Natalie é uma jovem prestes a entrar na faculdade. Ela carrega em si os anseios normais que esse grande passo envolve, além de uma enorme vontade de descobrir a si mesma, de se reinventar, deixar para trás o ambiente sufocante da casa dos pais. Só que esse processo acaba não sendo exatamente como ela havia imaginado.
“O homem da forca” é um livro estranho (no bom sentido – pelo menos em parte). Ele começa com a descrição de uma família reunida ao redor da mesa tomando o café da manhã. À primeira vista, é uma família de comercial de margarina. Até eles abrirem a boca. Cada fala é impregnada de mágoas, frustrações, arrogância, tensão. Nenhum comentário ali é ingênuo. Há sempre um clima esquisito no ar e as interações soam falsas. É um mundo de aparências, uma história que exige uma leitura atenta em que o não dito vale tanto ou mais que aquilo que é dito.
Para mim, essa construção cheia de sutilezas e camadas funcionou perfeitamente até certo ponto. Creio que até uns 60% do livro eu estava totalmente envolvida na leitura, acompanhando com curiosidade e apreensão a jornada de Natalie e suas decepções. Mas conforme ela vai cedendo cada vez mais à sua imaginação hiperativa e a fronteira entre real e inventado vai se desfazendo, acabei me perdendo junto com a personagem, e com isso deixei de me interessar pela trama. Tenho certa implicância com pirações em livro. No cinema isso me instiga, mas no formato escrito me cansa. Então foi uma leitura que começou muito bem, porém terminou sendo apenas OK.
“Natalie Waite, que tinha dezessete anos mas sentia que só se tornara realmente consciente a partir dos quinze, vivia em um canto esquisito de um mundo de sons e visões para além das vozes cotidianas do pai e da mãe e de seus atos incompreensíveis. Nos últimos dois anos – aliás, desde quando em uma manhã clara ela se virou abruptamente e viu pelo canto do olho uma pessoa chamada Natalie, existente, registrada, inescapavelmente situada em um ponto do chão, agraciada por sentidos e pés e um suéter bem vermelho, obscuramente viva – vivera bastante sozinha, sem permitir nem mesmo que o pai acessasse os recônditos de sua mente. Visitava países estranhos, e as vozes de seus habitantes estavam sempre em seus ouvidos; quando o pai falava, era acompanhado pelo som de uma risada distante, que provavelmente ninguém mais ouvia além de sua filha.”
Nota: 3/5
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