segunda-feira, 11 de maio de 2015

Resenha: Big Loira e Outras Histórias de Nova York


Ao longo dos 21 contos de “Big Loira”, Dorothy Parker volta seu olhar perspicaz para a Nova York dos anos 20-30 e sua fauna humana. Alguns tipos são bem característicos da Big Apple, mas o comportamento dos gringos não difere muito daquele apresentado por gente de outras metrópoles. Embora o foco sejam as protagonistas femininas, os homens não escapam de seus comentários ácidos.

A primeira vez que ouvi falar da autora foi em uma resenha da Luara, em seu antigo blog. Fiquei curiosa para conhecer o estilo peculiar, cheio de críticas debochadas, dessa escritora que eu não conhecia, mas que, pelo visto, tivera seus anos de glória no exterior, sendo uma das mais importantes jornalistas, cronistas e poetas das décadas de 20 e 30 nos Estados Unidos. Anotei a dica de leitura e esperei pacientemente até conseguir um exemplar de “Big Loira” (a obra está fora de catálogo já faz um tempo). Este ano, finalmente consegui comprar o livrinho de uma amiga e me lancei à leitura cheia de expectativa.

Felizmente, desta vez minhas expectativas foram atendidas, e o que encontrei nas páginas desse livro delicioso foram histórias que retratam pessoas em busca de aceitação de todas as formas, que fazem de tudo para estar na moda e nas colunas sociais, que se esforçam muito para acompanhar as frenéticas mudanças de um mundo moderno que mal se recuperara dos estragos da Primeira Guerra Mundial e já enfrentava as agruras da Grande Depressão.

Ao mesmo tempo em que os personagens lutam para se adaptar a uma nova e moderna realidade, sofrem com angústias tão antigas quanto o próprio mundo: a solidão (quase sempre preenchida com bebida – contrabandeada), amores não correspondidos, casamentos infelizes, falsas amizades. Dorothy Parker consegue revelar os mais íntimos sentimentos desses seres imaginários, e, assim, nos faz enxergar fragmentos de nós mesmos.

O traço característico da autora é a ironia, que ela trabalha de forma genial. A crítica à sociedade de aparências é dura e impiedosa, mas feita com tanta graça e habilidade que não há como não rir das situações apresentadas. Em um dos meus contos favoritos, ‘Arranjo em preto e branco’, a autora narra uma festa de grã-finos em que um famoso cantor negro se apresenta. Uma das convidadas conversa com o anfitrião, dizendo que precisa conhecer o artista a qualquer custo. Todo o discurso dessa mulher é permeado de preconceitos, que ela vomita sem nem perceber. O texto corria grande risco de se tornar ofensivo, se não fosse brilhantemente redigido por Parker. Um grande exemplo de domínio da escrita, que exige, também uma boa capacidade de interpretação do leitor – ou as sutilezas se perderão.


Foi uma leitura incrível, cheia de situações do tipo ‘rir para não chorar’ e também daquelas em que ficamos com vergonha alheia. Divertido, irônico, atual. Recomendo!

2 comentários:

Eduarda Sampaio disse...

Que resenha gostosa de ler, Michelle. Só aumentou minha curiosidade em relação ao livro. Eu também ouvi falar de Dorothy Parker pela primeira vez no blog da Luara (o saudoso Isaac Sabe), mas depois vi que "The Portable Dorothy Parker" está na lista de Rory Gilmore.
Beijo! ^_^

Debora disse...

Olá Michelle, estou há algum tempo pesquisando sobre a Dorothy Parker, desvendando as diversas leituras em camadas que ela propõe e lido tudo o que encontrei a respeito dela e da sua obra. E cruzei com seu blog e uma resenha ótima sobre as personagens dessa mulher extraordinária! Sempre fico feliz ao cruzar com apreciadores dela.

Ultimamente tenho tentado encontrá-los - eles se escondem por aí! - pois gostaria que soubessem que montei com um grupo uma peça de teatro com alguns contos do Big Loira e alguns poemas. Não sei se você gosta de teatro, mas, se gostar, quero convida-la para assistir. A peça se chama “Só Mais Uma” e está em cartaz até dia 17/06/2016 no Teatro Pequeno Ato, em São Paulo.

Caso você tenha curiosidade e queira alguma informação, por favor entre em contato comigo – temos também uma página no Facebook com mais informações: facebook.com/somaisuma.teatro

Agradeço pelo seu tempo e parabéns pelo blog ;)