O LIVRO: The Lodger
Um casal que sempre trabalhou servindo aos outros
conseguiu juntar dinheiro, comprar uma casa bacana e montar uma pousada. Porém,
com o passar dos anos, viu os inquilinos desaparecerem e sua renda diminuir. A
sorte deles parece prestes a mudar quando bate à sua porta um homem procurando
um quarto para alugar. Apesar de seu comportamento excêntrico, ele era um
verdadeiro cavalheiro. Ou assim pensava a dona da casa, a única autorizada a
servi-lo. Aos poucos, ela percebe indícios de que seu inquilino pode estar
ligado à morte de várias mulheres e, em um misto de medo, piedade e fascinação,
tenta proteger o homem da polícia, ao mesmo tempo em que sofre por saber que
pode estar abrigando um assassino.
No começo da história, conhecemos um casal batalhador
que vê dia a dia suas economias irem pelo ralo e que está numa fase extrema de
corte de gastos: vive com aquecimento mínimo (apesar do impiedoso inverno
londrino), mantém apagadas todas as luzes da casa (até mesmo a da fachada em
que estava a placa oferecendo quartos vagos) e começa a cogitar se desfazer dos
móveis (algo que eles valorizavam muito e que havia sido o primeiro sinal de
ascensão social que conseguiram). Até mesmo o tabaco e o jornal (as únicas
coisas que mantinham a sanidade do Sr.
Bunting) corriam perigo, quando surge o tal inquilino.
Apesar de seu porte elegante e dos bons modos, o Sr. Sleuth é um homem de hábitos muito
peculiares: aluga logo dois quartos (pois queria dormir em um e conduzir
'experiências' no outro), exige ser servido apenas pela Sra. Bunting, acorda só perto da hora do almoço e passa as tardes
lendo a bíblia e realizando ‘estudos’, sai todas as madrugadas para passear
(ignorando o clima gélido). Quando estava em seu quarto, proibia interrupções
e, quando saía, trancava tudo. Nas manhãs seguintes aos passeios noturnos, o
Sr. Sleuth estava sempre exausto e a Sra. Bunting constantemente percebia
indícios de que boa coisa seu inquilino não andava aprontando: uma mala
misteriosa que sumia, uma roupa rasgada, um casaco manchado de sangue.
Somando essas pistas à esquisitice do inquilino e aos
corpos de mulheres assassinadas que começam a aparecer cada vez mais perto de
sua casa, ela logo deduz o que está acontecendo, mas guarda o segredo para si.
O ponto forte do livro é exatamente a angústia da Sra. Bunting diante do
conhecimento desse fato horroroso e as dúvidas que a corroem: ela se sente
culpada por abrigar um assassino, mas teme perder a recém-adquirida fonte de
renda que lhe devolveu a felicidade de pequenos confortos; além disso, ela,
assim como a maioria da população de origem humilde de Londres, não vê a
polícia com bons olhos e se recusa a dedurar alguém; por fim, tem ainda a
empolgação de ser o único contato do inquilino com o resto do mundo, de saber
que consegue manter um segredo como esse bem guardado do marido e
principalmente do jovem policial que frequenta a casa e atualiza diariamente o
Sr. Bunting a respeito da investigação do “Vingador”,
que é como o matador assinava os bilhetes encontrados junto aos corpos das
vítimas.
No entanto, com o passar do tempo, o fardo do segredo
fica cada vez mais pesado para a Sra. Bunting e ela vai definhando dia a dia:
não consegue comer nem dormir, passa a ter tonturas e palpitações, se
sobressalta por qualquer coisa, sofre, e sofre e sofre... A solução de seus
problemas surge com a chegada da enteada, que conduz a história a um desfecho
empolgante.
A autora se inspirou na história real de Jack, o Estripador, que aterrorizou
Londres no século 19. Adorei acompanhar a decadência da Sra. Bunting e sua
admiração mórbida pelo matador. O livro foi adaptado por Hitchcock em 1927 e foi
seu primeiro filme de sucesso.
A história é mais sobre os efeitos psicológicos do
segredo sobre a Sra. Bunting do que uma trama policial. Gostei bastante e
recomendo.
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O FILME: O Inquilino
Terminei o livro e fui toda empolgada ver o filme. O que eu encontrei é uma história que guarda muito pouco daquela impressa nas páginas.
Hitchcock já mostra seu fetiche por
loiras nesse seu primeiro sucesso comercial. Em sua versão da história, o assassino
mata moças de cabelo claro (e é até engraçada uma cena que mostra as jovens
botando peruca para sair às ruas) e guarda a foto de uma loira em seu quarto.
Hitch já botava loiras no banho nessa época |
Nem
preciso dizer que o que era uma trama com viés psicológico vira uma história de
amor proibido entre Sleuth e Daisy. Não posso dizer que o filme é
ruim, mas foi bem decepcionante para mim, porque não encontrei na tela nada do
que havia me encantado no livro. Hitchcock já usava umas tomadas bem bacanas
naquela época (como quando faz uma montagem dos passos do assassino no andar de
cima que se refletiam no andar inferior), mas, infelizmente, eu esperava outra
coisa.
Em
todo caso, é um bom filme e deve agradar mais se o espectador não fizer
comparações com o livro.
Este post faz parte do 'Hitchcock Reading Project'. A lista de livros e suas adaptações com as respectivas resenhas está AQUI.
- O livro (em inglês) está disponível gratuitamente no site do Project Gutenberg.
- O filme está disponível online no site do Open Culture (aliás, tem 23 filmes dele lá). É um filme mudo, então não tem desculpa de não ver porque não tem legenda.
Este post faz parte do 'Hitchcock Reading Project'. A lista de livros e suas adaptações com as respectivas resenhas está AQUI.
- O livro (em inglês) está disponível gratuitamente no site do Project Gutenberg.
- O filme está disponível online no site do Open Culture (aliás, tem 23 filmes dele lá). É um filme mudo, então não tem desculpa de não ver porque não tem legenda.
Um comentário:
Michelle, ando doida pra ler a Hq do Allan Moore e não conhecia esse filme. Quero conhecer mais dessa história antes de chegar na Hq. Vou ver o filme e depois te digo o que achei. Bjão
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