ver com o seu jeito de ser. E o que passa a incomodá-lo nem é tanto o fato de ela já ter sido casada, mas como ela foi se moldando às personalidades dos homens com quem se casara.

É engraçado como o juízo de Waythorn sobre a esposa vai mudando ao longo do texto. De mulher cheia de vida e atrativos para pessoa sem vontades próprias; sua amabilidade deixa de ser algo positivo e passa a ser um defeito. No início, ele compara a esposa a um consórcio, em que cada um dos homens em questão tem uma quota, e isso o deixa irritado. Mas depois ele reavalia a capacidade de adaptação de Alice e começa a considerá-la um bom negócio, tratando toda a situação em termos contábeis e achando-se até em dívida com os ex-maridos. Todas as suas reflexões até deduzir que a esposa era uma artista valiosa são muito divertidas.

“Se pagava pelo conforto de cada dia com os trocados de suas ilusões, passou a valorizar mais o conforto diariamente, e a colocar menos importância na moeda (...) Começou até mesmo a contabilizar as vantagens acumuladas a partir dela, a se perguntar se não era melhor possuir um terço de uma mulher que sabia fazer um homem feliz do que o todo de uma que não tivera a oportunidade de adquirir a arte.”

Nota: 4/5

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