quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Isn't it ironic?



O céu ficou negro. A tempestade era iminente. Ela apressou-se e andou o mais rápido que pôde. Conseguiu pegar o metrô antes dos pingos começarem a cair. Em sua estação destino, acelerou mais uma vez. Lembrou-se da faxineira. Precisava passar no mercado e comprar pão. O cheiro de chuva ficava mais e mais forte. Agora, ela quase corria. Não adiantou. Faltando um quarteirão para o mercado, o toró desabou. Parecia uma ducha com jato turbo-max. Estava tão perto que não compensava abrir o guarda-chuva. Ledo engano. Entrou ensopada no mercado, deixando um rastro por onde passou. Comprou os pães, o queijo, o presunto que a faxineira tanto gosta, o chá verde que ela mesma aprecia. Não conseguiu usar o dinheiro, que se desfazia dentro da carteira molhada. Pediu, sem graça, que a moça do caixa secasse seu cartão de débito, que pingava. Colocou as compras na sacola e esperou. E esperou. E esperou...Os raios e os trovões não cessavam. Sendo ela uma pessoa impaciente, cansou de esperar. Abriu o guarda-chuva só para proteger o pão, afinal ela parecia ter saído de uma piscina. Saiu, deixando para trás as pessoas mais pacientes que aguardavam uma trégua no dilúvio. “Só mais alguns quarteirões e já estarei em casa”, pensou. Entrou no saguão molhando tudo e formando poças enquanto esperava o elevador. Chegou em casa pegando a toalha e correndo para o banheiro. Despiu-se, jogando a roupa encharcada dentro do box. Abriu a torneira e só o que obteve foi o barulho do encanamento rangendo de tão seco...

“And isn't it ironic... don't you think?
A little too ironic… and yeah I really do think...”


Foto: Estadão

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira

Ontem tive uma experiência surreal que fez com que eu me sentisse parte do filme “Ensaio sobre a cegueira”. Sabe aquela parte em que as pessoas saem do confinamento e começam a andar às cegas tropeçando no monte de lixo? Então... era eu tentando sair do prédio em que trabalho.

Que a escada da saída de emergência não seria útil em caso de incêndio eu já sabia, pois já a conhecia de outros carnavais (leia-se impaciência após esperar o elevador por mais de 10 minutos). As pessoas não se preocupavam muito com questões de segurança antigamente (e pelo jeito, hoje em dia também não).

Eu trabalho no 13o andar de um prédio antigo, no centro de São Paulo. A escada da saída de emergência não é como as de hoje, com degraus retangulares e uniformes e com um patamar quadrado para se descer com cautela. É uma escada antiga, com degraus triangulares (aqueles que são mais estreitos de um lado do que do outro) e que vão descendo em caracol.

Pois bem... ontem faltou luz no edifício e, na hora de ir embora, lá fui eu para a tal escada. Quando chego lá, a escada era uma penumbra total. Havia luz de emergência só no corredor, mas não na escada. Toca abrir a mochila e desenterrar o celular, que não ajudava muito, mas era melhor que nada. Para completar, o pessoal da faxina, na falta de lugar melhor para armazenar o lixo até a hora de colocá-lo na rua, decidiu que a escada era um local apropriado. Ou seja, desci 13 andares no escuro total, tentando não escorregar nos degraus bem calculados e ainda tive que pular alguns sacos de lixo.

Em caso de emergência, o jeito é usar essa saída:

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Brasil é o país do futuro

Este país cada dia me dá mais “orgulho”.
A Folha publicou segunda (09/02/09) só mais um atestado de mediocridade do nosso povo brasileiro: Dos 214 mil professores temporários que fizeram uma prova classificatória para cargos na rede estadual de ensino em São Paulo, 3 mil tiraram nota 0. Calma! Vou repetir para confirmar que não foi erro de digitação TRÊS MIL professores tiraram Z-E-R-O! Ou seja, não acertaram NENHUMA questão da matéria que ministram ou ministrarão. Como se isso não bastasse, tais “professores” não poderão ter o cargo contestado, isto é, não são concursados, não sabem nada do que deveriam ensinar e mesmo assim vão continuar espalhando sua ignorância por aí.
O que se poderia esperar de um povo que elege (2 vezes!) um presidente que se orgulha de não ter estudado?

