Em
uma aldeia libanesa isolada por minas terrestres, cristãos e muçulmanos
convivem pacificamente. No entanto, a notícia de conflitos entre seguidores das
duas crenças em um local distante abre feridas antigas entre os homens do
povoado. Para evitar que seus maridos e filhos se matem em uma guerra
religiosa, as mulheres do lugarejo usam as mais inusitadas estratégias.
O
filme começa com um grupo de mulheres que caminham juntas, no mesmo compasso.
Elas vestem roupas pretas, cantam e batem no peito. Dançam como se formassem um
único organismo. Observando com mais atenção, vemos que algumas usam véu e
roupas que cobrem totalmente o corpo, enquanto outras vestem saias mais curtas
e vestidos que deixam os braços à mostra. No entanto, se suas crenças e vestes
as diferenciam, o luto as une.
A
cena inicial que descrevi acima é incrível e já resume a tônica do filme. Para
manter os homens de seus lares a salvo, as mães e esposas libanesas fazem
qualquer coisa. E quando digo qualquer coisa, é realmente qualquer coisa. Elas
ignoram diferenças, passam por cima do orgulho, quebram tabus: o que for
necessário para não precisarem mais chorar seus mortos.
Vale
observar que tanto o padre quanto o imam se empenham em tentar manter a paz na
aldeia, agem sempre em conjunto, jamais deixam a fé interferir no bem-estar de
toda a comunidade. Eles até quebram algumas regras para apoiar as mulheres em
seus planos para evitar o conflito (como quando, por exemplo, o
padre participa da farsa da santa que chora lágrimas de sangue que o mulherio
encena como um sinal para que os homens deixem de lado sua intenção de
batalha).
Os
maridos e filhos, por outro lado, agem feito meninos mimados: querem sair na
mão ao menor desentendimento, acham que qualquer incidente de rotina é provocação
daqueles que seguem outra crença, demonstram reações violentas e
desproporcionais até mesmo contra crianças, enfim... quando contrariados, eles
gritam e fazem birra. Cabe às esposas e mães acalmar os marmanjos malcriados.
Apesar
do assunto pesado, o filme é agradável de assistir e tem muitos momentos
engraçados. Como quando as mulheres, não sabendo mais o que fazer para evitar
que os homens entrem em guerra, dão um passo ousado e mandam buscar um grupo de
dançarinas ucranianas para entreter os sujeitos. Como se não bastasse, as
senhoras da aldeia ainda preparam um banquete especial para os homens com
receitas secretas à base de haxixe e calmantes!
Gostei
muito do filme pela forma como a diretora mostra a união feminina e a
inteligência das mulheres como armas para combater o comportamento explosivo e egoísta
dos homens da aldeia. As diferenças religiosas, o papel das mulheres e o peso
das tradições também são bem explorados em uma trama que combina momentos
tensos, hilários, românticos e dramáticos. Recomendo muitíssimo.
Nota:
4/5
*************
Sobre
a diretora:
Nadine Labaki é uma atriz, roteirista e diretora libanesa formada no curso de
audiovisual pela prestigiosa Universidade São José de Beirute. Seu primeiro
longa-metragem é ‘Caramelo’, de
2007, que lhe rendeu inúmeros prêmios e fama mundial, colocando seu nome na
lista da revista Variety dos 10
Diretores a Serem Vistos no Sundance Festival daquele ano. Seu segundo trabalho, no qual ela foi roteirista, atriz e diretora, é ‘E agora, onde
vamos?’, lançado em 2011, que também foi um sucesso. Labaki também dirigiu um
segmento do filme 'Rio, eu te amo',
no qual diretores do mundo todo declaram seu amor ao Rio de Janeiro.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário