LIVRO: Trash
Raphael, Gardo e Rato são três
adolescentes que moram e trabalham no lixão de Behala, revirando montanhas de
resíduos atrás de material que possam vender. Um dia, Raphael encontra uma
carteira contendo dinheiro, documentos, uma chave estranha e um código misterioso.
Pressentindo a importância do achado, ele mente para a polícia quando os
guardas aparecem no terreno oferecendo recompensa pelo item perdido, e embarca
com os amigos em uma aventura insana e perigosa que pode mudar a vida dos três
para melhor ou colocá-los a sete palmos abaixo do chão.
A
ação de “Trash” se desenrola em um
país de terceiro mundo não especificado, mas alguns detalhes da narrativa dão
pistas de que provavelmente o cenário é a América Latina, embora as Filipinas
também não possam ser descartadas, já que é um dos países em que o autor morou
por um tempo e onde também são realizadas celebrações animadas no Dia dos Mortos – um evento importante na história. O fato é que,
independente da localização, é fácil reconhecer a triste realidade retratada
nas páginas do livro: miséria, violência, corrupção.
O
ritmo da trama é ágil. Como leitores, somos transportados para dentro da
história e corremos com os protagonistas, sofremos com eles, torcemos pelo seu
sucesso. Um recurso que ajuda muito a adentrarmos esse mundo ficcional tão
próximo do real é a narração feita por vários personagens, como se cada um
deles contasse um pedacinho da história conforme fosse se lembrando ou conforme
sua importância em determinada parte, pedindo a palavra, fazendo interferências,
corrigindo o que o outro diz. A linguagem simples os capítulos curtos só
colaboram para o dinamismo do enredo.
Fiquei
encantada com a amizade dos meninos. Raphael
é um garoto tímido, desconfiado, com grande senso de justiça; Gardo é mais desembaraçado, protetor,
carinhoso; Rato - o meu preferido -
é o mais franzino, aquele que não tinha nenhuma família e que não sabia nem
ler, porém é o que se mostra mais esperto, o mais 'vivido', o que tem contatos
e elabora planos. Mesmo antes de entrar de cabeça na confusão armada por
Raphael e Gardo, ele já tinha um esquema em curso para mudar de vida e começar a
viver seu sonho de ser pescador.
"Aprendi mais do que seria possível aprender em qualquer faculdade. Aprendi que o mundo gira em torno de dinheiro. Há valores, virtudes e morais; há relacionamentos, confiança e amor - tudo isso importa. No entanto, o dinheiro é mais importante, e pinga o tempo todo, como se fosse água. Alguns bebem muito dessa água; outros passam sede."
Uma
história de ação em que garotos que vivem uma realidade deprimente se permitem
sonhar e lutam para fazer o que é certo.
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FILME: Trash - A Esperança Vem do Lixo
No
filme, Raphael, Gardo e Rato são vividos
respectivamente por Rickson Tevez, Eduardo Luis e Gabriel Weinstein,
garotos não-atores de comunidades cariocas que foram selecionados entre 700
concorrentes. O elenco conta ainda com Rooney Mara como Olivia, a estrangeira que dá aulas em
uma ONG no lixão, Martin Sheen, que interpreta o padre administrador da ONG, Wagner Moura, que encarna o dono da carteira que desencadeia a
aventura e Selton Mello, o delegado mau caráter encarregado de recuperar a carteira para acobertar um esquema de desvio
de dinheiro público. Mesmo em uma produção cheia de estrelas nacionais e
gringas, quem brilha mesmo são os meninos desconhecidos que dão vida aos
protagonistas.
O
lixão de um país incerto foi transportado para o Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, e as
perseguições deflagradas em ruelas indeterminadas acontecem agora em becos,
estações de trem e favelas da Cidade Maravilhosa, ao som de funk e batucada. Mas o filme
que foi logo tachado de ‘novo Cidade de Deus’ está longe de ser apenas ‘mais um
filme de favela’. O cenário pode ser o mesmo, as condições degradantes podem
não ter mudado muito desde então, mas a história é outra. É um filme de ação
dos bons.
Relevadas as necessárias adaptações, o filme é bem fiel ao livro. A amizade, o mistério,
as peripécias, a pobreza, a truculência policial... está tudo lá. Aliás, uma
das cenas mais impactantes do filme – o interrogatório de Raphael – surgiu da
alteração de um evento do livro: enquanto nas páginas o garoto é levado para a
delegacia, espancado e pendurado na janela do lado de fora do prédio, o filme
transforma a coisa toda em arte (o que é bem perturbador, diga-se de passagem),
misturando tomadas de dentro do carro do delegado, que dirige seu automóvel
chique ao som de música clássica, com tomadas da viatura policial dando cavalos
de pau, enquanto Raphael, algemado e encapuzado, é arremessado de um lado para
o outro no banco de trás, batendo nas laterais do carro, caindo, e, depois,
passando por mais sofrimento dentro do porta-malas. Angustiante e hipnotizante
ao mesmo tempo.
Em
geral, gostei bastante do filme. Duas coisas me irritaram, no entanto: a
primeira, que ocorre com uma certa frequência em filmes nacionais, é o áudio
ruim. Não sei se é problema de captação, de edição, de reprodução... enfim, em
vários momentos não dava para entender o que os personagens estavam falando
(principalmente os meninos). A segunda é o final que insere um comentário sobre
as manifestações do meio do ano e quer deixar uma moral da história. Não
precisava. Sério.
Para
quem curte um filme de ação e enigmas. Recomendo!
Trailer Legendado:
2 comentários:
Tanto o livro quanto o filme parecem muito interessantes :)
Em relação a isso do áudio: nossa, eu tenho muito problema com filmes nacionais por causa disso, sempre tem falas que eu não consigo entender, é bem frustrante...
Não conhecia nem um nem outro, parece ser tão bom que agora estou com vontade de ler/ver, rs.
viajandoentrepalavras.blogspot.com.br
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