segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Filmitchos do Fim de Semana: Meu País / Um Gato em Paris

Lembram de quando eu disse que o que falta ao cinema brasileiro é contar histórias simples, mas de um modo sensível? Então... “Meu País” é um exemplo de que isso pode ser bem feito. A história nos apresenta Marcos (Rodrigo Santoro), que, depois de anos morando na Itália, volta ao Brasil quando seu pai sofre um derrame. O pai acaba falecendo sem que Marcos tenha a chance de falar com ele e, com isso, Marcos tem que enfrentar uma série de problemas: seu irmão mais novo, Tiago (Cauã Reymond), que deveria assumir os negócios da família, mas que está endividado e continua perdendo fortunas em jogo; sofre pressão do sogro para retornar à Itália logo, pois sua presença lá é fundamental para lidar com o sobe e desce de ações da empresa que dirige; ainda por cima, descobre que tem uma meia-irmã com problemas mentais, Manuela (Débora Falabella), que está internada há tempos, mas que não pode mais continuar lá.


Gostei muito do filme. O problema mental de Manuela é abordado de forma muito direta, mas delicada, sem sentimentalismo barato. Débora Falabella e Rodrigo Santoro dão show, como sempre. Cauã Raymond... bem, para mim ele faz sempre o mesmo papel. Na verdade nunca sei se o que estou vendo é um personagem ou o ator. Acho que a única cena desnecessária e sem sentido é a da balada. Me diz como uma pessoa que acaba de ser bombardeada com todos os problemas acima de uma só vez, do nada decide fingir que está tudo bem e ir curtir a noite? Com certeza só botaram isso no filme porque a história se passa em São Paulo, onde takes de balada e trânsito são clichês tão obrigatórios quanto rodar uma novela do Manoel Carlos no Leblon...

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O outro filme do fim de semana foi uma animação francesa chamada “Um gato em Paris” (Une vie de chat). Conta a história de Dino, um gato que passa os dias na casa de Zoé, uma menininha que está numa fase de mudez causada pelo assassinato de seu pai por um dos bandidos mais procurados de Paris, Victor Costa. A mãe de Zoé é a delegada que fica mais tempo no trabalho do que em casa, buscando desesperadamente prender o tal bandido para vingar-se e conseguir paz. À noite, o gato Dino sai pelos telhados da cidade luz acompanhando Nico, um ladrão habilidoso, mas de bom coração.

A animação tradicional é linda e ver Paris em traços tão bonitos é maravilhoso. A história aborda temas como perda, superação e amizade, e o mais interessante é que, ao contrário da maioria dos desenhos endereçados ao público infantil, não vemos no filme “o mal absoluto” vs “o bem que sempre vence”. As pessoas são mostradas como realmente são, com suas falhas e suas qualidades, sem super-heróis e vilões.

Recomendo!
Tem trailer AQUI.
UPDATE em 15/02/2012: Indicado ao Oscar 2012 de Melhor Longa Animado

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Barbie tatuada causa polêmica nos EUA

Foi esse o título na notícia publicada ontem na Folha que chamou minha atenção.
A boneca em questão é uma edição limitada para colecionadores adultos, lançada pela grife Tokidoki e tem essa carinha aí:

Linda, não?

Obviamente, foge aos padrões de beleza tradicionais americanos, mas não deixa de ser estilosa e ultramoderna. Ao que tudo indica, presentear meninas em fase de formação com bonecas Barbie e seu corpo esquálido e sua beleza surreal inatingível tudo bem, mas dar de presente uma versão alternativa da mesma boneca... jamais! Isso vai corromper as pobres criaturinhas e transformá-las em loucas-vadias-adoradoras-do-Satã.

Eu já tinha falado sobre Barbies e outros brinquedos AQUI. É muito triste constatar que em pleno século XXI as pessoas ainda são tão medievais. Se gabam de ter tanta tecnologia nas mãos, mas não sabem o que fazer com isso. Adoram espalhar por aí que vivemos em tempos modernos, de igualdade entre os sexos e liberdade feminina, e as próprias mães (como sempre) são as primeiras a esfregarem os valores machistas na cara de suas filhas e a empurrarem a ditadura da beleza goela abaixo das coitadas.

