quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Resenha: A Inquilina de Wildfell Hall


Helen é uma jovem viúva que vai morar com o filho pequeno no velho casarão Wildfell Hall. Sua vida solitária e sua discrição fazem com que os moradores do vilarejo fiquem curiosos a respeito dela e comecem a especular sobre seu passado. Gilbert Markham, um fazendeiro da região, consegue dar início a uma amizade com a moça e, quando cai em si, percebe que está apaixonado por ela. Mas algo no comportamento dela o intriga. Decidido a descobrir o que ela esconde, ele começa a investigar. O que descobre, no entanto, não o agrada nem um pouco.

Quando Gilbert vai questionar Helen sobre os boatos que correm sobre ela e sobre o que ele imagina ser a verdade, ela, cansada demais para discutir ou dar qualquer explicação, entrega a ele seu diário, e é então que ficamos conhecendo seu passado.

Helen fora uma garota romântica e sonhadora. Em todos os pretendentes que lhe arranjavam, ela botava defeito. No entanto, se rende aos encantos de Arthur Huntingdon e, embora avisada por amigas e advertida pela tia de que o moço não era flor que se cheirasse, ela decide se casar com ele. Na verdade, aos seus olhos de moça ingênua e extremamente religiosa, não poderia haver melhor escolha. Ela vê no casamento a oportunidade perfeita de transformar um jovem festeiro, que adorava beber e que não podia ver um rabo de saia, em um homem de família respeitável. É claro que isso não dá certo, né?

O plano não só dá errado como Helen come o pão que o diabo amassou. Huntingdon flertava com várias mulheres, hospedava seus amigos igualmente baderneiros durante meses em sua casa, enchia a cara, ofendia e usava violência contra a esposa, passava meses farreando em Londres e, a certa altura, tem a cara de pau de levar a amante para morar com eles. Helen se resignava com tudo. Não perdia a fé. Mas a partir do momento que Huntingdon começa a arruinar o filho deles, fazendo o menino beber e xingar, ela percebe que não dava mais para ficar ali, que, se não havia como salvar a si mesma, pelo menos devia fazer o que fosse preciso para proteger a criança. E decide fugir. Muita coisa acontece até que o plano se concretize e, apesar de achar a religiosidade exacerbada de Helen muito irritante em alguns momentos, e que ela foi realmente tola ao acreditar que podia mudar o esposo e que era essa sua missão na vida, não dá para não admirar a garra que ela tem nem para não torcer por ela.

Antes de traduzir ‘A Inquilina de Wildfell Hall’ eu só havia lido as obras das outras irmãs (de 'Jane Eyre' já falei AQUI; de 'O Morro dos Ventos Uivantes' eu não gostava, mas reli esses dias e mudei de opinião – devo postar a resenha em breve) e estava curiosa para finalmente ler a famosa cena em que a protagonista tem a ousadia de bater a porta na cara do marido por causa do alcoolismo e da violência dele, numa época em que se achava que as esposas eram obrigadas a aguentar de tudo.

Essa cena, que aparece lá pela metade do livro, é muito boa e imagino que deva mesmo ter causado um escândalo na época. No entanto, Anne Brontë já havia ganho minha admiração muito antes, num dos capítulos iniciais, quando Helen, em um dos primeiros encontros com Mr. Markham, discute com ele sobre sua postura em relação ao filho e defende que meninas e meninos devem ser criados da mesma forma, sem privar as garotas de experiências enquanto se permite de tudo aos seus pares masculinos. Sem dúvida, uma das minhas partes favoritas.

“Arthur não é o que eu comumente chamaria de ‘homem mau’: ele tem muitas qualidades, mas é um homem sem autocontrole ou aspirações mais elevadas, um amante do prazer, que se entrega aos instintos animais; ele não é um marido ruim, mas suas noções de confortos e deveres matrimoniais são bem diferentes das minhas. A julgar pelas aparências, a ideia que faz de uma esposa é que é uma coisa que deve amar devotadamente, ficar em casa à espera do marido e entretê-lo e confortá-lo de todas as maneiras possíveis, independente de ele decidir ficar ou não com ela; e que, quando ele estiver ausente, cuidando de seus interesses, domésticos ou de outro tipo, deve aguardar pacientemente o seu retorno, independente do que o tenha mantido ocupado durante esse tempo."

Como eu disse, a ingenuidade e a fé cega de Helen chegam a dar desespero em alguns momentos. Eu queria sacudi-la e dizer ‘Amiga, acorda!’. Mas a determinação da personagem e sua força para superar as adversidades são incríveis. Sem contar as ideias avançadas para a época, que criticavam um relacionamento abusivo e pregavam uma igualdade entre os sexos na educação das crianças. Uma leitura mais que recomendada!

Nota: 4/5

Quem se interessou pode comprar o livro no site da Pedrazul Editora.
Ah, e para quem não viu, AQUI tem a entrevista comigo publicada na época do lançamento do livro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Michelle!
Eu coloquei esse livro na minha meta para esse ano. Eu meio que descobri por acaso, porque nem sabia que as irmãs Brontë eram três. Sempre achei que fossem duas! xD

A premissa é boa e eu gosto de personagens à frente do tempo, com personalidade forte e ousada. Estou lendo um livro que a mocinha é assim também, salvo as diferenças.

Que legal você ser a tradutora. Vou dar uma olhada na edição que tenho aqui!
Parabéns! :D

Bjs ;)

Michelle disse...

Ana,
A Anne é a menos celebrada das irmãs, mas acabou virando minha preferida (até agora).
Acho que você vai gostar da história ;)