Sinopse:
Kathy, Tommy e Ruth são alunos de Hailsham. Na verdade, são clones criados para doar órgãos. Eles formam um triângulo amoroso, usado pelo autor, Kazuo Ishiguro, como gancho para falar de perda, solidão e da sensação que às vezes temos de já ser "tarde demais".
Livro x Filme:
Quem narra a história é Kathy, já adulta e prestes a encerrar sua carreira de cuidadora e finalmente tornar-se doadora. A partir de suas memórias, ela nos apresenta à rotina de Hailsham, esse local isolado do mundo que se traveste de escola comum onde ela e seus amigos cresceram para cumprir um único objetivo: servir de doadores, fornecendo órgãos do corpo como se fossem peças de reposição.
Desde o começo já dava para perceber que Kathy e Ruth são melhores amigas, mas que Ruth queria sempre ser o centro das atenções. Kathy se ressentia, mas no fundo achava que era apenas o jeito da amiga e que deveria aceitá-la assim. Às vezes elas brigavam, mas conseguiam manter a amizade por meio de gentilezas e pedidos de desculpa. Kathy era uma das únicas amigas de Tommy. Ela o entendia e eles adoravam conversar e analisar os mistérios de Hailsham. No entanto, na adolescência, Ruth se aproxima de Tommy e eles acabam namorando. Kathy era tida como a fiel escudeira do casal, ouvindo as reclamações dos dois, dando conselhos e ajeitando as coisas para que eles se acertassem depois das brigas. Apesar do papel ingrato, ela aceita tudo sem se opor e sem demonstrar os sentimentos que tinha por Tommy. Mas... só se vive uma vez e, no caso dos protagonistas, a vida é abreviada pelas doações.
Confesso que demorei um pouco a entrar no clima da história. A forma detalhada da narração de Kathy me pareceu meio cansativa e sem propósito no início, mas depois entendi que a única forma de apreciar sua narrativa era esquecer o mundo como o conhecemos e me colocar no lugar da personagem, ver as coisas como ela via. Muitas coisas que para nós são óbvias, não o eram para as crianças clones que cresceram isoladas. Por exemplo, elas tinham que ensaiar como interagir com pessoas de fora da escola, como agir em lugares públicos, o que esperar das pessoas comuns. Coisas que fazemos sem pensar, para eles era um desafio. É estranho, mas, como aponta Miss Lucy, uma das tutoras da escola, as crianças eram iludidas, pois a realidade era dita, mas não dita, ou seja, todos sabiam que teriam que doar órgãos ao chegarem à idade adulta, mas, por outro, lado deixavam que eles sonhassem com um futuro, que obviamente não existiria.
É importante destacar o peso que Hailsham tem na história. O lugar era um universo à parte. Os alunos jamais tinham contato com o mundo exterior, por isso, muitas histórias e lendas eram criadas e repassadas em segredo entre os estudantes. Uma aura de mistério envolve tudo o que acontecia na escola. Um exemplo dos mistérios mais discutidos entre os alunos era a existência ou não da “Galeria”, lugar para onde, supostamente, eram levados as melhores pinturas, esculturas e poesias criadas pelos alunos e escolhidas por “Madame”, mulher que aparecia periodicamente em Hailsham para escolher as obras de destaque. Além disso, discutiam também qual o propósito da tal “Galeria”. Outro assunto tabu que vivia na mente dos estudantes era a existência dos “Possíveis”, como eram chamadas as pessoas “Originais” das quais eles foram clonados. Alguns diziam que eles existiam e eram pessoas "normais" que circulavam por aí; outros acreditavam que os "Originais" eram párias da sociedade: condenados, drogados, prostitutas, etc. Um outro tópico proibido nas conversas formais, mas que estava sempre em alta, era a possibilidade de pedir um "Adiamento" do início das doações se dois estudantes estivessem mesmo apaixonados. A lenda dizia que era concedido um prazo de 3-4 anos para que o casal vivesse o amor antes de começarem as doações obrigatórias.
Bom, não vou estragar a surpresa e dizer se os boatos eram verdadeiros ou falsos. Só vou falar que não são mostrados devidamente no filme. Na película, tudo é tratado de forma direta e grande parte dos mistérios e divagações, que são a essência da esperança dos clones, não existe. Não fica claro o nível de intimidade entre as amigas, é tudo muito acelerado. Não vemos os pequenos gestos que fazem o amor de Kathy e Tommy florescer. Ainda mantém o tom melancólico, mas muito da beleza se perde.
Por fim, posso dizer que, por trás viés futurista e de ficção científica, a história levanta questões éticas pertinentes, não tão distantes assim da nossa realidade. Alguém aí se lembra de ovelha Dolly? De toda a discussão sobre se poderíamos clonar seres humanos? Pois bem... até que ponto é ético criar outros seres só para obrigá-los a doar órgãos para pessoas doentes? Com base em que nos julgamos capazes de decidir qual vida vale mais? Sabendo que o destino dos clones estava traçado, foi errado deixá-los ter expectativas para o futuro? Mas e se não houvesse o mínimo senso de futuro, valeria a pena viver? E depois que várias pessoas foram salvas de doenças incuráveis que dependiam de transplante, como, tendo a cura nas mãos, dizer a elas que o processo de criação de clones será interrompido?
Pare ler/ver, se emocionar e refletir...
2 comentários:
só assisti ao filme....lindo mas muito triste
Olá (:
É minha primeira vez visitando seu blog... parabéns pelo blog, muito bacana.
Eu já li a sinopse do livro alguma vez num desses blogs que visito que falam muito de livros... parece ser um livro/filme bacana, afinal eu gosto muito da Keira Knightley desde Piratas do Caribe.
Bjos (:
Fique com Deus ♥
Postar um comentário