Lizzie
Borden é uma das figuras americanas cuja atração resiste ao tempo e ainda
hoje continua fascinando e horrorizando pessoas no mundo todo. Prova disso é o
número de vezes que a história da moça que supostamente matou o pai e a
madrasta a machadadas (o crime nunca foi comprovado) em 1892 já foi contada em
filmes, séries de TV, musicais de teatro e ópera e programas investigativos,
sem contar as vezes que já serviu de inspiração para contos e romances, músicas
e bandas e até, como já postei aqui antes, pseudônimo de cineasta.
Aproveitarei, então, o clima de horror de outubro para falar sobre um filme e
uma minissérie frutos da atração da personagem: ‘A arma de Lizzie Borden’ e
‘The Lizzie Borden Chronicles’.
No
telefilme produzido pelo canal Lifetime em 2014, Christina Ricci vive a
protagonista e Clea DuVall interpreta sua irmã, Emma. A história começa
mostrando brevemente os atritos de Lizzie com o pai e com a madrasta, seu
comportamento rebelde e sua tendência à mentira, seu sangue-frio e sua dissimulação.
Desde o início, são evidentes os traços de psicopatia de Lizzie, e fica claro
que o assassinato da dupla não foi resultado de ânimos exaltados, e sim um crime
premeditado.
A
maior parte do filme é dedicada ao julgamento de Lizzie e à investigação do caso.
Embora durante toda a projeção seja sugerido que a moça matou mesmo o pai e a madrasta, só nos instantes finais vemos a cena da protagonista descendo o
machado nos dois. Ao que parece, a produção foi bastante fiel aos fatos.
Destaco o trabalho incrível de Ricci, que convence tanto como uma jovem frágil
e inocente quanto como uma assassina fria e manipuladora, o figurino
maravilhoso (o que são aqueles vestidos com uma espécie de gravata? lindos!) e
a trilha sonora moderna que, embora à primeira vista pareça deslocada por sua
contemporaneidade, casa perfeitamente com as cenas e dão o tom certo às ações.
Já a
minissérie em 8 episódios mostra o que aconteceu na vida de Lizzie e de sua irmã (novamente
interpretadas pelas mesmas atrizes) nos anos seguintes ao julgamento. A produção
se baseou em alguns fatos e especulações referentes aos problemas financeiros e
às discussões por causa de dinheiro que os Borden enfrentavam (dívidas,
descontentamento de Lizzie e Emma com a família da madrasta que exigia
aquisições de propriedades caras, a existência de um filho bastardo de Andrew
que também estaria tentando arrancar uma grana dos Borden).
Outras
especulações de época são inseridas discretamente, tanto na série quanto no
filme, como, por exemplo, a possibilidade de Lizzie e/ou sua irmã terem sofrido
violência física e/ou sexual nas mãos do pai e de Lizzie ser lésbica e ter que lidar com as humilhações impostas pelo pai e pela madrasta – detalhes que corroborariam
sua vontade de se livrar deles.
Na
série, Lizzie deixa de ser apenas uma moça que matou os pais e passa a ser
retratada como uma serial killer numa extrapolação ficcional do mito. Ainda que
quase tudo na trama tenha sido inventado, não deixa de funcionar muito bem como
entretenimento. A protagonista continua fazendo o jogo de frágil/amedrontadora
para se safar/se impor conforme a necessidade. Na imaginação dos criadores da
série, ela usa sua forte personalidade para conseguir o que quer, seja
manipulando a irmã (com quem tem uma relação ora de controle, ora de
dependência emocional), seja mostrando sua faceta de mulher de negócios (encarando os credores, ameaçando chantagistas, fazendo alianças com poderosos
do submundo).
Um
personagem importante adicionado à trama da minissérie é Charlie Siringo, um
agente Pinkerton que chega à cidade de Fall River para investigar por conta
própria o assassinato dos Borden e para provar que Lizzie é a culpada. No
desenrolar dos fatos, ele acaba se envolvendo com Isabel, a esposa do violento
dono do hotel, e, obviamente, as coisas se complicam para ele. O relacionamento amoroso entre Emma Borden e o policial dedicado também é outro ponto de conflito na trama, já que coloca em perigo a proximidade das irmãs.
Apesar dos rumores de que haveria uma segunda temporada, o programa foi elaborado desde o início como uma minissérie, então pode assistir sem susto que a história tem um desfecho (que achei bom, aliás). O
visual e a trilha sonora incríveis seguem o mesmo estilo do filme e as cenas de
assassinato são muito boas, causando um misto de repulsa e encanto.
Para mim,
não foi apenas o fascínio mórbido por histórias de serial killer que me
atraiu para ver o filme e a série, e sim a presença de Christina Ricci e Clea
DuVall, duas atrizes que adoro e que me fazem assistir de tudo...rs. Mais uma
vez, elas não decepcionam. Muito além da curiosidade pelo crime, sua
investigação e seu desfecho, foram suas personagens bem construídas e a relação
complexa entre as irmãs (cumplicidade, amor, ódio) que me prenderam. Recomendo
fortemente como programa de Halloween ou em qualquer outro momento do ano.
Nota
(filme e série): 4/5
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