sexta-feira, 10 de abril de 2015

Resenha: Redrum - Contos de Crime e Morte


Sete contos que, obviamente, envolvem morte, crime e suas mais variadas motivações. Desde uma brincadeira que deu errado, passando por personagens assombrados pela culpa, outros que são movidos pela inveja e até aqueles que encontram na morte um alívio para as aflições da vida.

Li “Redrum” em fevereiro, mas só agora consegui escrever sobre ele. Antes tarde do que nunca, certo?

Vou falar o que chamou minha atenção logo de cara: o nome (para quem não captou, ‘murder’ de trás para frente, recurso também usado por Stephen King em seu ‘Iluminado’ e muito explorado por Kubrick em sua perturbadora adaptação do livro de King), o tema (crime, morte, terror, suspense), o gênero (contos). A capa maravilhosa, na minha combinação preferida de cores (branco, preto e vermelho), que traz mais referência literária (está lá o corvo agourento) e a ótima sacada da sombra de um cara que se transforma em uma daquelas marcações de corpo feitas pela polícia.

O visual das páginas segue a mesma linha da capa, com borrifos de sangue no início de cada conto e, mais uma vez, o ícone do corvo. Achei que os detalhes valorizaram muito o livro.

Mas e os textos?
Como em todo livro de contos, alguns agradaram mais que outros, mas todos cumprem bem o seu papel. O estilo próprio de cada autor fica logo evidente, mostrando as várias nuances e abordagens de um tema tão sombrio.

O primeiro texto (um dos meus preferidos), ‘Refração’, de Diogo Bernadelli, fala sobre uma brincadeira que deu errado, em uma narrativa ágil que apresenta o mesmo acontecimento do ponto de vista de 3 personagens distintos. Gosto muito desse recurso, que dá a impressão de estar vendo um filme.

Depois vem ‘Segunda Sombra’, de Vitor Toledo, que, como indica a epígrafe, apresenta um personagem que mata (ou acredita ter matado) uma pessoa e passa a se corroer de culpa, enlouquecendo dia a dia.

No terceiro conto, ‘A Noiva Liberdade’, de José Geraldo Gouvêa, o clima triste e melancólico fica a cargo de um rapaz que mora em um apartamento com vista para o cemitério. Em determinado momento, se aproxima do coveiro e, ao conhecer melhor sua vida sofrida e suas atitudes, fica na dúvida de a morte seria um castigo ou uma bênção.

Em ‘Benevolência’, Bia Machado nos coloca diante de uma pessoa que, anos depois de um crime, resolve colocar para fora tudo o que sabe a respeito, tentando se livrar da consciência pesada por ter sido conivente com o malfeitor só para não se envolver. Uma história que fala dos horrores vivenciados debaixo dos nossos narizes, ali, na casa ao lado, que preferimos não ver porque é mais cômodo.

No conto ‘A Vidente’, de Pedro Viana, a tal mulher com poderes místicos do título sabe que vive de enganar os clientes e que não possui dom premonitório nenhum. No entanto, um dia sente que, de fato, tivera uma visão, e que é a única que pode impedir um assassinato. Então, sai em uma corrida louca contra o tempo e contra a descrença de todos para finalmente encontrar a cena que visualizara. Será que ela conseguirá evitar uma tragédia?

Fabio Shiva narra em ‘A Marca’ a história de um professor-orientador e um aluno que, em sua pesquisa, resolve tomar um rumo que vai contra as instruções do mestre. Aos poucos, a relação de camaradagem que existia entre professor e estudante vai degringolando, e as diferenças de pensamento que, a princípio, pareciam ser intrigantes se transformam em divergências mortais. Misturando ciência, tecnologia e mitologia, a história caminha para um final trágico e surpreendente.

Encerrando o livro, ‘Uma Noite no Farol’, de A. Z. Cordenonsi, é uma história detetivesca à la Sherlock Holmes, com falsos suspeitos, pistas que passam despercebidas e deduções brilhantes que só um inspetor clássico seria capaz de fazer.


Em resumo, tem para todo gosto em se tratando de mistério e morte. Recomendo muito!

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