terça-feira, 25 de setembro de 2018

Veja Mais Mulheres: Filmes #12-16



Finalmente o post que venho prometendo desde o início do ano: 5 animações com mulheres na direção.

Sita sings the blues (Sita sings the blues, 2008 – Nina Paley) [Estados Unidos]
Duas narrativas paralelas que guardam algumas semelhanças: em uma delas, a diretora conta como o seu casamento foi afetado quando o marido vai dos Estados Unidos para a Índia a trabalho e a viagem que ela faz atrás dele para tentar salvar a relação; na outra, acompanhamos os acontecimentos do Ramayana, um épico indiano no qual o príncipe Rama é expulso do castelo do pai e deixa o reino acompanhado pela esposa, Sita, em uma jornada cheia de infortúnios. Entre as duas narrativas, um trio de personagens ao estilo teatro de sombras tece comentários ácidos sobre os eventos mostrados no épico e critica sem dó as atitudes egoístas e machistas de Rama. Costurando todos os fragmentos estão os clipes musicais em que Sita canta blues. A Lígia me indicou esse filme tempos atrás, mas só agora assisti. E fiquei totalmente apaixonada. Resumidamente, o filme me ganhou porque: 1) usa quatro estilos diferentes de animação; 2) os comentários ácidos das silhuetas são certeiros; 3) as músicas são maravilhosas e ficam na cabeça por um bom tempo. Imperdível.
Tem no YouTube legendado (a autora liberou os direitos de exibição gratuita na plataforma).
Nota: 4/5
Nina Paley é uma roteirista, diretora, produtora, montadora, cartunista, animadora e ativista americana em favor do livre acesso à cultura. Em seu portfólio, vários cartoons e curtas animados. 'Sita sings the blues' é seu primeiro longa, e ‘Seder-masochism’, uma reinterpretação do Livro do Êxodo, seu trabalho mais recente, teve sua primeira exibição em 11 de junho deste ano e está percorrendo festivais mundo afora.

A ganha-pão (The breadwinner, 2017 – Nora Twomey) [Irlanda]
A história, baseada no livro de Deborah Ellis, mostra como Parvana, uma garota de 11 anos, é obrigada a se vestir de menino para poder sair de casa sozinha e tentar conseguir dinheiro para alimentar a família depois que o pai é preso por contrariar o regime Talibã.
Num mundo regido pelo medo e que faz com que pouquíssimos se arrisquem a ajudar alguém que esteja em apuros, Parvana felizmente se depara com pessoas boas e, sobretudo, destemidas. Uma história bonita sobre compaixão, união familiar e resistência. Gostei demais, tanto da trama quanto do visual. Tem na Netflix (ou tinha, não sei...)
Nota: 5/5
Nora Twomey é uma roteirista, diretora, produtora, animadora e dubladora irlandesa. Na função de diretora, ela tem dois curtas e dois longas: ‘Uma viagem ao mundo das fábulas' (codirigido com Tomm Moore) e 'A ganha-pão', ambos indicados na categoria Melhor Animação do Oscar.

9,99 (9.99, 2008 – Tatia Rosenthal) [Israel]
Nesta coprodução de Israel e Austrália em stop-motion, acompanhamos Dave, um cara de quase 30 anos que ainda mora com o pai e que, seduzido pela propaganda, procura respostas prontas (no caso, em um livro) sobre o sentido da vida. Além dele, também conhecemos outros moradores do mesmo edifício: um garotinho que junta moedas no porquinho para comprar um boneco (mas que acaba mudando de ideia no final), uma mulher sedutora que vai sugando a vida de seus amantes (que abrem mão de quem são porque desejam ser amados a qualquer custo), um senhor viúvo sempre prestes a morrer em algum acidente causado por ele mesmo (porém salvo constantemente por seu anjo da guarda) e o pai de Dave, frustrado pelo filho não querer seguir seus passos (mas ao mesmo tempo aliviado por saber que ele não terá uma vida guiada apenas por ideais de sucesso corporativo). Cada personagem reflete os anseios e as frustrações da sociedade atual, sempre atrás de satisfação imediata e soluções mágicas conseguidas com dinheiro, mas que custam muito mais que o valor pago por elas. Revi a animação para fazer o post e continuo achando um ótimo trabalho, daqueles que equivalem a um puxão de orelha. Mais um que recomendo fortemente.
Nota: 4/5
Tatia Rosenthal é uma animadora e diretora nascida em Tel Aviv, Israel, que, antes de entrar para a Tisch School of the Arts em Nova York, tentou a carreira de medicina e estudou fotografia em Paris. No canal dela no YouTube dá para conhecer um pouco de seu trabalho.

