No
post anterior publiquei cinco filmes dirigidos por mulher que vi na 42ª
Mostra Internacional de Cinema de SP. Nesta segunda postagem de uma série
de três, apresento trabalhos de uma diretora sueca, uma inglesa, uma filipina,
uma iraniana e uma norte-americana.
Holiday
(Holiday, 2018 – Isabella Eklöf) [Suécia]
Sacha é uma jovem que se envolve com um cara rico – e
obviamente metido em atividades ilícitas – e vai passar o feriado com ele e
alguns amigos e familiares num lugar deslumbrante à beira-mar. Ao chegar lá, ela
descobre como funciona a dinâmica daquele grupo. É um filme duro de assistir,
incômodo. A violência em suas diversas formas está presente em cada cena,
fazendo um contraponto terrível com a beleza da paisagem, com os ambientes
imaculadamente limpos e reluzentes, com as pessoas saudáveis e bem bronzeadas.
As humilhações a que Sacha se submete são de revirar o estômago, mas é
aquilo... há um preço a se pagar para ser aceito em tão seleto clube. A questão é até onde ela está disposta a ir para fazer parte.
Nota:
3/5
Isabella
Eklöf é uma roteirista e diretora sueca que estudou cinema em uma
universidade da Dinamarca. Com três curtas no currículo, ela lança agora ‘Holiday’,
seu primeiro longa-metragem.
Vivienne
Westwood – Punk, Ícone, Ativista. (Vivienne Westwood – Punk, Icon, Activist,
2018 – Lorna Tucker) [Inglaterra]
Documentário bem tradicional que mostra as diversas
facetas de Vivienne Westwood, uma pessoa cheia de contradições, mas ainda assim
(especialmente por isso) interessante. O filme cobre desde sua origem
proletária, passa por seu primeiro casamento problemático com Malcolm
McLaren, sua ligação com o Sex Pistols e seu papel na consagração e aceitação da estética punk pela indústria da moda, seu casamento com um
estilista bem mais novo que ela, sua postura dúbia ao defender ideias de
sustentabilidade ao mesmo tempo em que trabalha em uma das indústrias que mais
polui e desperdiça recursos, de querer impedir a empresa de crescer demais ao
mesmo tempo em que está inserida em um dos ramos mais lucrativos do mundo.
Mesmo não concordando com várias de suas atitudes, não dá para negar que sua
história é intrigante. Só achei que faltaram entrevistas com desafetos. Traçar um perfil baseado só nos pontos positivos do biografado enfraquece a história, né?
Nota:
3/5
Lorna
Tucker é uma modelo e diretora inglesa que ingressou na indústria do
audiovisual registrando shows de bandas como The Cure e Queens of the Stone Age.
Na bagagem, tem curtas e videoclipes, além de outro documentário: ‘Amá’,
também de 2018.
Com
todo o meu hipotálamo (Gusto kita with all my hypothalamus, 2018 – Dwein
Baltazar) [Filipinas]
A misteriosa Aileen e os quatro homens que se
apaixonam por ela: o tímido vendedor da loja de roupas, o viúvo dono da loja de
eletrônicos, o estudante com quem ela mantém conversas picantes por telefone e
o ladrão sentimental. Escolhi esse filme para ver porque, além de encaixar nos
meus horários, fiquei curiosa para assistir a uma produção das Filipinas.
Estranhamente, a Manila mostrada na tela é bem parecida com algumas partes de
São Paulo. O idioma também é muito peculiar, uma mistura de espanhol, inglês e
alguma língua asiática. Para além das minhas impressões sonoras e visuais, gostei
de como a diretora mostrou a objetificação da protagonista: todos os personagens masculinos do filme fazem
isso, cada qual à sua maneira, e por focarem tanto na mulher idealizada, não
conseguem aproveitar as chances reais de serem amados e acabam solitários. Foi
um ótimo achado no meio de tantas opções da Mostra.
Nota:
4/5
Dwein
Baltazar é uma estilista, roteirista e diretora filipina com
experiência em séries de TV. Estreou na direção em 2012, com seu primeiro
longa-metragem (‘Mamay Umeng’). Além do filme que vi na Mostra, ela
também lança outro longa de ficção em 2018: ‘Oda Sa Wala’.
Ava
(Ava, 2017 – Sadaf Foroughi) [Irã]
Ava é uma adolescente de 16 anos que tenta driblar as
rígidas regras sociais do Irã para sair com o garoto de quem gosta. Sua mãe
acaba descobrindo seus planos e obriga a filha a se submeter a um exame
ginecológico, mesmo após a garota jurar que tinha apenas passado a tarde
conversando com o amado. Ava se sente humilhada pela situação e revoltada por seus pais não acreditarem nela - o que piora ainda mais quando ela descobre o quanto sua mãe é hipócrita. Apesar de, à primeira vista, parecer diferente, a pressão que as garotas
ocidentais sofrem com relação à sexualidade não divergem muito, não. No caso de
Ava, ela vira o exemplo de ‘garota desencaminhada’ e os abusos psicológicos que
sofre na escola, principalmente por parte da diretora e das professoras, a levam a tomar uma atitude desesperada. História inspirada na
adolescência da própria cineasta, que atualmente mora no Canadá.
Nota:
3,5/5
Sadaf
Foroughi é uma montadora, roteirista, produtora e diretora iraniana
formada em literatura francesa. Como diretora, tem quatro trabalhos: dois
curtas, um curta documental e ‘Ava’, seu primeiro longa-metragem.
O
mau exemplo de Cameron Post (The miseducation of Cameron Post, 2018 – Desiree
Akhavan) [EUA]
Na noite de seu baile de formatura do Ensino Médio, a
jovem Cameron é pega aos beijos com outra garota e enviada pelos pais
religiosos e conservadores para um centro de "cura gay". Ao chegar
lá, ela faz amizades e percebe o quanto os administradores do lugar estavam
perdidos, além de equivocados, obviamente. Com uma trilha sonora bacana dos
anos 90, com direito a uma empolgada Cameron subindo na bancada da cozinha para
cantar a icônica ‘What’s up?’, do 4 Non Blondes, o filme mostra o absurdo de se tentar curar o que não é doença, os abusos praticados para tentar transformar uma pessoa
em algo que ela não é. O tema é triste, mas o filme tem seus momentos
divertidos e deixa uma mensagem positiva. Adaptação do livro homônimo de Emily
M. Danforth. Gostei muito. A título de curiosidade, já falei de um outro filme
da mesma temática aqui no blog: Nunca Fui Santa (que recomendo
igualmente).
Nota:
4/5
Desiree
Akhavan é uma atriz, roteirista, produtora e diretora norte-americana que
tem no currículo um curta, episódios da série de TV ‘The slope’ e dois
longas-metragens: ‘Uma boa garota’ (2014) e ‘O mau exemplo de
Cameron Post’ (2018).
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