Finalmente o post que venho prometendo desde o início do ano: 5 animações com mulheres na direção.
Sita
sings the blues (Sita sings the blues, 2008 – Nina Paley) [Estados
Unidos]
Duas
narrativas paralelas que guardam algumas semelhanças: em uma delas, a diretora
conta como o seu casamento foi afetado quando o marido vai dos Estados Unidos
para a Índia a trabalho e a viagem que ela faz atrás dele para tentar salvar a
relação; na outra, acompanhamos os acontecimentos do Ramayana, um épico indiano
no qual o príncipe Rama é expulso do castelo do pai e deixa o reino acompanhado
pela esposa, Sita, em uma jornada cheia de infortúnios. Entre as duas
narrativas, um trio de personagens ao estilo teatro de sombras tece comentários
ácidos sobre os eventos mostrados no épico e critica sem dó as atitudes
egoístas e machistas de Rama. Costurando todos os fragmentos estão os clipes
musicais em que Sita
canta blues. A Lígia me indicou esse filme tempos atrás, mas só agora assisti.
E fiquei totalmente apaixonada. Resumidamente, o filme me ganhou porque: 1) usa
quatro estilos diferentes de animação; 2) os comentários ácidos das silhuetas
são certeiros; 3) as músicas são maravilhosas e ficam na cabeça por um bom
tempo. Imperdível.
Tem
no YouTube legendado (a autora liberou os direitos de exibição gratuita na
plataforma).
Nota:
4/5
Nina
Paley é uma roteirista, diretora, produtora, montadora, cartunista,
animadora e ativista americana em favor do livre acesso à cultura. Em seu
portfólio, vários cartoons e curtas animados. 'Sita sings the blues'
é seu primeiro longa, e ‘Seder-masochism’, uma reinterpretação do Livro
do Êxodo, seu trabalho mais recente, teve sua primeira exibição em 11 de junho
deste ano e está percorrendo festivais mundo afora.
A
ganha-pão (The breadwinner, 2017 – Nora Twomey) [Irlanda]
A
história, baseada no livro de Deborah Ellis, mostra como Parvana, uma garota de
11 anos, é obrigada a se vestir de menino para poder sair de casa sozinha e
tentar conseguir dinheiro para alimentar a família depois que o pai é preso por
contrariar o regime Talibã.
Num
mundo regido pelo medo e que faz com que pouquíssimos se arrisquem a ajudar
alguém que esteja em apuros, Parvana felizmente se depara com pessoas boas e,
sobretudo, destemidas. Uma história bonita sobre compaixão, união familiar e resistência.
Gostei demais, tanto da trama quanto do visual. Tem na Netflix (ou tinha, não
sei...)
Nota:
5/5
Nora
Twomey é uma roteirista, diretora, produtora, animadora e dubladora
irlandesa. Na função de diretora, ela tem dois curtas e dois longas: ‘Uma
viagem ao mundo das fábulas' (codirigido com Tomm Moore) e 'A ganha-pão',
ambos indicados na categoria Melhor Animação do Oscar.
9,99
(9.99, 2008 – Tatia Rosenthal) [Israel]
Nesta
coprodução de Israel e Austrália em stop-motion, acompanhamos Dave, um
cara de quase 30 anos que ainda mora com o pai e que, seduzido pela propaganda,
procura respostas prontas (no caso, em um livro) sobre o sentido da vida. Além
dele, também conhecemos outros moradores do mesmo edifício: um garotinho que
junta moedas no porquinho para comprar um boneco (mas que acaba mudando de
ideia no final), uma mulher sedutora que vai sugando a vida de seus amantes (que
abrem mão de quem são porque desejam ser amados a qualquer custo), um senhor
viúvo sempre prestes a morrer em algum acidente causado por ele mesmo (porém
salvo constantemente por seu anjo da guarda) e o pai de Dave, frustrado pelo
filho não querer seguir seus passos (mas ao mesmo tempo aliviado por saber que
ele não terá uma vida guiada apenas por ideais de sucesso corporativo). Cada
personagem reflete os anseios e as frustrações da sociedade atual, sempre atrás
de satisfação imediata e soluções mágicas conseguidas com dinheiro, mas que
custam muito mais que o valor pago por elas. Revi a animação para fazer o post
e continuo achando um ótimo trabalho, daqueles que equivalem a um puxão de
orelha. Mais um que recomendo fortemente.
