terça-feira, 19 de setembro de 2017

Veja Mais Mulheres: Filmes #28-32


Em maio deste ano fiz um post temático para o #vejamaismulheres com filmes de cinco diretoras do leste europeu, apresentando produções da Romênia, Sérvia, Bulgária, Bósnia e Croácia. Gostei tanto que planejei fazer uma segunda postagem sobre o mesmo tema, abordando trabalhos de cineastas de países que não haviam entrado na primeira seleção. Acabei não conseguindo fazer na sequência, mas eis que finalmente assisti ao último que faltava para completar os cinco deste post. Desta vez, separei filmes da Hungria, Eslováquia, Rússia, Lituânia e Ucrânia.

Adoção (Örökbefogadás/Adoption - Márta Mészáros, 1975) [Hungria]
Kata é uma operária de meia-idade solteira que está num relacionamento de anos com um homem casado. Anna é uma adolescente que, embora tenha pais, está sob a tutela do Estado e mora numa instituição só para garotas. Kata está disposta a ter um filho, mas seu amante é contra. Anna está apaixonada e pretende se casar com um rapaz com quem sai já há um tempo, mas primeiro precisa fazer 18 anos e obter a aprovação dos pais. Um dia, os caminhos dessas duas mulheres se cruzam e elas resolvem trabalhar juntas para atingir seus objetivos. Gostei muito do filme, da forma como a relação entre elas se estabelece e se desenvolve. Recomendo.
Nota: 4/5
Márta Mészáros é uma roteirista e diretora húngara que começou sua carreira como documentarista (fez mais de 25 curtas documentais em um período de 10 anos). Seu primeiro longa-metragem, ‘A garota’ (1968), foi o primeiro filme húngaro dirigido por uma mulher. Com mais de 15 filmes no currículo, seu trabalho mais famoso é ‘Diário para meus filhos’ (1984), que ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cannes daquele ano.

Meu cachorro assassino (Môj pes Killer/My dog Killer - Mira Fornay, 2013) [Eslováquia]
Marek é um rapaz que mora numa vinícola com o pai e seu pitbull, Killer. A mãe foi morar no centro da cidade com o novo marido e o filho pequeno. Como os pais não se falam, sobra para Marek fazer a ponte entre eles. O moço não tem amigos e, quando não está trabalhando, se dedica a treinar o cachorro para atacar. É graças ao animal que sua presença é tolerada entre os skinheads da academia de muai thay. Um dia, o protagonista vai até a cidade para tratar com a mãe sobre uma questão financeira e acaba tendo que lidar com o meio-irmão mestiço e todos os problemas que isso lhe causa. Toda a ação se desenrola em um dia. Acompanhamos Marek em sua rotina tediosa e em sua posição desagradável de mensageiro dos pais. Testemunhamos seu desprezo pela mãe e pelo meio-irmão, pois a atitude dela no passado e a atual existência do garoto dificultam a aceitação de Marek pelos skinheads. É triste que o cachorro seja o único ser vivo com quem ele consiga que conectar... Um filme duro e realista.
Nota: 3/5
Mira Fornay é uma diretora eslovaca formada em TV e Cinema pela Academia de Artes Dramáticas de Praga e na Escola de TV e Cinema de Beaconsfield, UK. Na bagagem, tem 14 curtas e 2 longas: 'Foxes' e ‘Meu cachorro assassino’ - seu segundo trabalho, com o qual venceu a competição principal no Festival de Cinema de Roterdã de 2013. Atualmente, trabalha em seu terceiro filme, ‘Cook, F**k, Kill’.

