segunda-feira, 6 de julho de 2020

Série: Anos Incríveis



Tenho o hábito de assistir a séries cômicas na minha hora do almoço, já que os episódios geralmente têm pouco mais de 20 minutos. O problema é que já vi muita coisa e sou meio chata para escolher. No começo da quarentena, eu já havia assistido tudo que me interessava e comecei a ficar meio desesperada. Fui no embalo da galera que estava (re)vendo “The Office” e revi o programa todo (na verdade, eu não tinha visto as 2 últimas temporadas, mas agora vi e gostei muito – o final foi emocionante). Só que isso que me fez voltar ao dilema: “O que assisto agora?”

Consultando minha lista de DVDs (porque sou apegada à mídia física), decidi rever “Anos Incríveis” por pura nostalgia (e porque os episódios são curtos, embora não seja uma comédia). Vi a série quando ela foi exibida pela primeira vez no Brasil, na TV Cultura, nos anos 90. Eu não perdia um episódio. Meu irmão e eu parávamos tudo e corríamos para ver o programa numa Telefunken enorme e em preto e branco que nem lembro de onde surgiu (e que na época já era bem ultrapassada) que ficava no meu quarto. Muitos anos depois, cheguei a ver um ou outro episódio no Multishow e demorei a me acostumar com o áudio original (as vozes dos dubladores me pareciam combinar mais com os atores).

Eis que agora comecei a ver a série de novo. E é sempre muito interessante revisitar histórias que gostamos. Quando vi o programa pela primeira vez, eu me encantava com os dilemas adolescentes de Kevin Arnold (o protagonista), já que eu tinha mais ou menos a mesma idade que ele. Ver como o garoto lidava com o primeiro amor e as primeiras decepções amorosas, a falta de entendimento dos pais, as briguinhas com os irmãos e as dificuldades na escola gerou uma identificação imediata com o personagem e com aquele universo (guardadas as diferenças culturais). Agora, presto atenção em outras coisas, aos comentários e críticas do narrador (o próprio Kevin décadas mais tarde), aos detalhes das relações familiares, aos temas sociais e políticos, ao papel das mulheres. E enfim compreendo plenamente porque essa é considerada uma das melhores séries dos anos 80.


O primeiro episódio já começa mostrando imagens marcantes de 1968 (Martin Luther King e Vietnã, por exemplo), e acompanhamos a ansiedade de Kevin às vésperas do seu primeiro dia de aula no junior high school (a sétima série), um novo universo para ele. Apesar de umas questões clássicas desse ambiente escolar americano que sempre achei meio bobas (todo o drama do que vestir na o primeiro dia, de escolher uma mesa no refeitório e de encontrar sua turma de estereotipados), dá para relevar e entender a necessidade de aceitação do novato.

A série se passa em um subúrbio americano (que o próprio narrador já ironiza ao definir que é “um lugar com todas as desvantagens da cidade e nenhuma das vantagens do campo – e vice-versa”), então temos a tradicional família de comercial de margarina: papai, mamãe e três filhinhos. O pai é aquele que se sente no direito de chegar em casa e não ser incomodado por ninguém, afinal já “deu duro” o dia todo e cumpriu seu papel de provedor. A mãe é aquela mulher saída diretamente dos anúncios de eletrodomésticos dos anos 50, a fada do lar que deve manter a casa impecável, cuidar dos filhos e receber o marido sempre sorridente e bem-arrumada enquanto se desdobra para servir logo o jantar e garantir que os filhos não importunem o pobre trabalhador esgotado.

Já no episódio de estreia fica claro o quanto aquele momento da história mundial (e especialmente americana) foi conturbado e de grandes mudanças. Nessa cena do jantar que descrevi acima, vemos um conflito de gerações e revoluções se esboçando: a mãe, Norma, repreende a filha mais velha do casal, a hippie Karen, por não ter voltado mais cedo para ajudá-la a preparar o jantar. O mais interessante, porém, é que Karen, embora esteja lutando para que as jovens de sua idade tenham mais liberdade sexual e se soltem das amarras do papel imposto de dona de casa exemplar, não percebe que ao ter deixado Norma na mão apenas reforçou a pesada carga que a mãe leva nos ombros. Sutilezas que eu obviamente não fui capaz de notar do alto dos meus 13 anos, mas que agora saltam aos olhos.


Outro ponto positivo da série é a trilha sonora. E ainda havia as discussões entre fãs sobre se o ator que interpreta Paul Pfeiffer, o melhor amigo de Kevin, era o Marilyn Manson...rs

Continuarei meu mergulho nostálgico durante os almoços dos próximos dias e semanas. Para quem nunca viu, recomendo demais. A série foi lançada na íntegra em DVD no Brasil, além de ter sido exibida na TV Cultura, na Bandeirantes, no Multishow e na Rede 21 (não faço ideia se está disponível em algum streaming).

ATUALIZAÇÃO EM 10/07: Alguns dias depois que publiquei este post, foi divulgado que a série ganhará um reboot, tendo uma família negra como protagonista e Fred Savage (o Kevin da versão original) na direção. É uma ótima notícia! Acho que será bem interessante ver como foram aqueles anos agitados de um ponto de vista diferente, abordando questões diferentes. Já estou ansiosa para ver.

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