Olá!
E
este é o post de encerramento do #vejamaismulheres 2017, com os últimos 5 filmes
oficiais do projeto (mas pretendo fazer um post com outros filmes de diretoras
que não entraram na contagem, mas que assisti este ano). Aqui tem um pouco de
tudo: 2 filmes que vi na 41ª Mostra Internacional de Cinema de SP (um da
Indonésia e um da Geórgia), um do Brasil que vi no cinema,
um documentário americano que tem no Netflix e no Clarovideo
e um de diretora marroquina (também disponível no Clarovideo).
Vem conferir!
Marlina,
assassina em quatro atos (Marlina si pembunuh dalan empat babak, 2017 – Mouly
Surya) [Indonésia]
O
que pode ser mais másculo do que um filme de bang-bang? Homens destemidos
sacando pistolas e dando tiros a torto e a direito, agarrando à força o que
querem e acham que lhes pertence, um festival de violência numa terra de
ninguém. Marlina, a protagonista, vive numa área rural da Indonésia onde
a barbárie é imposta por alguns criminosos e, à população, só resta
aceitar tudo em silêncio. Um
dia, o bando de marginais invade a casa de Marlina e a faz cozinhar para eles
enquanto a aterroriza dizendo como a roubariam e estuprariam (o que realmente
acontece). Lutando como pode, ela consegue se livrar dos bandidos e acaba
decapitando o chefe deles. Aí começa o problema: apesar de ter feito o que fez
para sobreviver, ela precisa provar que tudo o que aconteceu é verdade. Rodando
pelas estradas empoeiradas com a cabeça do morto em um saco para dar queixa na
polícia, ela enfrenta outras dificuldades no percurso, mas encontra uma aliada,
Novi, a grávida tagarela que, embora também esteja às voltas com um
traste de marido, não hesita em ajudar a outra em sua jornada. Visual
lindíssimo, trilha sonora interessante e um faroeste que subverte o que se
espera de um filme do gênero. Gostei muito.
Nota:
4/5
Mouly
Surya é uma roteirista e diretora indonésia que tem 3 longas no
currículo: ‘Friski’, que levou quatro prêmios importantes no Festival de
Cinema da Indonésia em 2008, incluindo melhor filme e melhor
direção, ‘O que não falam quando falam de amor’ e ‘Marlina...’,
que vem sendo exibido em vários festivais pelo mundo.
Dede
(Dede, 2017 – Mariam Khatchvani) [Geórgia]
A
história se passa em 1992, em um povoado isolado no nordeste da Geórgia, nas
montanhas do Cáucaso, região com fortes tradições e crenças. Dina é uma moça
que foi prometida em casamento a um rapaz que vai para a guerra. Quando ele
retorna, um amigo que salvou sua vida no campo de batalha vem junto, e é por
ele que Dina se apaixona. Mas como desfazer o compromisso assumido
anteriormente pelos pais dos jovens? A solução encontrada por Dina obviamente
gera conflitos e leva a desgraça às famílias de ambos. O filme fala sobre a
falta de liberdade, o peso das escolhas e a coragem de ir contra o padrão. Gostei
muito da luzinha de esperança que aparece no final.
Nota:
3,5/5
Mariam
Khatchvani é uma roteirista e diretora georgiana que já tem na bagagem
vários curtas documentais premiados. ‘Dede’ é seu primeiro
longa-metragem.
Como
nossos pais (Como nossos pais, 2017 – Laís Bodanzky) [Brasil]
Rosa
é uma mulher que está no limite: frustrada profissionalmente, descontente com o
marido, cansada de correr atrás dos filhos e de, ainda por cima, ter que
consertar os vacilos do pai inconsequente com sua nova família. Um dia, num
daqueles clássicos almoços de domingo, Clarice, a mãe com quem Rosa já tem uma
relação conflituosa, faz uma revelação inesperada sobre a paternidade da moça.
Com seu mundo virado de cabeça para baixo, ela sai à procura de suas raízes,
busca sua verdadeira identidade e tenta compreender seus desejos reais. Uma
história muito verdadeira por sua simplicidade e universalidade. Gostei demais
(embora tenha ficado um tanto perturbada).
