sábado, 10 de novembro de 2018

Veja Mais Mulheres: Filmes #32-36



Para quem ainda não viu, estou publicando, em uma série de três postagens (confiram a parte 1 e a parte 2), filmes dirigidos por mulher que vi na 42ª Mostra Internacional de Cinema de SP. Neste terceiro post, produções comandadas por diretoras da África do Sul, Brasil, Rússia, Índia, China, Líbano, Polônia, Vietnã e Taiwan :)

Metade do Céu (Bain Bain Tain, 2018 – Sara Blecher, Daniela Thomas, Elizaveta Stishova, Ashwiny Iyer Tiwari, Yulin Liu) [África do Sul/ Brasil/ Rússia/ Índia/ China]
Cinco histórias de mulheres que tentam ter uma voz e ser quem realmente são. Co-produção dos 5 países do BRICS. A primeira história vem da África do Sul e mostra uma atleta que vence uma competição e quebra recordes, mas começa a ser perseguida por ter um nível de testosterona acima do permitido para mulheres pelo comitê organizador. A questão que revela a hipocrisia é: o corpo dela produz naturalmente aquele nível e a sugestão da comissão esportiva é que ela injete drogas para diminuir tal hormônio. Na segunda trama, representante do Brasil, uma mulher que mora em SP é contatada pela família, com quem não fala há muito tempo por não ser aceita pelos parentes, para que vá a Minas Gerais a pedido da mãe moribunda – o que acompanhamos são os dilemas dessa mulher ao enfrentar um assunto doloroso que reabre suas feridas. O filme da Rússia é sobre uma mulher de meia-idade que se apaixona por um presidiário com quem conversa on-line e que promete se casar com ela quando sair da cadeia – o que de fato pretende fazer, mas ao chegar à aldeia onde mora a amada o casal tem que lidar com vários preconceitos. Da Índia vem a história de uma mulher que se anula para cumprir todas as funções que empurram para ela: dar conta das tarefas domésticas, cuidar dos filhos e dos sogros idosos, paparicar o marido, trabalhar em sua lojinha. Claro que nada que ela faz é apreciado ou reconhecido. Um dia, ela comunica a todos que vai tirar um mês de férias. Nem preciso dizer que a rotina familiar vira um caos e finalmente os parentes notam a falta que a mulher faz. Por fim, na trama chinesa, temos uma viúva que começa a se relacionar com um cozinheiro. Essa nova relação traz cor à sua vida, mas a filha da viúva acha que o homem escolhido pela mãe não está à sua altura e faz com que o casal termine. A viúva fica desolada e, um dia, a filha a escuta conversando com o ex-pretendente e finalmente percebe como foi egoísta e preconceituosa com a mãe, se dando conta até do quanto ela mesma era infeliz ao tentar atender as expectativas alheias. Gostei mais de algumas histórias do que de outras, mas foi uma boa escolha.
Nota: 3,5/5
Sara Blecher é uma diretora sul-africana que estudou cinema de Nova York e dirigiu os longas ‘Otelo em chamas’ e ‘Ayanda’. Daniela Thomas é uma dramaturga, roteirista e diretora que, com Walter Salles, codirigiu filmes como ‘Terra estrangeira’ e ‘Linha de passe’, e, com Felipe Hirsch, ‘Insolação’, estreando na direção solo com ‘Vazante’. Elizaveta Stishova é uma diretora russa com vários curtas e um longa (‘Suleiman Mountain’) na bagagem. Ashwiny Iyer Tiwari é uma diretora indiana que começou na publicidade e tem quatro longas no currículo (o mais recente, 'Panga', a ser lançado em 2019). Yulin Liu é uma diretora chinesa que estudou cinema em Nova York e já dirigiu curtas e o longa ‘Someone to talk to’.

