LIVRO: A Humilhação
Simon Axler é um ator renomado que
agora, aos 65 anos, começa a ter lapsos de memória e não consegue mais atuar. A
perda de sua capacidade de interpretação é apenas o início de sua decadência:
logo ele perde os fãs, a esposa, o dinheiro, a própria identidade e a vontade
de viver. Após uma tentativa de suicídio frustrada, é institucionalizado. Sua
volta para casa é marcada pelo envolvimento com uma mulher 25 anos mais jovem,
que lhe dá novo ânimo, mas também o coloca numa posição vulnerável.
Simon
era um cara convencido e arrogante, daqueles que sempre teve tudo o que quis.
Sua fama e seu dinheiro permitiam tudo isso. Assim que ele sai dos holofotes,
perde tudo o que seu status de estrela havia lhe dado. Aos poucos, vai perdendo
também a noção de si mesmo, de quem ele era sem a qualificação de ator. Sua
estadia na clínica serve para colocar as coisas em uma nova perspectiva, e a
recém-descoberta realidade não o agrada nem um pouco.
Ao
voltar para casa, ele continua sem rumo, definhando dia a dia, até que bate à
porta de sua casa Pegeen, a filha de
um casal de amigos que ele não via fazia muito tempo. Aos poucos ela vai se
infiltrando na vida dele, aparecendo regularmente para visitas, preparando
jantares, trazendo suas coisas, deixando a casa do seu jeito... Quando percebe,
Alex está completamente fascinado por ela.
Além
de preencher os dias dele, Pegeen acaba se tornando um projeto pessoal para o
cara que não tinha nenhum propósito na vida. Mesmo sabendo que ela sempre fora
homossexual, ele acha que a relação deles é capaz de mudar a orientação sexual
dela. Com pequenos gestos, ele vai realizando sua transformação: primeiro as
roupas, depois os cabelos... acha que está fazendo uma boa obra. No entanto, a
ex de Pegeen dá o alerta: será mesmo que é ele quem está no controle?
Gostei
muito do tom realista (e um tanto perturbador) de como a velhice é tratada,
envolvendo a perda da capacidade física, as dificuldades amorosas, a solidão e
o desespero resultante da desintegração da própria personalidade dia a dia. Para
um ator de renome como Simon, o ego enorme também é afetado. Logo que eu
comecei a leitura, estava achando que a humilhação do título vinha dessa
decadência natural do ser humano e das perdas profissionais de Simon. Quando
Pegeen entrou em cena e percebi essa oportunidade de transformação que Simon
via nela, comecei a antever a tragédia muito maior que viria a seguir. E, de
fato, veio.
Foi uma leitura rápida, incômoda, dolorosa, porém muito instigante.
Gostei desse meu primeiro contato com a escrita do Roth e já quero ler outros
livros dele.
“O
pior era que ele questionava sua queda tal como questionava sua atuação. O
sofrimento era terrível, e no entanto ele duvidava que fosse genuíno, o que o
tornava ainda pior. Não sabia como ia passar de um minuto para o próximo, tinha
uma sensação de que sua mente estava derretendo, sentia pavor de ficar sozinho,
só conseguia dormir no máximo duas ou três horas por noite, quase não comia
nada, todos os dias pensava em se matar com a arma que guardava no sótão – uma espingarda
Remington 870 que ele mantinha naquela casa de fazenda isolada para se proteger
– e no entanto tudo aquilo lhe parecia encenação, uma encenação ruim. Quando
você representa o papel de uma pessoa que está entrando em parafuso, a coisa
tem organização e ordem; quando você observa a si próprio entrando em parafuso,
desempenhando o papel de sua própria queda, aí a história é outra, uma história
de terror e medo”.
Triste,
crítico, cruel... realista. Recomendo a leitura.
Fazia
tempo que eu queria ler algo do Philip
Roth e, quando vi que seria lançada a adaptação de “A Humilhação”, fiquei animada. Não vou mentir: o nome do Al Pacino
no cartaz foi decisivo para que eu começasse a ler o livro para poder assistir
ao filme na sequência.
No
geral, o filme segue o texto, com a maior diferença sendo o desfecho. O final do livro não tem o glamour do filme (e que o título em português meio que
entrega). A saída de cena de Simon é mais solitária de acordo com Philip Roth.
A importância de Sybil, a jovem mãe
que ele conhece durante sua internação na clínica psiquiátrica, também me
pareceu maior no livro (aliás, a história de Sybil é tristíssima...).
Outra
característica marcante do livro que foi bem suavizada na tela é a superproteção dos pais de Pegeen.
Enquanto no livro ela evita ao máximo contar aos pais sobre seu relacionamento
com Simon só para não levar "bronca" (vejam bem, ela é uma
mulher na casa dos quarenta anos) e, quando os pais finalmente descobrem, rola
muito ressentimento, no filme as coisas se desenrolam mais tranquilamente (e ainda
inventam uma desculpa para evitar a relação entre Simon e Pegeen).
Uma
invenção do filme que deu muito certo foi a empregada enxerida de Simon. Ela não existe no livro (ou, se
existe, não tem nenhuma relevância), mas serve de alívio cômico em alguns
momentos da adaptação cinematográfica. A cena em que ela dá uma aula a Pegeen
sobre como cuidar de seus brinquedinhos eróticos é hilária. Aliás, o filme todo tem um tom cômico, porém triste. Sabe aquele tipo de situação em que rimos, mas depois ficamos remoendo o acontecimento? Então. Eu diria que é um filme 'comicamente triste'. Ou que é uma 'comédia dramática'. Enfim...
Quem
já assistiu “Birdman” vai ter uma
sensação de déjà vu, pois ambas
histórias tratam de atores que veem seu prestígio despencar e que querem
recuperar a fama perdida, nem que para isso tenham que tomar medidas drásticas.
Recomendo
para quem gosta de dramas com pitadas de humor melancólico.
Trailer legendado:
2 comentários:
Gosto muito do Roth e agora fiquei com vontade de ler esse livro. Adoro leituras incômodas e dolorosas ;)
Preciso ver esse filme!!! :)
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