Com amor, Van Gogh (Loving Vincent, 2017 – Dorota Kobiela, Hugh Welchman) [Polônia]
Uma carta endereçada a Theo, irmão de Van Gogh, é encontrada um ano após a morte do pintor. O autor da descoberta, aconselhado pelo carteiro que conhecia o remetente, parte, então, em uma viagem para entregar a mensagem ao destinatário e, de quebra, tenta desvendar o mistério: Van Gogh teria mesmo se suicidado ou fora assassinado? A trama é bem simples, mas o filme merece destaque por sua inovadora técnica de animação que utiliza pinceladas a óleo inspiradas no estilo do pintor homenageado e traz figuras por ele retratadas das telas emolduradas para os frames, dando a elas movimento e voz. Os atores que dão vida a esses personagens não apenas dublam essas figuras, mas também emprestam suas feições a elas. Sem dúvida, deve ter dado um trabalhão. E o resultado é magnífico, pelo menos no quesito visual.
(A Lulu também falou do filme na época do lançamento).
Nota: 4/5
Dorota Kobiela é uma roteirista, produtora, cineasta e animadora polonesa. Ela tem três curtas anteriores a 'Com amor, Van Gogh', que é seu primeiro longa-metragem, codirigido com Hugh Welchman. A diretora, que também é pintora, inicialmente havia idealizado um curta de 7 minutos. A dupla acabou trabalhando no longa por 7 anos, com a colaboração de 125 pintores.

A silent voice (Koe no katachi, 2016 – Naoko Yamada) [Japão]
Filme sobre uma garota com deficiência auditiva que, no ensino fundamental, se muda para uma escola nova e sofre bullying, tendo que ser transferida novamente. Anos depois, já no ensino médio, ela reencontra um dos garotos que costumavam atormentá-la e, arrependido, ele faz de tudo para ser seu amigo. Mas nem todos que infernizavam a vida da garota mudaram de atitude com relação a ela depois de crescidos. Gostei em parte do filme. A animação em si, achei linda. O enredo me incomodou um pouco porque a protagonista acaba virando coadjuvante da própria história e achei o nível de desgraceira usado para promover a reflexão desnecessariamente pesado. Em todo caso, um bom filme.
Naoko Yamada é uma animadora e diretora de cinema e programas para a TV nascida no Japão. Dirigiu a bem-sucedida série de anime ‘K-On!’ e o filme de mesmo nome, a série ‘Tamako Market’ e o filme ‘Tamako Love Story’.

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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação desta terceira edição do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Também dá para conferir o post de apresentação e a lista de filmes e links do primeiro ano e do segundo ano do projeto.

Um comentário:

Lígia disse...

Desses filmes, só não vi "A silent voice" (que baixei faz um tempão e ainda não assisti).

Adoro como "Sita" usa diferentes estilos de desenho para contar as histórias e adoro as silhuetas e seus comentários.

Gostei de "A ganha-pão", mas acho que esperava mais.

Já não lembro mais nada de 9.99, mas lembro que o filme me surpreendeu muito positivamente.

Acho que "Com amor, Van Gogh" vale bem mais a pena pelo visual do que pela história. Gostaria de ver mais animações nesse estilo, mas acho difícil, considerando o trabalhão que dá.