Jane
Eyre é uma órfã criada a contragosto pela Sra. Reed, a tia que assume sozinha a
responsabilidade pela sobrinha após a morte de seu marido. No entanto, a
impulsividade e a personalidade pouco dócil da garota fazem com que sua tutora
a envie a um colégio para garotas. Na instituição, Jane, que achava ter se
livrado dos castigos da tia e dos ataques dos primos, continua passando maus
bocados. No entanto, a escola a ensina disciplina e autocontrole e, depois de
formada, ela trabalha uns anos como professora no próprio local, mas sua natureza curiosa não a
deixa ficar parada: ela quer mais da vida. Então, coloca um anúncio no jornal e
é contratada como preceptora de uma garotinha francesa. Em sua nova morada,
conhecerá o Sr. Rochester, patrão com quem vive uma relação conturbada e por quem acaba se apaixonando.
Charlotte
Brontë. Ver esse nome estampado na capa do livro já me desanimava
profundamente, pois minha experiência com a escrita de sua irmã, Emily, não foi
das mais agradáveis. Mas “Jane Eyre” foi o título escolhido por votação para a
discussão no Leituras Compartilhadas dos Espanadores, então decidi respirar
fundo e dar uma chance à história. E não é que me surpreendi positivamente?
A
protagonista é uma sofredora azarada: é órfã, desprovida de beleza e, o pior: é
questionadora. Tudo o que uma garota não deveria ser. Seu comportamento quando
criança era perfeitamente normal, mas sua tia não conseguia engolir o fato de
Jane não ser bonita como as primas, não ser calma e ainda revidar aos ataques
do primo e contestar as ordens dos adultos. Os anos de amadurecimento na
escola, sob um regime rígido e até mesmo abusivo, não foram capazes de apagar a
chama indagadora de Jane, mas a ensinaram a manter a postura e a pensar antes
de agir.
O
comportamento de Jane, que refletia as ideias avançadas da autora, com certeza deve ter
chocado muitos leitores. A protagonista não se satisfaz com menos do que sabe
que merece, não aceita ser vista como inferior por ser do sexo feminino e
apresenta um discurso muitíssimo inovador sobre a independência financeira das
mulheres. Além disso, Jane é fiel aos seus princípios. Embora alternativas mais
fáceis surjam em seu caminho, ela as descarta para ficar em paz consigo mesma.
Ainda que isso possa custar a ela a perda do homem que ama.
Embora o final tenha me desagradado um pouco, o saldo da leitura foi positivo. Não
tem como não gostar de Jane e não torcer por ela. Merece fazer parte da galeria
de protagonistas femininas marcantes.
“Supõe-se que as mulheres
devem ser bem calmas, geralmente, mas elas sentem o mesmo que os homens.
Precisam de exercício para suas faculdades mentais, e campo para os seus
esforços, tanto quanto seus irmãos. Sofrem com restrições muito rígidas, com a
estagnação absoluta, exatamente como os homens devem sofrer na mesma situação.
E é uma estreiteza de mente de seus companheiros mais privilegiados dizer que
elas devem ficar limitadas a fazer pudins, tricotar meias, tocar piano e bordar
bolsas. É insensatez condená-las, ou rir delas, se procurarem fazer mais ou
aprender mais do que o costume determinou que é necessário ao seu sexo”.
Clássico
com conceitos modernos, romance e pitadas de mistério. Recomendo!
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