Dora é uma garota diferente,
“especial”, como gosta de dizer sua mãe. Desde o seu nascimento, já era
possível notar que havia algo peculiar na menina: ela não chorava. Nunca
derramou uma só lágrima em toda sua vida. Em compensação, seus olhos negros e
profundos conseguiam expressar todas as suas intenções. Agora, já adolescente,
Dora é acusada de ter matado 15 pessoas. Será mesmo? O detetive acredita que
sim. A mãe defende que não. Quem estará certo?
Dora
foi um bebê tranquilo, que nunca chorou. Mas sua mãe sempre soube interpretar
suas vontades. Apesar de ser uma criança considerada “boazinha”, havia algo de
estranho nela que assustava todas as babás. Nenhuma ficava no emprego por muito
tempo. Em sua festa de 1 ano, os vizinhos compareceram em peso, mais curiosos
para ver de perto aquela menina reservada do que para comemorar sua existência. E
já nesse dia acontecem coisas inexplicáveis, as outras crianças choram sem
parar e não querem ficar perto da aniversariante e, por fim, ocorre um
acidente e um dos convidados morre. Essa foi apenas a primeira morte na longa
lista de crimes atribuídos a Dora.
A
protagonista é, de fato, estranha. Além de nunca ter chorado, ela também nunca
falou. Mas não porque tivesse algum problema físico ou mental. Simplesmente
nunca achou necessário. Possivelmente intuía que as palavras não fariam
diferença nenhuma. Que ninguém jamais acreditaria nela. Que seria em vão.
Dora
também é capaz de mover objetos com a força de mente e sente uma intrigante aversão pela luz elétrica, por máquinas e aparelhos eletrônicos, especialmente
automóveis. E, por mais que seja reservada e tente levar uma vida normal,
parece atrair problemas e desgraças. A única pessoa que sai em sua defesa é sua
mãe.
A HQ
tem um clima de terror sobrenatural, mas não se limita a isso. É uma história que
fala de diferenças e de como os diferentes são incompreendidos e, portanto,
assustam as pessoas. Dora só quer ser deixada em paz, mas tudo o que faz é
interpretado erroneamente. A trama mostra justamente isso: a impossibilidade de
determinar A Verdade. O que podemos fazer é enxergar os fatos de vários
ângulos: a perspectiva de Dora, o ponto de vista da mãe, a visão do delegado.
Cada um deles tem razão, dependendo de como se encara os acontecimentos.
Dora
é uma espécie de “Carrie, a estranha”.
Mas, ao contrário da personagem de Stephen
King, tem uma mãe amorosa e compreensiva, que só enxerga o bem na filha e
que faz de tudo para protegê-la. Sorte dela. Só que isso também gera outras
questões: Os pais realmente conhecem os filhos que têm? O amor materno é mesmo
incondicional? Esse amor impede que as mães vejam com clareza e objetividade
as atitudes dos filhos?
‘Dora’
foi lançada em 2014 de forma independente e relançada em 2016 pela editora
Mino. Bianca Pinheiro, sua criadora,
ganhou o 27º Troféu HQ Mix em 2015, na categoria Novo Talento – Roteirista, por
seu trabalho em ‘Dora’ e ‘Bear’. As histórias de ‘Bear’ já
têm 3 volumes e também podem ser lidas on-line. A artista também lançou este
ano ‘Mônica
– Força’, da coleção Graphic MSP.
2 comentários:
Oi Mi,
te recomendo também da Bianca, "Meu Pai é Um Homem da Montanha".
É lindo...poético e delicado.
A Bianca é uma fofa. Tive o prazer de conhecê-la.
Bear é uma fofura.
Dora um dos meus favoritos.
Nice,
Obrigada pelas dicas!
Bear está na minha lista faz tempo. Esse outro eu não conhecia, mas vou atrás ;)
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