quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Resenha: Jane Eyre


Jane Eyre é uma órfã criada a contragosto pela Sra. Reed, a tia que assume sozinha a responsabilidade pela sobrinha após a morte de seu marido. No entanto, a impulsividade e a personalidade pouco dócil da garota fazem com que sua tutora a envie a um colégio para garotas. Na instituição, Jane, que achava ter se livrado dos castigos da tia e dos ataques dos primos, continua passando maus bocados. No entanto, a escola a ensina disciplina e autocontrole e, depois de formada, ela trabalha uns anos como professora no próprio local, mas sua natureza curiosa não a deixa ficar parada: ela quer mais da vida. Então, coloca um anúncio no jornal e é contratada como preceptora de uma garotinha francesa. Em sua nova morada, conhecerá o Sr. Rochester, patrão com quem vive uma relação conturbada e por quem acaba se apaixonando.

Charlotte Brontë. Ver esse nome estampado na capa do livro já me desanimava profundamente, pois minha experiência com a escrita de sua irmã, Emily, não foi das mais agradáveis. Mas “Jane Eyre” foi o título escolhido por votação para a discussão no Leituras Compartilhadas dos Espanadores, então decidi respirar fundo e dar uma chance à história. E não é que me surpreendi positivamente?

A protagonista é uma sofredora azarada: é órfã, desprovida de beleza e, o pior: é questionadora. Tudo o que uma garota não deveria ser. Seu comportamento quando criança era perfeitamente normal, mas sua tia não conseguia engolir o fato de Jane não ser bonita como as primas, não ser calma e ainda revidar aos ataques do primo e contestar as ordens dos adultos. Os anos de amadurecimento na escola, sob um regime rígido e até mesmo abusivo, não foram capazes de apagar a chama indagadora de Jane, mas a ensinaram a manter a postura e a pensar antes de agir.

O comportamento de Jane, que refletia as ideias avançadas da autora, com certeza deve ter chocado muitos leitores. A protagonista não se satisfaz com menos do que sabe que merece, não aceita ser vista como inferior por ser do sexo feminino e apresenta um discurso muitíssimo inovador sobre a independência financeira das mulheres. Além disso, Jane é fiel aos seus princípios. Embora alternativas mais fáceis surjam em seu caminho, ela as descarta para ficar em paz consigo mesma. Ainda que isso possa custar a ela a perda do homem que ama.

Embora o final tenha me desagradado um pouco, o saldo da leitura foi positivo. Não tem como não gostar de Jane e não torcer por ela. Merece fazer parte da galeria de protagonistas femininas marcantes.

“Supõe-se que as mulheres devem ser bem calmas, geralmente, mas elas sentem o mesmo que os homens. Precisam de exercício para suas faculdades mentais, e campo para os seus esforços, tanto quanto seus irmãos. Sofrem com restrições muito rígidas, com a estagnação absoluta, exatamente como os homens devem sofrer na mesma situação. E é uma estreiteza de mente de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas devem ficar limitadas a fazer pudins, tricotar meias, tocar piano e bordar bolsas. É insensatez condená-las, ou rir delas, se procurarem fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou que é necessário ao seu sexo”.

Clássico com conceitos modernos, romance e pitadas de mistério. Recomendo!

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