Mas ainda bem que algumas mães parecem raciocinar antes de sair despejando bobagens em cima de suas crias. Como bem colocou uma das entrevistadas, "Eles estão capturando um flagrante da cultura pop do jeito que ela realmente é. A Barbie não está criando a minha filha. Eu é quem estou". Outra mãe toca ainda num outro ponto crucial: o problema não são as tatuagens. "O que é inadequado para as crianças são as medidas dela", afirmou, referindo-se às curvas da boneca. "Se ela pode mudar de personalidade, por que não pode mudar de forma e tamanho?". Disse tudo.

Então é isso. Eu não tenho filhos e nem pretendo ter, mas, se tivesse, trataria de lembrar que a boneca é apenas um brinquedo, quem tem a palavra final são os pais. A menininha vai pirar e começar a implorar por tatuagens e piercings? Talvez. Cabe aos pais explicar que ela precisa ter uma idade X para fazer tais coisas e, quem sabe, dizer que ela pode ter uma tatuagem de adesivo ou henna. Se a criança for pequena, tiver até uns 10 anos, acho que nem vai reparar na diferença de uma tattoo real ou temporária. Na verdade, acho que vai até gostar mais das removíveis, já que poderá trocar sempre. Se a menina for mais velha que isso, provavelmente fará um draminha adolescente, mas não importa. Saber ouvir um "não" não vai matá-la. Aliás, acho que é isso que falta atualmente. Dizer não aos filhos. Talvez se eles ouvissem menos “não” quando crianças, não se achariam o centro do mundo quando adultos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Resenha: A Desintegração da Morte (Orígenes Lessa)

O que seria da vida se não existisse a morte?
É esse o ponto de partida do livro “A Desintegração da Morte”.

Na história, um cientista consegue fazer com que a morte desapareça da face da Terra. No começo, a população considera o sumiço da morte uma benção. Os povos saem às ruas comemorando o fim desse temor. Logo, três dos principais ramos de negócios vão à falência: os cemitérios e casas funerárias, as empresas farmacêuticas e hospitais e a indústria bélica. Afinal, ninguém morre nem precisa de cura ou de guerra...

No entanto, em pouco tempo é feita uma constatação cruel: as pessoas podem não morrer, mas sentem fome e dor. Com isso, o que era motivo de alegria passa a trazer novos problemas. Assim, a indústria farmacêutica recupera sua importância, a indústria bélica se transforma em indústria alimentícia e as casas funerárias passam a oferecer caixões confortáveis onde se pode descansar e ficar entorpecido com soníferos.

"Pouco a pouco o que a humanidade mais desejava era o sono, imitação pálida da morte."
(página 81)

O interessante desse livro é observar como o comportamento humano se adapta e como as grandes indústrias que guiam nossa vida jamais deixam de existir, apenas se transformam. Por exemplo, considerando que ninguém mais morre, as indústrias produtoras de material bélico não veem utilidade em continuar produzindo armas e passam a produzir alimentos, agora um ramo muito mais lucrativo. Todavia, quando se achava que as guerras finalmente teriam fim, elas voltam com força total, pois com uma população que não para de crescer e que não morre nunca, espaços para plantio são muito disputados. E, embora não morram, as pessoas atingidas por balas e bombas continuam vivendo aos pedaços, como zumbis. E como alimentar todo esse mar de gente? Capturando outras pessoas para que trabalhem em campos de concentração... Ou seja, as mazelas que conhecemos continuam, apenas ajustadas a uma nova necessidade.

Outro ponto relevante é a religião. Embora cada religião tenha suas particularidades, é consenso a ideia de vida após a morte. Como ninguém morre, as igrejas perdem seu poder sobre a massa e praticamente entram em extinção. Mas então alguém se dá conta de oferecer a salvação com uma nova roupagem: a morte. Se antes todos viviam de modo a garantir a vida eterna, agora as pessoas são guiadas por preceitos que visam alcançar a tão sonhada morte.