Nota:
4/5
Tatia
Rosenthal é uma animadora e diretora nascida em Tel Aviv , Israel, que,
antes de entrar para a Tisch School of the Arts em Nova York , tentou a
carreira de medicina e estudou fotografia em Paris. No canal dela no YouTube dá para conhecer um pouco de seu trabalho.
Com
amor, Van Gogh (Loving Vincent, 2017 – Dorota Kobiela, Hugh Welchman)
[Polônia]
Uma
carta endereçada a Theo, irmão de Van Gogh, é encontrada um ano após a morte do
pintor. O autor da descoberta, aconselhado pelo carteiro que conhecia o
remetente, parte, então, em uma viagem para entregar a mensagem ao destinatário
e, de quebra, tenta desvendar o mistério: Van Gogh teria mesmo se suicidado ou
fora assassinado? A trama é bem simples, mas o filme merece destaque por sua
inovadora técnica de animação que utiliza pinceladas a óleo inspiradas no
estilo do pintor homenageado e traz figuras por ele retratadas das telas
emolduradas para os frames, dando a elas movimento e voz. Os atores que dão
vida a esses personagens não apenas dublam essas figuras, mas também emprestam
suas feições a elas. Sem dúvida, deve ter dado um trabalhão. E o resultado é
magnífico, pelo menos no quesito visual.
(A Lulu também falou do filme na época do lançamento).
Nota:
4/5
Dorota
Kobiela é uma roteirista, produtora, cineasta e animadora polonesa. Ela tem
três curtas anteriores a 'Com amor, Van Gogh', que é seu primeiro
longa-metragem, codirigido com Hugh Welchman. A diretora, que também é pintora,
inicialmente havia idealizado um curta de 7 minutos. A dupla acabou trabalhando
no longa por 7 anos, com a colaboração de 125 pintores.
A
silent voice (Koe no katachi, 2016 – Naoko Yamada) [Japão]
Filme
sobre uma garota com deficiência auditiva que, no ensino fundamental, se muda
para uma escola nova e sofre bullying, tendo que ser transferida
novamente. Anos depois, já no ensino médio, ela reencontra um dos garotos que
costumavam atormentá-la e, arrependido, ele faz de tudo para ser seu amigo. Mas
nem todos que infernizavam a vida da garota mudaram de atitude com relação a
ela depois de crescidos. Gostei em parte do filme. A animação em si, achei
linda. O enredo me incomodou um pouco porque a protagonista acaba virando
coadjuvante da própria história e achei o nível de desgraceira usado para
promover a reflexão desnecessariamente pesado. Em todo caso, um bom filme.
Naoko
Yamada é uma animadora e diretora de cinema e programas para a TV nascida
no Japão. Dirigiu a bem-sucedida série de anime ‘K-On!’ e o filme de
mesmo nome, a série ‘Tamako Market’ e o filme ‘Tamako Love Story’.
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Um comentário:
Desses filmes, só não vi "A silent voice" (que baixei faz um tempão e ainda não assisti).
Adoro como "Sita" usa diferentes estilos de desenho para contar as histórias e adoro as silhuetas e seus comentários.
Gostei de "A ganha-pão", mas acho que esperava mais.
Já não lembro mais nada de 9.99, mas lembro que o filme me surpreendeu muito positivamente.
Acho que "Com amor, Van Gogh" vale bem mais a pena pelo visual do que pela história. Gostaria de ver mais animações nesse estilo, mas acho difícil, considerando o trabalhão que dá.
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