segunda-feira, 3 de junho de 2013

Resenha: A Hora dos Ruminantes


Manarairema era uma cidadezinha pacata do interior onde todos se conheciam. A vida seguia em ritmo lento e sem surpresas, até que uma manhã traz uma novidade que muda completamente a rotina dos habitantes: um acampamento nas terras abandonadas de um rico fazendeiro da região. Curiosos, os moradores tentam se aproximar dos carrancudos recém-chegados, e ainda enfrentam duas estranhas invasões: a primeira por centenas de cães, e a segunda por milhares de bois.

Esse é um livro que conheci por acaso, fuçando resenhas no Skoob. A história chamou minha atenção por se tratar de realismo fantástico, um gênero que conheço apenas por meio de autores estrangeiros, e achei que seria válido ler algo do tipo produzido em terras brasileiras.

O que percebi foi que o livrinho simples, de 102 páginas, não fica devendo nada a outras produções do gênero. Pela internet, li que o texto pode ser visto como uma forma de expressão típica da época da ditadura, mas a trama dá margem a diversas interpretações. A que mais me agrada é a do medo das pessoas diante do desconhecido e do progresso.

Só o que sabemos é que os acampados estão sempre trabalhando, são de pouca conversa e não querem se misturar com a população local. Logo, os nativos fazem todo tipo de especulação sobre quem são os invasores e o que fazem ali. Quando as tentativas de aproximação iniciais falham, a curiosidade dá lugar à raiva e à inveja.

E do mesmo modo que agem frente aos novos vizinhos, os habitantes agem diante das invasões dos animais: primeiro o medo e a vontade de contra-atacar e expulsar, depois a aceitação da situação e a adaptação, por fim o desalento ao se verem novamente sozinhos.

Uma coisa que achei bem interessante foi que apenas as crianças tiveram coragem de manter suas ideias e rejeitar os costumes novos, que se diziam trazidos pelos invasores. Também é uma simples criança que se atreve a dizer aos recém-chegados que eles estavam agindo errado, enquanto todos os adultos não hesitavam em sair correndo e fazer tudo o que os acampados diziam, só para não chateá-los.

Enfim... gostei muito da leitura e recomendo a quem quer ler algo diferente e rapidinho.

“A fala de cada um devia ser dada em metros quando ele nasce. Assim quem falasse à toa ia desperdiçando metragem, um belo dia abria a boca e só saía vento”.

4 comentários:

Nice disse...

Michelle, eu li esse livro há muito tempo...recentemente emprestei pra um amigo. Recomendo que você leia também, do mesmo autor: "Sombra de Reis Barbudos". Segue o mesmo estilo...é fininho também...

Um beijão

Michelle disse...

Oi, Nice!
Bom saber que os outros livros do autor também são legais. Dica anotada ;)

Maura C. disse...

Parece ser beeem interessante esse livro, Michelle!
Realismo Fantástico é um gênero que pouco sei a respeito e nunca li nada dele; A Hora dos Ruminantes já foi para o caderninho de desejos, vou comentar sobre ele e mostrar sua resenha para o namorado acredito que ele também se empolgará pelo livro!

Beigos!

Unknown disse...

Achei bem interessante, diferente de tudo que já li. Nos dá um leque de possibilidades de interpretações.Muito bom mesmo.