O que fica disso tudo?
Para mim, a história mostra que tudo é cíclico e que a humanidade tem um senso destrutivo aguçado. Achei bem intrigante e recomendo!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Corre lá!

Oi, gente!

Tô passando rapidinho para compartilhar com vocês uma promoção de livros que está rolando na FNAC.
Ontem, comprei essas belezinhas aqui:

Todos a R$19,90, exceto o "Especiais", que foi R$29,90 (ainda assim mais barato que na maioria dos lugares). Eu comprei na loja física, mas dá para comprar pelo site também.

Corre lá!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Filmitcho: Minhas Tardes com Margueritte (La Tetê en Friche)

Lembram de quando eu disse que sinto falta de histórias simples e sensíveis no cinema brasileiro?
Então... aqui vai mais um exemplo, desta vez vindo da França.

Em "Minhas tardes com Margueritte" vemos um Gerard Depardieu gordo interpretando Germain Chazes, um personagem rústico, semianalfabeto, que faz comentários impróprios nos momentos errados. Ele é um operário que vive num trailer ao lado da casa da mãe e cultiva uma horta, mantendo também o hobby de entalhar madeira. Por causa de seu jeito meio bronco e do baixo grau de instrução, ele é constantemente zombado por seus patrões e amigos de bar. No entanto, por trás dessa figura meio caipira e desajeitada há um homem de grande sensibilidade e com um enorme coração.


Um dos passatempos preferidos de Germain é sentar-se em um banco do parque e observar os pombos. Observar só não: ele os conta e dá nome a eles. Num desses dias, ele conhece Margueritte, uma senhora de 95 anos que também costumava ir ao parque ver os pombos e para ler e reler seus livros favoritos. A empatia é imediata e, assim, Germain e Margueritte passam a se encontrar diariamente. No início, Margueritte lia trechos de algumas obras. Depois, acaba presenteando Germain com alguns desses livros. Apesar de feliz com a gentileza, os livros o amedrontam, pois ele tem grande dificuldade para ler. Flashbacks nos mostram cenas da infância de Germain: xingado e agredido pela mãe que não queria ter um filho, humilhado por professores e colegas da escola devido a sua dificuldade de leitura e raciocínio lento.

Até que um dia, Margueritte o presenteia com um dicionário. Em casa, Germain decide procurar o significado de algumas palavras, mas, desconhecendo a grafia delas, encontra grande dificuldade para localizá-las. Frustrado, ele devolve o dicionário e desculpa-se, dizendo que as palavras que ele conhece não existem no dicionário, e que com as que existem ele não concorda.

Todavia, uma revelação de Margueritte faz com que ele decida esforçar-se para melhorar a leitura: ela tem uma degeneração macular senil, ou seja, está perdendo a visão. Com a ajuda de sua namorada e sob a vigilância de seu gato escudeiro, a habilidade de leitura de Germain melhora, e ele passa então a ler para aquela que o fez despertar para o mundo da literatura.

Uma linda fábula sobre como a literatura aproxima as pessoas nesses tempos estranhos de tecnologia, reality shows, desvalorização da educação, passividade e preguiça mental.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pra dizer adeus...

Ontem fui ao meu quinto e provavelmente último show do Bad Religion. Segundo o próprio vocalista, depois do Brasil eles vão passar pela Austrália e Canadá e então, após 30 anos de bons serviços prestados ao punk rock, se aposentar.


O show foi um misto de alegria por ver a banda mais uma vez e tristeza por saber que era um adeus. Misturando músicas do último álbum lançado em 2010, The Dissident of Man, e clássicos fisgados de todos os períodos da banda, o Bad Religion não decepcionou. É óbvio que eles não têm mais a mesma energia de antes, já que não são exatamente meninos. Mas, para falar a verdade, nem eu tenho o mesmo fôlego que apresentava há alguns anos. Faz parte do envelhecimento. Foi até engraçado quando Greg, o vocalista, perguntou quem estava vendo o Bad Religion pela primeira vez, com algumas pessoas levantando as mãos, e quem acompanhava a banda há pelo menos 20 anos e a maioria se manifestou. Não acompanho há 20, mas há uns 15... certeza. A sensação de ter a Certidão de Nascimento esfregada na cara é um tanto estranha e assustadora. Mas enfim, de uma coisa eu tenho certeza: pouquíssimas bandas podem se orgulhar de ficar 30 anos na ativa fazendo um som tão vigoroso, que não apenas faz pular, mas também pensar. Verdadeiro punk rock é isso aí.

