Camundongos
aristocratas levam o retrato de uma garota às criaturas que moram no carvalho e
encomendam uma boneca. As criaturas, uma espécie de corvo com orelhas, atendem
a encomenda com perfeição, mas acabam se apaixonando por sua criação e se
recusam a entregá-la. Os camundongos vão até o carvalho uma noite e roubam a
boneca. Os corvos com orelhas então partem em uma jornada para recuperar o
objeto da disputa.
Descobri
esse filme por acaso, enquanto tentava escolher uma animação que tivesse um
clima sombrio para resenhar nesta semana que combina o Dia das Crianças com o terror do #MesDoArrepio. Embora minha intenção fosse escrever sobre um filme
infantil, fiquei tão encantada com “Blood
Tea and Red String” que burlei minha própria regra para falar sobre ele –
uma espécie de conto de fadas para adultos.
O
visual do filme é lindo demais. Filmado em película de 16 mm, cada quadro
captura em detalhes os cenários e os personagens com suas cores vivas e
texturas. A história prende a atenção do início ao fim, ainda que deixe muitas
lacunas para serem preenchidas pelo espectador. Está mais para uma experiência
sensorial, uma obra de arte mesmo. Os símbolos podem ser interpretados de
várias formas.
Num
nível mais superficial, o que dá para notar é que os camundongos são mais do
tipo hedonista, que passam o dia jogando cartas, tocando, dançando e bebendo
chá de sangue – eles sugam o sangue das demais criaturas e não fazem nada. Já
os corvos são seres trabalhadores que cuidam do jardim e se preocupam com as
demais criaturas. Eles são aqueles que dão vida às coisas, que cultivam o belo
e a simplicidade. O fio vermelho é uma espécie de linha da vida, que costura, amarra, une um ser vivo ao outro.
Observando
os outros trabalhos da artista, dá para notar que corvos e bonecas são uma
presença constante em suas obras. Segundo ela mesma, os corvos são seu alter ego
e são retratados sempre como protetores. Já a boneca representa a máscara que
uma pessoa usa em
sociedade. Faz sentido. Li também uma análise que dizia que a
boneca, no filme, é a representação do feminino. Também acho válido.
Independente
da interpretação, “Blood Tea and Red
String” é um filme que merece ser visto. A animação em stop-motion é fruto de 13 anos de trabalho de Christiane Cegavske, que também é responsável por criar os
personagens, cenários, filmar e animar os bonecos. Só a parte de sonorização
contou com a ajuda de outros colaboradores. Segundo a artista, esse é o
primeiro filme de uma trilogia, cuja sequência, “Seed in the Sand” está sendo filmada, desta vez com câmera
digital. A previsão de lançamento é 2022. Dá para acompanhar o andamento do
filme no blog.
O
universo criado por Cegavske é uma mistura de Alice no País das Maravilhas,
Emily the Strange e Tim Burton. Quem curte esse estilo surrealista gótico vai
se identificar 100%.
Veja o trailer do filme AQUI.
Nota: 4/5
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Sobre
a diretora:
Christiane Cegavske é uma artista de
Oregon, Estados Unidos. Formada pelo
San Francisco Art Institute, ela retrata seu universo delicado e sombrio em
pinturas e animações. É responsável pela animação do filme "Coração Maldito" (2004), de Asia Argento. É dela também
o videoclipe da música “Coyote”
(2010), de Mark Growden. “Blood Tea and
Red String” (2006) é seu primeiro longa, baseado no curta “Blood and Sunflowers” (2000). Acesse o
site oficial de Cegavske para assistir os curtas e conhecer seu trabalho como
pintora, figurinista, cenógrafa, etc. E ainda tem uma entrevista bem bacana em que ela fala um pouco de como é seu processo de criação.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
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