E
aqui estou eu para mais um mês de outubro dedicado ao terror. Para começar,
nada melhor que cinco filmes de terror dirigidos por mulheres.
Honeymoon
(Honeymoon, 2014 – Leigh Janiak) [Estados Unidos]
Paul
e Bea são recém-casados que decidem passar a lua de mel na antiga casa de
veraneio da família dela. Obviamente apaixonados, eles não se desgrudam. O
clima de intimidade só é quebrado quando Paul faz uma brincadeira com relação a
uma futura gravidez, coisa que certamente não haviam discutido e que perturba a
moça. Um antigo amor juvenil de Bea, que eles encontram no único restaurante do
vilarejo, agrava a situação ao despertar ciúme em Paul e preocupação em Bea ao
ver o amigo de infância tratar a esposa de forma violenta. O estopim de uma
briga é o desaparecimento de Bea por algumas horas durante a noite, encontrada
mais tarde em um estado semelhante ao de sonambulismo. E no dia seguinte ela
começa a agir de forma estranha. Bem, não posso dizer que tenha sido
surpreendida – saquei logo o que estava acontecendo com ela. Mesmo assim,
gostei da atmosfera de paranoia e do desfecho. E achei o casal superentrosado.
Nota:
4/5
Leigh
Janiak é uma roteirista e diretora americana. Honeymoon é seu
primeiro filme. Ela dirigiu episódios das séries de TV Pânico (2015) – inspirada
nos filmes e Outcast (2016), ambas de terror. Ao que parece, ela vem
trabalhando no filme Jovens Bruxas 2, a ser lançado em 2019.
Alma
Gêmea (Soulmate, 2014 – Axelle Carolyn) [Bélgica]
Audrey
é uma mulher atormentada pela morte do esposo. Após uma tentativa de suicídio,
ela resolve se isolar em uma casa no campo para tentar se reerguer. Logo na
primeira noite ela ouve barulhos vindos do sótão. Na manhã seguinte, ela vai falar
com o responsável, que diz que provavelmente eram apenas ratos e se nega a dar
a chave do cômodo à inquilina, alegando que o dono da casa havia deixado seus
pertences guardados ali. Mas os barulhos continuam e ela acha ter visto um
intruso dentro de casa numa madrugada. Quando ela finalmente entra no sótão,
encontra mais do que objetos e fotografias. A atmosfera gótica é bem bacana,
com portas que batem, pisos que rangem, vento que açoita as vidraças sem parar e
vizinhos estranhos que querem perpetuar o mistério que envolve o ex-morador da
casa. A trama, no entanto, não me marcou. Para quem gosta de histórias de
fantasma.
Axelle
Carolyn é uma jornalista, atriz, produtora, roteirista e diretora belga. Entre
2005 e 2008, ela escreveu sobre terror para vários sites e revistas e, 2008,
ganhou um prêmio pela publicação do livro de não-ficção It lives again!
Horror movies. Em 2014, criou e coproduziu a antologia de terror Tales
of Halloween, na qual dirigiu um episódio (já falei desse filme aqui).
A
Maldição da Freira (The devil’s doorway, 2018 – Aislinn Clarke)
[Irlanda]
Neste
found footage, dois padres são enviados pelo Vaticano, nos anos 60, a um
convento irlandês que servia de abrigo para órfãos, mães solteiras ou mulheres com
transtornos mentais, para investigar um suposto milagre: uma estátua que chora
lágrimas de sangue. Ao chegarem lá, eles encontram um ambiente de abusos por parte
das freiras, principalmente da madre superiora, a clássica carrasca que usa
religião para punir em vez de acolher e transformar. A investigação do milagre
fica até em segundo plano quando os padres encontram no porão uma jovem grávida
acorrentada que parece estar possuída por algum demônio. Com dois religiosos
que são o perfeito contraponto um do outro (um mais velho e cético,
decepcionado com as atitudes da igreja; o outro jovem, entusiasmado e cheio de
esperança) e uma atmosfera claustrofóbica, o filme mantém a tensão. Mas o
horror, para mim, vem mais da crueldade humana tão normatizada em instituições
religiosas – naquele tempo e ainda hoje – do que dos eventos sobrenaturais. De
qualquer modo, é um filme OK.
Nota:
3/5
Aislinn
Clarke é uma produtora, roteirista e diretora irlandesa com 3 curtas e 1
longa no currículo. A maldição da freira é o primeiro filme de terror
escrito e dirigido por uma mulher irlandesa e é inspirado em uma história real sobre os
horrores infligidos pela igreja católica a mãe solteiras que acabavam nos
Asilos de Madalena em busca de abrigo e proteção e eram escravizadas e
maltratadas – a instituição funcionou de 1765 a 1996.
Mortos
de Fome (Ravenous, 1999 – Antonia Bird) [Inglaterra]
Em
um jantar oficial do exército, o tenente Boyd recebe uma medalha de honra por
sua atuação corajosa na guerra dos EUA contra o México, mas tudo não passa de
uma manobra para afastá-lo do regimento e mandá-lo para um forte lá nos confins
da Califórnia (época em que a região era o oeste selvagem). Seus companheiros
de forte também são ex-combatentes com algum tipo de dano psicológico. Numa
noite de nevasca, eles resgatam um homem à beira da morte por congelamento. O homem
conta uma história terrível de coisas que foi obrigado a fazer para não morrer de fome
nos meses que passou trancado com seu grupo em uma caverna, e diz que talvez
ainda haja alguém vivo. Os soldados, então, decidem ir com o estranho até a
caverna para verificar e, claro, as coisas dão muito errado. Achei meio
arrastado, mas é interessante como o mito do wendigo é usado para fazer uma
crítica à corrida do ouro e ao massacre indígena promovido por gente gananciosa.
Nota:
3/5
Antonia
Bird é uma diretora de teatro, produtora e cineasta inglesa. Ela tem cinco
longas como diretora, além de 4 filmes para a TV e 1 documentário (3 deles
ganhadores do prêmio BAFTA) e séries. Seu primeiro trabalho na televisão foi Submariners
(1983), adaptação de uma das produções de teatro que ela dirigiu.
Desejo
e Obsessão (Trouble every day, 2001 – Claire Denis) [França]
Um
casal que viaja a Paris em lua de mel. Um médico que abandona a carreira em um
grande laboratório para atender como clínico geral e poder passar mais tempo em
casa perto da mulher doente. A premissa parece simples e a trama se desenrola
devagar, quase sem diálogo. No entanto, palavras não são mesmo necessárias
quando desde a primeira cena já dá para notar que há algo muito estranho
acontecendo com esses casais. Não quero falar muito porque acho que é aquele
tipo de filme que quanto menos se sabe da história antes da sessão, melhor.
Digo apenas que a sensação que me acompanhou o tempo todo foi a de incômodo, de
estranhamento. E também fascínio e repulsa pelas cenas de sexo e morte. Talvez
tenha sido essa a intenção. Só para lembrar: é um filme de terror, OK? Com
sangue. Bastante.
Nota:
4/5
Claire
Denis é uma roteirista e diretora francesa. Seus filmes têm como tema o
colonialismo francês na África (ela cresceu em países do leste africano) e
questões atuais na sociedade francesa. Seu primeiro filme, Chocolate, de
1988, aborda essa primeira temática. Ela tem 14 longas no currículo (incluindo
1 feito para TV), além de 7 curtas e 3 documentários. Seu trabalho mais
recente, High Life, estreou em setembro de 2018 no Festival
Internacional de Cinema de Toronto.
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