sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Série: Outcast


Nos primeiros segundos da série vemos um garoto no banheiro encarando uma barata que sobe pela parede. Ele se aproxima lentamente do inseto e então o mata com uma baita cabeçada, que faz sua testa começar a sangrar. Em uma espécie de transe, ele começa a espalhar o sangue com os dedos. Corta para a cena dele pegando um saco de salgadinho na cozinha enquanto a mãe discute com a irmã na sala. A mãe fala para ele guardar o pacote e ele segue dizendo que está com muita fome, mas então, notando o filho ensanguentado e estranho, ela vai buscar o reverendo. Como descobrimos pouco depois, o menino está possuído.


Confesso que o que me fez ter vontade de ver essa série foi justamente essa cena inicial. É incrivelmente perturbadora e sugestiva de uma boa história (pelo menos é o que eu esperava). Mas vamos à linha geral do programa: Kyle Barnes é um cara zicado – sua mãe foi possuída quando ele era criança e sua esposa também serviu de hospedeira para o mal, o que resultou na internação da mãe em estado semivegetativo e no abandono pela esposa, que foge levando a filha do casal com medo da agressividade do marido. Assim, Kyle é um poço de culpa e passa os dias largado no sofá enchendo a cara.


Quando o garoto da cena inicial é possuído, Kyle fica sabendo e, mesmo tentando manter distância, acaba indo até a casa dar uma espiada. Encontra o Reverendo Anderson sofrendo para exorcizar o capeta do corpo da criança e, num ímpeto, tenta ajudar. Sem saber exatamente como, ele termina por arrancar as trevas de dentro do menino. Lembranças de sua infância perturbada e do dia terrível em que encontrou a esposa quase estrangulando a filha começam a voltar à sua mente e ele, de repente, acha que talvez auxiliar o reverendo em outros exorcismos possa lhe dar algumas respostas e lhe trazer paz. Está formada, então, a dupla do cético atormentado e do religioso que também não tem tanta fé assim.


Embora a série seja classificada como terror e trate do sobrenatural e de possessões, do segundo episódio em diante essas características dão lugar ao drama, já que passamos a conhecer melhor cada personagem, seu passado e seus dilemas. A pequena cidade de Rome, com seus cinco mil e poucos habitantes, parece esconder um enorme segredo por trás de suas ruas tranquilas e gramados bem cuidados. Começam a surgir muitas questões e o espectador sabe tanto quanto alguns personagens, que veem coisas inexplicáveis acontecendo e não sabem a quem recorrer, já que o reverendo, em determinado momento, passa a agir de forma estranha e deixa de ser o baluarte da comunidade, e sua associação com Kyle não é bem vista, pois ele é o pária que bateu na esposa e agrediu a mãe deixando-a inválida.


O clima parece que vai esquentar pra valer nos dois últimos episódios, e então a temporada termina (a segunda já está confirmada). Apesar de achar que podiam ter enrolado menos, gostei da série porque ela mostra que nem tudo de ruim que acontece tem o dedo do diabo (ou de outra entidade maligna qualquer). Muitas vezes, as atrocidades que testemunhamos com indignação e repugnância são fruto da maldade humana pura e simples. Achei interessante também como a série mostra que determinadas atitudes são mal interpretadas, que as pessoas julgam sem saber o que motivou certas ações, que entre o preto e o branco há muitas nuances. 


“Outcast” é baseada em uma série de HQ lançada em 2014 por Paul Azaceta e Robert Kirkman, mais conhecido como roteirista da HQ/série de TV The Walking Dead. Mesmo antes dos gibis chegarem às lojas, o piloto do programa já havia sido desenvolvido e os direitos haviam sido adquiridos nos Estados Unidos, em 2013, pelo canal Cinemax, que produziu o show. No resto do mundo, a exibição de Outcast ficou a cargo da Fox.

Estou bem curiosa para ver a continuação. Até lá, só me resta controlar a ansiedade assistindo a uma das diversas séries que acompanho.

Nota: 3,5/5

Trailer legendado:

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