Sete contos que, obviamente, envolvem morte, crime e
suas mais variadas motivações. Desde uma brincadeira que deu errado, passando
por personagens assombrados pela culpa, outros que são movidos pela inveja e
até aqueles que encontram na morte um alívio para as aflições da vida.
Li “Redrum” em fevereiro, mas só agora
consegui escrever sobre ele. Antes tarde do que nunca, certo?
Vou falar o que
chamou minha atenção logo de cara: o nome (para quem não captou, ‘murder’ de trás para frente, recurso
também usado por Stephen King em seu
‘Iluminado’ e muito explorado por Kubrick em sua perturbadora adaptação
do livro de King), o tema (crime, morte, terror, suspense), o gênero (contos).
A capa maravilhosa, na minha combinação preferida de cores (branco, preto e vermelho),
que traz mais referência literária (está lá o corvo agourento) e a ótima sacada da sombra de um cara que se
transforma em uma daquelas marcações de corpo feitas pela polícia.
O visual das
páginas segue a mesma linha da capa, com borrifos de sangue no início de cada
conto e, mais uma vez, o ícone do corvo. Achei que os detalhes valorizaram
muito o livro.
Mas e os textos?
Como em todo livro de contos, alguns agradaram mais
que outros, mas todos cumprem bem o seu papel. O estilo próprio de cada autor
fica logo evidente, mostrando as várias nuances e abordagens de um tema tão
sombrio.
O
primeiro texto (um dos meus preferidos), ‘Refração’,
de Diogo Bernadelli, fala sobre uma
brincadeira que deu errado, em uma narrativa ágil que apresenta o mesmo acontecimento
do ponto de vista de 3 personagens distintos. Gosto muito desse recurso, que dá
a impressão de estar vendo um filme.
Depois
vem ‘Segunda Sombra’, de Vitor Toledo, que, como indica a
epígrafe, apresenta um personagem que mata (ou acredita ter matado) uma pessoa
e passa a se corroer de culpa, enlouquecendo dia a dia.
No
terceiro conto, ‘A Noiva Liberdade’,
de José Geraldo Gouvêa, o clima
triste e melancólico fica a cargo de um rapaz que mora em um apartamento com
vista para o cemitério. Em determinado momento, se aproxima do coveiro e, ao
conhecer melhor sua vida sofrida e suas atitudes, fica na dúvida de a morte
seria um castigo ou uma bênção.
Em ‘Benevolência’, Bia Machado nos coloca diante de uma pessoa que, anos depois de um
crime, resolve colocar para fora tudo o que sabe a respeito, tentando se livrar
da consciência pesada por ter sido conivente com o malfeitor só para não se
envolver. Uma história que fala dos horrores vivenciados debaixo dos nossos
narizes, ali, na casa ao lado, que preferimos não ver porque é mais cômodo.
No
conto ‘A Vidente’, de Pedro Viana, a tal mulher com poderes
místicos do título sabe que vive de enganar os clientes e que não possui dom
premonitório nenhum. No entanto, um dia sente que, de fato, tivera uma visão, e
que é a única que pode impedir um assassinato. Então, sai em uma corrida louca
contra o tempo e contra a descrença de todos para finalmente encontrar a cena
que visualizara. Será que ela conseguirá evitar uma tragédia?
Fabio Shiva narra em ‘A Marca’ a história de um
professor-orientador e um aluno que, em sua pesquisa, resolve tomar um rumo que
vai contra as instruções do mestre. Aos poucos, a relação de camaradagem que
existia entre professor e estudante vai degringolando, e as diferenças de
pensamento que, a princípio, pareciam ser intrigantes se transformam em
divergências mortais. Misturando ciência, tecnologia e mitologia, a história
caminha para um final trágico e surpreendente.
Encerrando
o livro, ‘Uma Noite no Farol’, de A. Z. Cordenonsi, é uma história
detetivesca à la Sherlock Holmes ,
com falsos suspeitos, pistas que passam despercebidas e deduções brilhantes que
só um inspetor clássico seria capaz de fazer.
Em
resumo, tem para todo gosto em se tratando de mistério e morte. Recomendo
muito!
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