Retrato no crepúsculo (Portret v sumerkakh/Twilight portrait - Angelina Nikonova, 2011) [Rússia]
Marina é uma assistente social que tem sua bolsa roubada e acaba sozinha na estrada uma noite e, ao pedir ajuda aos policiais que passavam por lá, é estuprada por eles. Acha melhor não dar queixa e não conta o que aconteceu a ninguém. Segue com sua vida infeliz e frustrada. Em casa, vive um casamento de fachada (a cena de lavação de roupa suja familiar na hora do parabéns é maravilhosa); no trabalho, tem que lidar com a burocracia infinita e sente que não consegue ajudar as crianças que deveria proteger; quando vai à delegacia dar queixa do roubo, é humilhada e insultada – ou seja, é uma existência 'ótima'. Quando um dia ela reencontra um dos policiais que a estuprou, começa a segui-lo. E é então que o filme começou a degringolar. Juro que tentei imaginar o que ela tinha na cabeça e onde queria chegar com suas atitudes, mas só consegui ficar com raiva. Não comprei a ideia e não recomendo. Mas se alguém assistir, me conta o que achou.
Nota: 2/5
Angelina Nikonova é uma roteirista e diretora formada na Escola de Artes Visuais de Nova York. Embora já tivesse feito um documentário, ‘Retrato no crepúsculo’ foi seu primeiro longa, que colecionou elogios e ganhou prêmios em vários festivais, incluindo o Prêmio Internacional de Melhor Estreia no Festival de Varsóvia de 2011.

O verão de Sangaile (Sangaïlé/The summer of Sangaile - Alanté Kavaïté, 2015) [Lituânia]
Sangaile é uma adolescente tímida que vai passar as férias na casa dos pais numa cidadezinha afastada. Lá, ela conhece Auste, a moça criativa e talentosa que, quando não está criando modelitos incríveis e tirando fotos, trabalha no restaurante. Embora sejam totalmente opostas, elas se tornam amigas e amantes. Aos poucos, Sangaile começa a se abrir para o mundo e revela seu sonho a Auste: ser piloto de avião. O problema é que ela tem medo de altura. Como o título já sugere, o tal verão é a jornada de autoconhecimento de Sangaile, que conta com a ajudinha mais que desejada de Auste (não dá para não gostar dessa menina). Uma delícia de filme, um visual lindo. Recomendo.
Nota: 4/5
Alanté Kavaïté é uma roteirista e diretora lituana que lançou dois longas até agora: 'Vozes do tempo' (2006) e 'O verão de Sangaile' (2015) – por este último, a cineasta ganhou o Prêmio de Direção Dramática de Cinema Estrangeiro no Festival de Sundance de 2015.

Asas (Krylya/Wings - Larisa Shepitko, 1966) [Ucrânia]
Nadezhda Petrukhina é uma ex-piloto de avião que visita continuamente o campo de aviação para relembrar seus dias de alegria que ficaram para trás. Dispensada depois do fim da guerra, ela assumiu a direção de uma escola, onde tenta impor, sem sucesso, a dura disciplina militar aos alunos. Sua vida particular também é um desastre: devido à incompatibilidade de ideias, sua filha se afastou e agora está num relacionamento com um homem mais velho, o qual a mãe, obviamente, não aprova. Solitária, Nadezhda tenta se encaixar em um mundo cujos valores mudaram totalmente e encontrar alguém que compartilhe de seus ideais, mas todos a veem como uma peça de museu. Isso fica bem claro em uma cena em que ela está sentada no museu e um bando de crianças observa sem interesse relíquias dos grandes feitos de combatentes, inclusive os dela. Outra cena que me agradou é uma em que a protagonista conversa e dança com a balconista do bar no estabelecimento vazio enquanto um monte de homens as observa pela janela – um dos raros momentos em que vemos Nadezhda sorrir.
Nota: 3/5
Larisa Shepitko foi uma atriz, roteirista e diretora ucraniana formada pelo Instituto de Cinematografia de Moscou. Seu currículo conta com quatro longas e a direção de um dos dois segmentos do filme ‘O começo de um século inimaginável’ (1967). ‘Asas’ foi seu primeiro longa-metragem. ‘A despedida’ (1983) foi seu último trabalho, finalizado por seu marido, o também cineasta Elem Klimov, depois da morte da diretora em um acidente de carro durante as filmagens do referido filme.
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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação deste segundo ano do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Para ver o post de apresentação do primeiro ano do projeto com a lista de filmes e links, clique AQUI. 

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