Noah
é um garoto tímido de 16 anos que faz o que pode para continuar sendo
invisível. Tem como único amigo Harry e está apaixonado por Sophie.
Mesmo reticente, Noah decide se arriscar e ir à festa de uma colega de classe
para tentar se aproximar de seu interesse romântico. Só que o garoto não é lá
dos mais sortudos e, em vez de beijar a garota dos seus sonhos, ele acaba
beijando... o melhor amigo! E, para piorar, a cena é filmada e a gravação é
usada como chantagem. Terrível, não? Mas esse é só o começo de uma série de
confusões em que se mete o protagonista.
Noah
não tem uma vida fácil. Desde o desaparecimento de seu pai, anos atrás, ele
passou a viver só com a mãe, que teve que se virar para bancar as contas sozinha e
ainda pagar uma casa de repouso para a Vó, que alterna momentos de
lucidez com lapsos de memória por causa da progressão de sua demência. Embora a
Mãe trabalhe duro fazendo shows como cover de Beyoncé, é claro
que eles não têm muito dinheiro, e também é óbvio que o garoto passa muito
tempo sozinho. Cada um à sua maneira, todos são solitários nessa pequena
família desintegrada.
Não
à toa, Noah se sente excluído na escola: porque é franzino e geek,
pobre, sem pai, com uma avó meio alheia à realidade e uma mãe com um trabalho
nada convencional. Não à toa, ele tenta passar despercebido. Não à toa, ele é
extremamente ingênuo (num nível que me incomodou e me deu vontade de dar uns
chacoalhões no infeliz enquanto eu lia, mas depois de finalizada a leitura
entendi melhor sua personalidade). O problema é que sua imensa ingenuidade
combinada com certa dose de azar é fatal para ele. Grande parte das enrascadas
em que ele se mete poderia ser evitada se ele fosse um pouquinho mais
desconfiado das pessoas, menos bonzinho. Sempre implico com personagens que são
“Pollyana” demais. Para mim, não dá. Suas atitudes são bonitas e inspiradoras
na teoria, mas no mundo real o resultado é desastroso.
Mas
voltando ao livro... algumas situações constrangedoras que Noah enfrenta me
fizeram rir. Eram tão absurdas que, enquanto ia lendo e traduzindo, eu ficava
dizendo a mim mesma “Não... não é possível. Você não fez isso, amigo”. Mas
também houve momentos de bullying pesado em que fiquei com vontade de
abraçar o pobre Noah. Ainda bem que ele pôde contar com Harry e Sophie, com a
Mãe e com a Vó.
Aliás,
a Vó é minha personagem favorita do livro. Primeiro, porque ela tem um ótimo
gosto musical (viva os anos 80!). Depois, porque a relação dela com o neto é
linda, e ela sempre tem uma palavra de conforto para ele, assim como ele demonstra
preocupação e carinho genuínos por ela. E a Vó é esperta que só! Embora ela
realmente tenha lapsos de memória, às vezes faz uso de uma amnésia seletiva e
finge não entender certas coisas quando não quer responder. Mesmo sofrendo com
a perda da sanidade mental, ela é a pessoa mais perspicaz e lúcida da história.
“De
mal a pior” é uma história que consegue equilibrar bem situações
engraçadas, momentos tensos e cenas comoventes. O protagonista sem malícia me
irritou às vezes, sim, mas acho que a ideia era essa, colocar um pouco de
doçura e otimismo em estado bruto neste mundo impiedoso. E acompanhar Noah no processo de descoberta de sua identidade e sexualidade foi interessante.
Sofrido, como geralmente é, mas cativante.
Ah,
embora o livro tenha um final satisfatório, que não exige continuação, o autor
preparou uma sequência (a ser lançada em breve lá fora) que mostrará os
novos desafios de Noah, agora em um relacionamento. E os direitos da história
foram comprados pela produtora Urban Myth Films para uma adaptação para a TV. E, pra finalizar, AQUI tem um vídeo fofo do Simon James Green falando um pouco sobre a
história e se empenhando para pronunciar o nome do livro em português. :)
“Estava mesmo acontecendo.
Com ele.
Seus lábios se tocaram e o coração dele começou imediatamente a bater acelerado tum-tum-tum. Seu estômago se contorcia, muito, como antes de um exame, ou como quando alguém diz ‘Tenho más notícias’.
Coração acelerado.
Oscilação.
Mas era até que bom.
E meio terrível.
Definitivamente, esquisito.
Náusea, e sensação de calor, e mãos trêmulas, que ele não sabia bem onde colocar.
O que diabos ele estava fazendo? O que Harry estava fazendo? Harry o estava beijando, isso sim, mas por quê? Por que eles estavam se beijando? E por que Noah se deixava beijar daquele jeito? Harry, de repente, era gay? Harry nunca fora gay. Não que Noah tivesse notado, pelo menos. E ele, Noah, também não era gay. Ou era?”
Nota:
3,5/5
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