Susan Trinder (Sally Hawkins) é uma ladra órfã criada por um casal dono de uma
taberna que vive de pequenos golpes. Maud
Lilly (Elaine Cassidy) também
perdeu os pais ainda bebê e foi levada para morar com o tio rico quando já
tinha mais ou menos 10 anos. A primeira cresceu nos becos sujos de Londres,
jogando cartas e praticando pequenos furtos; a segunda passou a infância e a
adolescência trancada em uma mansão no interior da Inglaterra, copiando livros
a mão e fazendo leituras para clientes em potencial do tio. Aparentemente, só o
que as duas têm em comum é o fato de suas mães terem morrido de forma trágica:
a de Susan foi enforcada como punição de sua conduta criminosa; a de Maud foi
internada em um manicômio, onde deu à luz a menina e morreu. Mas Susan se vê
envolvida em um golpe para arrancar dinheiro de Maud e então coisas inesperadas
acontecem.
Susan
vai trabalhar como aia de Maud como parte de um plano que tinha como objetivo
casar a rica herdeira com o falso aristocrata sedutor Richard Rivers (Rupert Evans (II)) e então mandá-la
para o manicômio, refazendo os passos de sua mãe. Diante da tentação do
dinheiro que lhe permitiria mudar de vida, Susan aceita seu papel. No entanto,
mesmo antes de tomar a carruagem que a levaria à mansão, ela tem dúvidas sobre se está
fazendo a coisa certa, teme ser enforcada se o golpe der errado. No fim,
calcula que a grana não só melhoraria sua condição de vida, como também
ajudaria imensamente Mrs. Sucksby (Imelda
Staunton ), a dona da taberna que criava crianças indesejadas.
Mas o
destino adora pregar peça nas pessoas, não é? Ao conhecer a frágil e tímida
Maud, Susan se sente mal pela desgraça que aguarda a patroa, a culpa a corrói e
ela quer desistir do plano. Só que Richard não está nada disposto a abrir mão
de uma fortuna por causa do sentimentalismo dos outros, e ameaça Susan,
obrigando a moça a seguir o que haviam combinado. E tudo corre como o previsto.
Pelo menos até a metade da história, quando uma reviravolta sensacional mostra
o quanto o espectador estava equivocado sobre alguns personagens.
O
ponto forte do filme é a relação que se estabelece entre Susan e Maud. A moça
rica, que supostamente teria uma vida melhor, não passa, no fundo, de uma
prisioneira em seu castelo cristal. Com uma rotina rígida de trabalho, seus
únicos momentos de lazer se resumem às visitas de Mr. Rivers, que lhe dá aulas
de pintura. Não à toa, ela vê nele um salvador. Mas a chegada de Susan coloca
as coisas sob uma nova perspectiva. As moças desenvolvem uma cumplicidade que
vai além da esperada entre patroa e empregada: elas passam a ser amigas, irmãs,
amantes.
E
mesmo quando parece que cada uma está cuidando dos seus próprios interesses,
totalmente alheia ao que acontece à outra, a realidade não é bem essa. Elas
desafiam seus destinos para se ajudar mutuamente. Mrs. Sucksby também é outra
personagem feminina forte – de fato, toda a trama se desenrola graças às ações
dessas três mulheres, que, de alguma forma, quebram regras e colocam a si
mesmas em perigo para o bem-estar das outras, que se sujeitam a fazer o que não
querem apenas para sobreviver, mas que não deixam, jamais, de tentar virar o
jogo.
‘Falsas Aparências’ é uma minissérie da
BBC em dois capítulos baseada no livro ‘Na
ponta dos dedos’ (Fingersmith) da
escritora galesa Sarah Waters, que escreve,
em sua maioria, histórias com temática lésbica. A trama se passa na Era
Vitoriana e a atmosfera de pobreza londrina vs opulência do interior inglês
evoca as narrativas de Dickens. Em 2016, o diretor Park Chan-wook filmou ‘A
Criada’ (Handmaiden), sua versão da história, transportada para a Coreia do
Sul da década de 1930.
Achei
o filme uma delícia. A trama, os personagens, os cenários e figurinos de
época... é tudo tão bonito e envolvente que as 3 horas do DVD passaram voando.
Recomendo muito!
Nota:
4/5
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Sobre
a diretora:
Aisling Walsh é uma roteirista e
diretora irlandesa nascida em Dublin
e formada em Belas Artes
pela Dun Laoghaire Institute of Art
Design and Technology. Seu filme mais famoso, ‘O inferno de São Judas’, de 2003, é baseado em uma história real
passada em um reformatório irlandês e ganhou vários prêmios internacionais. Ela
também dirigiu um episódio da série de TV ‘Wallander’.
Seu filme mais recente é ‘Maudie’,
de 2016, sobre a lendária pintora canadense Maud Lewis.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
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