Nota:
4/5
Laís
Bodanzky é uma roteirista, diretora e produtora brasileira. Seu
primeiro longa-metragem é o premiadíssimo ‘Bicho de sete cabeças’, lançado
no ano 2000. Além dele, a diretora tem mais 3 longas de ficção no currículo,
sendo ‘Como nossos pais’ o mais recente. Além disso, ela já
roteirizou e dirigiu episódios de séries de TV (‘Psi’, ‘Educação.doc’) e
documentários (‘Mulheres olímpicas’ e‘Cine mambembe’, entre outros).
The
wolfpack (The wolfpack, 2015 – Crystal Moselle) [Estados Unidos]
O
filme acompanha a vida de seis irmãos que viveram 14 anos trancados em um apartamento,
tendo como único contato com o mundo exterior os DVDs de filmes que seu pai
trazia para eles e aos quais eles assistiam inúmeras vezes, a ponto de
transcrever e decorar todas a falas, re-encenar e gravar diversas obras. O
documentário, embora não deixe isso claro para quem assiste, cobre quatro anos
e meio da vida dos Angulo, depois que a diretora conheceu os garotos por acaso
ao cruzar com eles na rua, notar seu visual peculiar e descobrir que eles
também eram apaixonados por cinema. Mas o interesse pela sétima arte foi só a
porta de entrada para o universo perturbador de onde vinham aqueles rapazes.
Fiquei muito agoniada com a história toda, mas especialmente ao vê-los acender
fogueiras dentro em um apartamento lotado de tecidos e outros materiais
inflamáveis, com aquelas janelas sempre tampadas impedindo a entrada de luz, de
ar, de vida... Difícil não partilhar da revolta dos meninos, não sofrer com a
impotência da mãe, não querer dar uns tapas no pai (que pode até ter começado a
agir errado pelos motivos certos, mas enfim...). Só o formato desorganizado do
documentário me incomodou um pouco.
Nota:
3/5
Crystal
Moselle é uma diretora e roteirista americana que já dirigiu 3
curtas e 2 documentários, sendo ‘The wolfpack’ o primeiro deles, e ‘Our
dream of water’ o segundo. Atualmente ela está com um novo filme, ainda sem
título definido, em pós-produção.
Rock
the casbah (Rock the casbah, 2013 – Laïla Marrakchi) [Marrocos]
Após
a morte do patriarca de uma rica família do Tânger, amigos e parentes se reúnem
para os três dias do ritual de luto. No reencontro da viúva com suas três
filhas, segredos e ressentimentos vêm à tona misturados com boas lembranças e,
apesar das diferenças, elas se ajudam para superar a perda do ente querido e
para se impor em um cenário em que as mulheres não são ouvidas. As três irmãs
são muito distintas: uma está em crise e lida com suas frustrações fazendo
inúmeras cirurgias plásticas, a outra é a irmã invisível e considerada certinha
e chata, a caçula é criticada por ter ido embora para os Estados Unidos para se
realizar como atriz. Gosto muito das irmãs e de seus conflitos pessoais e
fraternais, mas, sem dúvida, as personagens da mãe e da criada são as mais
fortes. E ainda tem o fantasma do falecido, com um jeito que me lembrou o Gabo,
aparecendo para o neto e ajudando o menino a se inserir naquele mundo novo e
barulhento. Daqueles filmes que fazem rir e chorar. Uma delícia.
Nota:
4/5
Laïla
Marrakchi é uma diretora marroquina com três curtas e dois longas
lançados. Sua estreia na telona foi com ‘Marock’, em 2005, na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes daquele ano. ‘Rock the casbah’ foi
apresentado pela primeira vez em 2013 no Festival de Cinema de Toronto. Ela
também dirigiu episódios da série dramática ‘Le bureau des légendes’.
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2 comentários:
Eu vi e estou recomendando "Como nossos pais" para todas minhas amigas da minha idade com filhos. De acordo com meu marido, não é drama, é filme de terror ahahaha
Hahaha... concordo com seu marido. Eu, que não tenho filhos, já me identifiquei totalmente com a exaustão da Rosa. Imagino com filhos então...
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