É só mais uma notícia "Sad But True"...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Foi apenas um sonho



Ontem assisti “Foi apenas um sonho” (Revolutionary Road), um dos concorrentes ao Oscar 2009. Muitas pessoas vão ao cinema para ver o par romântico Leonardo DiCaprio + Kate Winslet, esperando encontrar um romance juvenil como aquele retratado em Titanic. Eu não gosto de filmes de amor "água com açúcar" e detestei Titanic. O que me levou a ver o filme foi justamente o resumo da história: casal em crise tenta resgatar sonho de adolescente, mas tem de encarar a realidade. Não vou dizer muito sobre o filme, só que:
* Michael Shannon, indicado como Ator Coadjuvante – nem preciso ver os outros concorrentes. Já ganhou. Seus poucos minutos em cena fazem o filme.
* A realidade angustiante por trás da perfeição do “American way of life”
* DiCaprio, que na época do Titanic eu achava bem feinho e mau ator, tem subido muito no meu conceito e parece estar aprendendo a atuar
* Kate Winslet – Adoro essa atriz. Mas olhando para ela percebi o quanto os atores envelheceram nesses 10 anos, o que me faz pensar o quanto eu pareço mais velha
* Ótimo filme. Mas não vá se estiver depressivo ou se quiser continuar acreditando que um príncipe encantado virá te salvar.
* O filme é um legítimo representante do conceito “Sad But True”.


Fotos retiradas do Adoro Cinema

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O que eu sempre quis saber, mas não tinha a quem perguntar

Você também é do tipo que se irrita com o blá-blá-blá repleto de gerundismos do pessoal de telemarketing? E se esse pessoal avançasse na carreira e assumisse postos de diretoria e gerência, deixando o gerundismo um pouco de lado, mas abraçando um discurso empolado cheio de palavras bonitas e vazias?

Pois é... o primeiro caso é mais conhecido pelo público em geral. O segundo só afeta os pobres coitados que têm que ler, interpretar e adivinhar o que esse povo de negócio quer dizer em documentos sem pé nem cabeça. Infelizmente, tenho que conviver com os dois tipos.

Quem me conhece sabe que um dos meus hobbies é vagar pelas seções de auto-ajuda e de negócios coletando pérolas na forma de títulos de livros. Na minha opinião, as duas seções poderiam formar uma só, já que, salvo raros casos, é literatura sem conteúdo. Qualquer pessoa com o mínimo de bom-senso sabe o que está escrito nesses tipos de livros. Todos nós sabemos o que fazer, ninguém precisa nos ensinar esse tipo de coisa. Só não fazemos porque temos preguiça ou medo.

Enfim... livros de negócios, além dos títulos esdrúxulos, são pedantes. É como se cada autor tivesse descoberto a eletricidade. Sendo assim, pessoas que leem esse tipo de livro tendem a ser igualmente arrogantes e sem senso crítico (estou generalizando, OK?). Tudo para ter sucesso!

Semana passada comecei a ler um livro dessa área que me chamou a atenção por causa do título: Por que as pessoas de negócio falam como idiotas? Gente, isso é tudo o que eu queria saber e não tinha a quem perguntar! Será que é um defeito genético? Uma aberração cromossômica? Uma mutação causada pelo uso excessivo do celular?






Lógico que não. São só pessoas que não pensam por si mesmas, que querem tanto atingir metas que não percebem o que falam. A única coisa que fazem é copiar modelos sem nunca analisá-los.

O legal é que o livro dá exemplos reais extraídos de documentos de grandes empresas e dá dicas do que fazer para melhorar a comunicação. Vou colocar aqui parte de um dos exemplos de Dialeto Corporativo, só para ilustrar:

“Já que o alicerce de um portfólio informatizado de uma agência é sua infra-estrutura, cabe a um conselho administrativo versado em TI elevar ao nível de empreendimento as decisões de infra-estrutura. Historicamente, as gerências de informática têm tido dificuldade em atrair a atenção dos executivos para essa questão crítica, porque a infra-estrutura é geralmente descrita em termos de componentes tecnológicos, e não em termos de aptidão empresarial. O propósito de construir uma infra-estrutura empresarial informatizada é permitir o compartilhamento de informação e de recursos dispensiosos, ao mesmo tempo em que se cria um mecanismo para prestação de serviços e economias de escala no nível transunitário.”


E aí? Entendeu a mensagem? Contou quantas vezes foi usada a palavra infra-estrutura? Identificou as clássicas palavras-chave do mundo corporativo, que geralmente são usadas livres de significado?


Tem muitas outras coisas legais que gostaria de comentar, mas hoje vou parar por aqui.

Até mais!