Ela escreve uma tese de física cujo tema não consegue decidir.
Nessa tese seu pai investiu todas as economias da família. É um segredo que Ela
e o Pai guardam. Mas agora Ela precisa escolher o assunto de uma vez por todas.
O prazo está acabando. Precisa dar uma desculpa à universidade para que possa
continuar sustentando para a família a mentira que conta faz tempo. Para
conseguir mais prazo, ela pensa em adoecer. Basta pensar em algo plausível. E
de doenças a família dela entende bem.
Com uma escrita única e fragmentada, Lina Meruane cria uma trama que se passa num país estrangeiro e na terra natal da protagonista, nos tempos passado, presente e futuro, e que é baseada em funções orgânicas e doenças, já que Ela só se comunica por telefone com a Mãe (que na verdade é madrasta) e com o Pai, ambos médicos. Demorei umas 30 páginas para entrar na história, para entender como aquele universo tão particular funcionava, mas depois que entrei fiquei fascinada. Compreendi tudo? Não. Mas me envolvi totalmente nessa narrativa sobre uma família, sua hipocondria e seus segredos, nesse enredo que também traça paralelos com a história da ditadura chilena e os imigrantes latino-americanos na terra do Tio Sam. Gostei demais.
“No bolso seus dedos voltaram a topar com
algo duro e afiado, como um prego curvo. Era a apara de uma unha estriada do
Pai, das suas mãos que eram um mundo. Ele costumava deixar para Ela aqueles
restos de si para que depois os fosse encontrando. Se seu Pai velho chegasse a
morrer de forma repentina, Ela sabia que continuaria a encontrá-las nos
bolsos”.
Nota: 4/5
(Texto publicado no Instagram em 08 de setembro de 2021)
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