Para quem não conhece e não tem a menor ideia do que eu estou falando, o refrão da letra de uma das minhas músicas favoritas, feita ainda no século XX, mas que, infelizmente, mostra a verdade dos nossos dias e o caminho apoteótico do futuro:

“See I'm a 21st century digital boy
I don't know how to read but I've got a lot of toys
My daddy's a lazy middle class intellectual
My mommy's on Valium, so ineffectual
Ain't life a mystery?”
(21st Century (Digital Boy))

Nada mais emblemático após um Dia das Crianças, não?

Para quem quiser se despedir ou ter o privilégio de ver um show dos caras, ainda dá tempo:
- Brasília (Parque da Cidade, em 14/10)
- Rio de Janeiro (Fundição Progresso, em 15/10)

Se não estiver por essas bandas, não tem problema. É só ir atrás dos discos e vídeos.
Fui!
(foto do Terra)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Leia o Livro, Veja o Filme: Não me abandone jamais (Never let me go)

Sinopse:
Kathy, Tommy e Ruth são alunos de Hailsham. Na verdade, são clones criados para doar órgãos. Eles formam um triângulo amoroso, usado pelo autor, Kazuo Ishiguro, como gancho para falar de perda, solidão e da sensação que às vezes temos de já ser "tarde demais".

Livro x Filme:
Quem narra a história é Kathy, já adulta e prestes a encerrar sua carreira de cuidadora e finalmente tornar-se doadora. A partir de suas memórias, ela nos apresenta à rotina de Hailsham, esse local isolado do mundo que se traveste de escola comum onde ela e seus amigos cresceram para cumprir um único objetivo: servir de doadores, fornecendo órgãos do corpo como se fossem peças de reposição.


Desde o começo já dava para perceber que Kathy e Ruth são melhores amigas, mas que Ruth queria sempre ser o centro das atenções. Kathy se ressentia, mas no fundo achava que era apenas o jeito da amiga e que deveria aceitá-la assim. Às vezes elas brigavam, mas conseguiam manter a amizade por meio de gentilezas e pedidos de desculpa. Kathy era uma das únicas amigas de Tommy. Ela o entendia e eles adoravam conversar e analisar os mistérios de Hailsham. No entanto, na adolescência, Ruth se aproxima de Tommy e eles acabam namorando. Kathy era tida como a fiel escudeira do casal, ouvindo as reclamações dos dois, dando conselhos e ajeitando as coisas para que eles se acertassem depois das brigas. Apesar do papel ingrato, ela aceita tudo sem se opor e sem demonstrar os sentimentos que tinha por Tommy. Mas... só se vive uma vez e, no caso dos protagonistas, a vida é abreviada pelas doações.

Confesso que demorei um pouco a entrar no clima da história. A forma detalhada da narração de Kathy me pareceu meio cansativa e sem propósito no início, mas depois entendi que a única forma de apreciar sua narrativa era esquecer o mundo como o conhecemos e me colocar no lugar da personagem, ver as coisas como ela via. Muitas coisas que para nós são óbvias, não o eram para as crianças clones que cresceram isoladas. Por exemplo, elas tinham que ensaiar como interagir com pessoas de fora da escola, como agir em lugares públicos, o que esperar das pessoas comuns. Coisas que fazemos sem pensar, para eles era um desafio. É estranho, mas, como aponta Miss Lucy, uma das tutoras da escola, as crianças eram iludidas, pois a realidade era dita, mas não dita, ou seja, todos sabiam que teriam que doar órgãos ao chegarem à idade adulta, mas, por outro, lado deixavam que eles sonhassem com um futuro, que obviamente não existiria.

