Oiês!
Como
já mencionei anteriormente, em outubro rolou a 41ª Mostra Internacional de
Cinema de SP. Este ano, consegui ver 8 filmes, sete deles dirigidos por
mulheres. Falarei sobre 5 deles neste post e sobre os demais na postagem
seguinte, OK? Dois filmes desta primeira leva têm diretoras suecas (‘Ex-mulher’
e ‘Epifania’), dois têm diretoras suíças (‘Mulheres divinas’ e
‘Sarah interpreta um lobisomem’) e um tem diretora georgiana (‘Scary
mother’).
Ex-mulher (Exfrun, 2017 – Katja Wik) [Suécia]
Três
mulheres em fases distintas da vida e seus relacionamentos. Klara é a
mais jovem, mora sozinha e costuma sair à noite com amigos para se divertir.
Ela tem um relacionamento casual com um cara que adora seu jeito de ser quando
estão a sós, mas que a critica duramente quando saem em grupo. Anna é
uma mulher casada com dois filhos pequenos. O que a oprime é o cansaço da
rotina doméstica intensificado pelos cuidados com as crianças. O marido reclama
que ela não se arruma, que eles não saem. Quando vão a um aniversário de um
amigo em comum, o bonito enche a cara, dá em cima de outra convidada e ainda se
faz de vítima. Vera é separada e sua vida gira em torno dos filhos e de
suas agendas, já que ela tem guarda compartilhada com o marido. Mesmo que as
crianças não fiquem 100% do tempo sob seus cuidados, ela não consegue ser outra
coisa além de mãe, só vive em função disso, tenta agradar os filhos o tempo
todo e se ressente que o marido e a madrasta dos meninos possam dar a eles
coisas melhores. São histórias bem comuns e que se repetem aos milhões. E por isso
é tão incômodo. Embora seus problemas sejam diferentes e a ex-mulher do título
obviamente seja Vera, para mim, todas as protagonistas são ex-mulheres, no
sentido de se anularem para agradar aos outros, de servirem só para determinada
função.
Nota:
3/5
Katja
Wik é uma roteirista e diretora sueca e ‘Ex-mulher’ é seu
primeiro longa-metragem. Antes dele, ela havia feito o premiado curta ‘Victim
Mentality Rhetoric’, de 2013, e trabalhado como diretora de elenco.
Epifania
(Epifanía, 2016 – Anna Eborn, Oscar Ruiz Navia) [Suécia/Colômbia]
Três
histórias de maternidade: na primeira, a mãe de uma mulher morre e ela se sente
perdida, começa a vagar e, por fim, reencontra a falecida em sua imaginação; na
segunda, uma mãe participa de um grupo de mulheres isoladas na mata em um
ritual de renascimento; na terceira, uma mulher que já é mãe se prepara com a
família para a chegada de um novo bebê em um parto domiciliar. Nos três casos,
os diretores combinaram experiências pessoais com ficção para criar as tramas.
O resultado é bem peculiar. A primeira história é a que mais causou
estranhamento porque quase não há fala e a câmera apenas segue a protagonista
por praias e campos vastíssimos, depois a acompanha indo de um cômodo a outro
de uma casa. Mas passados alguns minutos, me acostumei com aquele ritmo e passei a prestar
atenção nas imagens deslumbrantes e nos sons dos ambientes. Foi bem diferente.
As outras duas histórias foram OK.
Nota:
3/5
Anna
Eborn é uma diretora sueca que tem um curta-metragem de ficção, um
curta documentário e três documentários no currículo, um deles (o próprio 'Epifania')
sendo um híbrido de documentário e ficção, que foi premiado no Festival
Internacional de Cinema de Busan em 2016.
Mulheres
divinas (Die göttliche ordnung, 2017 – Petra Biondina Volpe) [Suíça]
O
filme se passa na Suíça, em 1971, em uma cidadezinha que só sabia da revolução
sexual impulsionada pelo festival Woodstock nos Estados Unidos e da luta das
mulheres ao redor do mundo pelo direito ao voto por meio das notícias. Nora é
uma dona de casa que achava que nada dessas coisas tinha a ver com ela, até o
dia em que diz ao marido que estava pensando em se candidatar à vaga aberta na
agência de viagens. O esposo responde que não era necessário, que o que ele
ganhava era suficiente para pagar as contas, que o lugar dela era em casa,
cuidando do filho e das tarefas domésticas. Frustrada, ela encerra a conversa.