Caos (Cafarnaum, 2018 – Nadine Labaki) [Líbano]
Contado em retrospectiva, o filme começa com o franzino Zain, garoto de 12 anos, algemado no tribunal, já condenado por ter esfaqueado um homem. Mas agora ele está diante do juiz por outro motivo: que processar seus pais por terem lhe colocado no mundo. Quando conhecemos a vida de Zain, um menino passava fome, trabalhava o dia todo para sustentar a numerosa família e ainda era agredido constantemente pelos pais, é impossível não ter empatia por ele e torcer para que ele tenha seu pedido atendido pelo juiz. História tristíssima de infâncias roubadas, de religião usada como desculpa para abusos, de preconceito contra estrangeiros, de medidas desesperadas. Foi o escolhido do público como melhor filme nesta edição da Mostra.
Nota: 5/5
Nadine Labaki é uma diretora libanesa com uma vasta carreira de atriz e com quatro trabalhos na direção. O primeiro deles, ‘Caramelo’, foi exibido na 31a Mostra de SP e eu já falei de 'E agora, onde vamos?' aqui. Já postei também 'Rock the casbah', em que ela faz uma das protagonistas.

O Rosto (Twarz, 2018 – Malgorzata Szumowska) [Polônia]
Rapaz metaleiro mora numa cidadezinha da Polônia e é sempre zoado por ser "o diferente". Um dia, ele sofre um acidente e passa por um transplante de rosto. E então o lugarejo, que preza pela tradição e os bons costumes, mostra sua hipocrisia. Ao mesmo tempo em que ele vira uma celebridade explorada pela mídia, perde o emprego e, por questões burocráticas, não pode receber aposentadoria por invalidez; a comunidade se gaba de sua benevolência ao ajudar o rapaz com as contribuições na igreja, mas com o passar do tempo se cansa do moço que demora a se recuperar; a própria mãe o rejeita e chama um padre para exorcizar o filho. Achei bacana. E com Metallica na trilha.
Nota: 3,5/5
Malgorzata Szumowska é uma produtora, roteirista e diretora polonesa com alguns filmes no currículo, entre eles ‘O corpo’ (2015) – vencedor do Urso de Ouro de melhor diretor no 65º Festival de Cinema de Berlim, e ‘Em nome do...’ (2013) – vencedor do Teddy Award de melhor filme no 63º Festival de Cinema de Berlim (prêmio para filmes com temática LGBT).

A Terceira Esposa (Nguoi Vo Ba, 2018 – Ash Mayfair) [Vietnã]
Com poucas falas, mas com imagens belíssimas e que contam perfeitamente a história, acompanhamos a realidade das mulheres na sociedade vietnamita do fim do Século 19 pelos olhos de May, uma garota de 14 anos que se torna a terceira esposa de um rico proprietário de terras. Entre os assuntos abordados estão os papéis sociais de homens e mulheres, as diferenças de classe e a inibição sexual feminina. Gostei muitíssimo.
Nota: 4/5
Ash Mayfair é uma montadora, roteirista, produtora e diretora vietnamita formada pela Tisch School of the Arts, de Nova York. Ela tem 8 curtas no currículo e‘A terceira esposa’ é seu primeiro longa-metragem.

Na Estrada da Felicidade (Hsing fu lu chang, 2018 – Hsin-Yin Sung) [Taiwan]
Animação que mostra os dilemas de uma mulher taiwanesa que sempre achou que sua felicidade estava nos Estados Unidos. Depois de anos morando na terra do Tio Sam, ela volta para seu o país natal para o funeral da avó e relembra momentos marcantes de sua infância e adolescência, bem como importantes fatos históricos. Ao confrontar seus sonhos e expectativas infantis com a realidade da vida ela se pergunta onde foi parar a felicidade e como poderia alcançá-la. Uma gracinha de filme. Aliás, a produção é uma das pré-selecionadas para a categoria Animação do Oscar 2019. Estou torcendo muito para que entre na seleção final.
Nota: 4/5
Hsin-Yin Sung é uma montadora, roteirista, produtora e diretora taiwanesa que já dirigiu quatro curtas, um deles servindo de inspiração para 'Na estrada da felicidade', seu primeiro longa-metragem.
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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação desta terceira edição do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Também dá para conferir o post de apresentação e a lista de filmes e links do primeiro ano e do segundo ano do projeto.

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