É importante destacar o peso que Hailsham tem na história. O lugar era um universo à parte. Os alunos jamais tinham contato com o mundo exterior, por isso, muitas histórias e lendas eram criadas e repassadas em segredo entre os estudantes. Uma aura de mistério envolve tudo o que acontecia na escola. Um exemplo dos mistérios mais discutidos entre os alunos era a existência ou não da “Galeria”, lugar para onde, supostamente, eram levados as melhores pinturas, esculturas e poesias criadas pelos alunos e escolhidas por “Madame”, mulher que aparecia periodicamente em Hailsham para escolher as obras de destaque. Além disso, discutiam também qual o propósito da tal “Galeria”. Outro assunto tabu que vivia na mente dos estudantes era a existência dos “Possíveis”, como eram chamadas as pessoas “Originais” das quais eles foram clonados. Alguns diziam que eles existiam e eram pessoas "normais" que circulavam por aí; outros acreditavam que os "Originais" eram párias da sociedade: condenados, drogados, prostitutas, etc. Um outro tópico proibido nas conversas formais, mas que estava sempre em alta, era a possibilidade de pedir um "Adiamento" do início das doações se dois estudantes estivessem mesmo apaixonados. A lenda dizia que era concedido um prazo de 3-4 anos para que o casal vivesse o amor antes de começarem as doações obrigatórias.

Bom, não vou estragar a surpresa e dizer se os boatos eram verdadeiros ou falsos. Só vou falar que não são mostrados devidamente no filme. Na película, tudo é tratado de forma direta e grande parte dos mistérios e divagações, que são a essência da esperança dos clones, não existe. Não fica claro o nível de intimidade entre as amigas, é tudo muito acelerado. Não vemos os pequenos gestos que fazem o amor de Kathy e Tommy florescer. Ainda mantém o tom melancólico, mas muito da beleza se perde.


Por fim, posso dizer que, por trás viés futurista e de ficção científica, a história levanta questões éticas pertinentes, não tão distantes assim da nossa realidade. Alguém aí se lembra de ovelha Dolly? De toda a discussão sobre se poderíamos clonar seres humanos? Pois bem... até que ponto é ético criar outros seres só para obrigá-los a doar órgãos para pessoas doentes? Com base em que nos julgamos capazes de decidir qual vida vale mais? Sabendo que o destino dos clones estava traçado, foi errado deixá-los ter expectativas para o futuro? Mas e se não houvesse o mínimo senso de futuro, valeria a pena viver? E depois que várias pessoas foram salvas de doenças incuráveis que dependiam de transplante, como, tendo a cura nas mãos, dizer a elas que o processo de criação de clones será interrompido?

Pare ler/ver, se emocionar e refletir...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Leia o Livro, Veja o Filme: A Solidão dos Números Primos (La Solitudine dei Numeri Primi)

E lá se vão quase dois anos desde que li "A Solidão dos Números Primos", o primeiro livro de Paolo Giordano, vencedor do Prêmio Strega (o mais importante prêmio literário da Itália) em 2009, mas a trama continua bem vívida em minha memória. Resolvi postar agora porque só recentemente pude assistir ao filme, lançado em 2009 e com roteiro escrito pelo próprio Paolo Giordano, mas que só foi exibido no Brasil em mostras e festivais. Tinha até me esquecido dele, mas nos últimos dias, numa dessas buscas sem destino certo na internet, o encontrei para download. Livro e filme vão intercalando as histórias de Alice Della Rocca e de Mattia Balossino desde 1983 até 2007, e, segundo o próprio autor, retrata a geração criada na Itália dos anos 80 e 90 (que não é muito diferente do resto do mundo), vendo televisão, e fala de uma faixa de jovens que cresceram no individualismo, fechados em si mesmos. Os dois personagens principais são almas quebradas, atraídos pelas desgraças um do outro. Por várias vezes parecem se encontrar, mas sempre se separam e continuam solitários como números primos, ou seja, aqueles que podem ser divididos apenas por 1 e por eles mesmos. Na verdade, eles são mais raros ainda, como números primos gêmeos (como 17 e 19, por exemplo): “são casais de números primos que estão lado a lado, ou melhor, quase próximos, porque entre eles sempre há um número par, que os impede de tocar-se verdadeiramente”.