Dias depois, toca no assunto novamente, e o esposo diz que ela estava precisando
de um filho novo para se ocupar. É então que ela percebe o quanto todas aquelas
lutas distantes lhe diziam respeito também. Assim, ela se envolve na luta pelo
sufrágio feminino na Suíça, e aos poucos vai atraindo mais apoiadoras da causa.
Didático e divertido.
Nota:
5/5
Petra
Biondina Volpe é uma roteirista e diretora suíça. Seu primeiro filme, ‘Dreamland’,
lançado em 2014, participou de festivais e foi indicado a quatro prêmios
suíços. 'Mulheres divinas' foi indicado a 7 prêmios de cinema
suíços e ganhou 3, e também levou 3 prêmios no Festival de Tribeca 2017.
Sarah
interpreta um lobisomem (Sarah joue un loup garou, 2017 – Katharina Wyss)
[Suíça]
Sarah
é uma adolescente tímida de 17 anos que vê nas aulas de teatro da escola uma
possibilidade de extravasar suas emoções reprimidas. No início, a atuação
parece que consegue fazê-la superar bloqueios e até acena com a chance de fazer
amigos, mas a garota continua a forçar os limites e acaba misturando realidade
e imaginação, o que assusta seus colegas de turma e a própria professora. Em
casa as coisas não são muito melhores, com um pai bem esquisito e mandão e uma
mãe submissa que não sabe como ajudar a filha. Trancada dentro de si mesma e
sem ser capaz de contar a ninguém como se sente, Sarah vai se isolando ainda
mais. Até surtar. O filme é feliz ao mostrar a sensação de incompreensão e
solidão de uma garota jovem, mas não sei bem como lidar com aquela família
dela, com o pai principalmente. Ele faz e fala umas coisas que me deixaram
chocada. É tão surreal que não consigo acreditar que alguém falaria como ele, por mais que não desse a mínima para a menina. Isso afetou a nota final que dei ao filme.
Nota:
3,5/5
Katharina
Wyss é uma diretora suíça que atualmente mora em Berlim. Ela já foi
roteirista, diretora e produtora de comerciais e curtas. ‘Sarah
interpreta um lobisomem’ é seu primeiro longa, que estreou na Semana
dos Críticos do Festival de Veneza 2017.
Scary
mother (Sashishi deda/Scary mother, 2017 – Ana Urushadze) [Geórgia]
Manana
é uma dona de casa de meia-idade que está escrevendo um livro. Mas sabe aquilo
que Virginia Woolf disse, sobre a dificuldade que as mulheres têm para escrever
porque não podem simplesmente se trancar em quarto e deixar filhos, marido e
tarefas domésticas do lado de fora? Então... é esse tipo de dificuldade que Manana
enfrenta. Ela até consegue se isolar parcialmente em seu quarto e escrever, mas tem que
fazer pausas para ir ao mercado, preparar as refeições da família, etc. Quando
seu livro finalmente fica pronto, ela o lê para os familiares, e todos se
sentem chocados e ofendidos com a sinceridade das palavras dela. O marido, que
a trata como uma criança e a critica por ela ter descuidado da aparência
enquanto mergulhava em sua escrita, fica horrorizado e tenta queimar o
original. Só que ela já havia entregado uma cópia ao dono da livraria, que
assume como missão de vida publicar a obra. Mais uma vez, porém, o interesse não é ajudá-la, e sim ter o reconhecimento para si, como o cara que
descobriu uma autora talentosa. E ainda tem o pai de Manana, que está
traduzindo o livro dela para o inglês sem saber que ela é a autora – a opinião
dele sobre o texto muda completamente quando ele descobre que foi a filha quem
escreveu aquelas palavras. Ou seja, todo mundo quer dar pitaco e dizer a Manana
o que e como ela deve escrever e sentir, mas ninguém
está interessado em, de fato, ler o que ela escreveu e saber o que ela pensa e
como se sente. Triste.
Nota:
4/5
Ana
Urushadze é uma diretora georgiana com vários curtas-metragens no
currículo. ‘Scary mother’, seu primeiro longa, foi
premiado nos Festivais de Cinema de Locarno, de Sarajevo e de El Gouna, no
Egito, em 2017, e é o candidato da Geórgia para concorrer ao Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro 2018.
2 comentários:
Fiquei em casa sentindo inveja de quem pode ir na Mostra SP. Tantos filmes que eu queria ver.
Estou muito interessada em ver Mulheres Divinas.
Bjs!
Carissa,
Amei Mulheres Divinas. É bem didático, mas não é chato. Equilibra bem questões sérias e momentos engraçados. Assista que você vai gostar ;)
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