Não posso contar mais da sinopse, pois, ao contrário do livro, o filme não tem uma narrativa linear. Só o que posso dizer é que há uma tragédia envolvendo Mattia e sua irmã autista e um acidente que muda a vida de Alice. Embora seja um livro com personagens adolescentes, não acho que seja um livro para adolescentes. O clima depressivo e autodestrutivo dos personagens permeia todo o texto, causando muita angústia. Na verdade, o isolamento e os problemas de comunicação não estão só com os jovens, basta observar as relações familiares: o pai de Alice a obrigava a participar de competições, sua mãe já demonstrava traços de depressão, e a própria Alice já dava sinais de distúrbios alimentares. Na família de Mattia, a coisa não é muito diferente: ele sofria pressão para incluir a irmã em tudo o que fazia, era forçado a assumir responsabilidade de mais para uma criança de sua idade, e, ao mesmo tempo, os pais o criticavam por não ter amigos ou vida social.

O livro tem um estilo de escrita direto, simples e sem rodeios, tornando a leitura fácil e rápida. E, embora seja triste e angustiante, não dá para parar de ler. Você fica querendo saber o que vem depois, e torce para os dois darem certo juntos, mesmo sabendo que é pouco provável. Uma história de amor um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. Não há nenhum obstáculo externo, nenhuma oposição das famílias, nenhuma traição. Só o que os impede de ficar juntos são eles mesmos.

Altamente recomendável!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Eu Fui: SOAD na Chácara do Jockey, SP

E isso sim é que eu chamo de aniversário perfeito: nada de eleições no dia seguinte e um dos melhores shows da minha vida: SOAD!


A dor de garganta e a dor de ouvido provocadas pela minha gripe anual, que resolveu aparecer no momento mais inoportuno possível, não conseguiram estragar a noite. Nem mesmo a garoa maligna que começou a cair pouco antes do show, ameaçando transformar minha gripe em pneumonia e o local num lamaçal, conseguiu arruinar o evento. E que bom que fiquei na dúvida se comprava ou não o ingresso para o Rock in Rio quando anunciaram o SOAD! Demorei para decidir e os ingressos acabaram se esgotando. E pela primeira vez na vida isso não me deixou chateada, já que logo anunciaram o show dos caras em SP. Muito melhor, né? Mais perto, mais barato (quer dizer, menos caro) e sem ter que aguentar bandas nada a ver. Simples e direto.


E foi realmente perfeito! O show começou na hora, um fato raro de se ver. A banda abriu com a sensacional “Prison Song” e foi desfilando hit após hit, cobrindo todo o álbum “Toxicity” e incluindo também as canções essenciais dos outros quatro discos. Fazia tempo que eu não ia a um show em que as pessoas cantavam e pulavam o tempo todo, mesmo as que estavam lá atrás. E a banda não dava descanso! Nada de blábláblá entre as músicas, nem troca de instrumentos, nem pausa para o vocalista se recuperar com o clássico coro da plateia. Porrada atrás de porrada. Uma hora e quarenta e cinco minutos de puro delírio. Nem teve como pedir bis, pois os caras já tinham tocado praticamente tudo e arremessado palhetas e pratos de bateria pra galera. Mas nem precisava... A espera de anos com certeza valeu a pena.

E fica a dica para estrelinhas pop/rockstar que se acham o centro do universo: pop/rockstar de verdade não precisa fazer o público esperar por horas para mostrar seu poder sobre os fãs, não precisa fazer troca de instrumentos a cada música para ser legal, não precisa ficar horas tagarelando sem parar porque acha que é divertido, não precisa fazer versões tão distorcidas das canções pensando que isso é oferecer uma boa experiência para a plateia... basta respeitar os fãs começando o show no horário e se entregar de corpo e alma à execução das músicas.

Fotos da Folha