A
história se passa no Rio de Janeiro, em 1924, e tem início quando o Senador
Belizário Bezerra, aclamado pela crítica e pelo público por seu best-seller
“Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”, coincidentemente morre na
cerimônia em que assumiria uma das disputadas cadeiras da própria ABL. O
Comissário de Polícia Machado Machado, que recebeu esse nome e sobrenome por
causa da grande admiração que seu pai tinha por Machado de Assis, assume o
caso. Ele é um homem de 34 anos, fumante inveterado, obstinado e paciente,
conhecido como Coruja, graças às olheiras marcadas que estampa devido a várias
noites mal dormidas, e destaca-se dos demais policiais por usar cabelo comprido
e um chapéu palheta destoante. O Coruja, acima de tudo, não acredita em coincidências.
A
esse primeiro assassinato somam-se mais quatro, tendo como vítimas os membros
da referida instituição literária, e o caso então fica conhecido como “Crimes
do Penacho”, devido às plumas que adornavam os chapéus dos acadêmicos. Para ajudar na
investigação, Machado Machado conta com o auxílio de Gilberto Penna-Monteiro,
amigo e médico-legista. Como se a série de mortes já não fosse por si só
intrigante, bilhetes enigmáticos, redigidos com letras recortadas de revistas e ilustrados com a figura de um desconhecido pássaro, são deixados juntos aos corpos. Mais
adiante, a dupla passará a contar ainda com a colaboração da inteligente Galatea, filha do poeta Euzébio Fernandes e afilhada de Olavo
Bilac, que acaba se mostrando peça fundamental para a solução do caso.
O
livro é fruto de uma pesquisa cuidadosa por parte do autor, o que permite a recriação
de toda a atmosfera do Rio de Janeiro no período abordado. No entanto, muitas
vezes me pareceu que o Jô Soares estava mais interessado em mostrar todo seu
conhecimento histórico do que em desenvolver a trama. É tanta descrição,
referência e história paralela que o caso dos assassinatos acaba ficando em
segundo plano. A narrativa só toma fôlego quando se chega às 100 páginas
finais. Outra coisa que compromete o andamento da história é o excesso de
termos estrangeiros utilizados. Que houvesse algumas expressões em francês, que
era a “língua universal” na época, era de se esperar, bem como que surgissem
termos em latim quando um personagem médico ou advogado se exprime. No entanto,
em muitos momentos, idiomas estrangeiros são usados sem necessidade, só para
nos mostrar o quanto o autor é culto. Por exemplo:
“O
primeiro tempo terminara com vitória parcial do Fluminense por 1 x 0. Preguinho
amortecera a bola no peito, na altura da linha intermediária, driblara Seabra e
Candiota, dera um chapéu em Vadinho e, com um shoot irreprochável, executara um lançamento de trinta metros,
deixando a pelota nos pés de Nilo, o center-forward
artilheiro do campeonato. Nilo enganara o right
back Penaforte com um ágil gingar dos quadris, e da sua shooteira saíra o tiro indefensável,
desbaratando Afonso, o apalermado goalkeeper
do Flamengo”.
(página
150)
No
trecho acima, quem está falando é o autor, não um personagem, ou seja, não há
necessidade de falar desse jeito. Bem diferente de quando são mostradas páginas
do jornal O Paiz, esse sim trazendo
corretamente a grafia usada na década de 20:
“Chegou
a esta redacção uma espantosa notícia: os dois membros da Academia Brasileira
de Letras mortos há uma semana foram assassinados. As autoridades officiais
competentes, depois dos resultados de minuciosa necropsia, chegaram à conclusão
de que o óbito, anteriormente attribuído a causas naturaes, foi provocado por
um veneno mysterioso.”
(página
37)
Resumindo,
Assassinatos na Academia Brasileira de Letras parte de uma premissa
interessante, que, infelizmente, não é bem desenvolvida, e a história acaba eclipsada pelo estilo excessivamente enfeitado
do autor. Uma pena.
Este post faz parte do Desafio Literário 2012 - Tema de Março: Serial Killers. Para ver minha Lista de Livros Selecionados e outras resenhas, CLIQUE AQUI.
9 comentários:
Ai, aqui vai mais um preconceito meu... Eu nunca conseguiria ler o Jô Soares. Não sei...
E que pena que acabei por confirmar isso pela resenha rs.
Agora vi sim o episódio de Criminal Minds...por sinal ainda considero uma série que realmente trata de serial killers, muitas outras se perderam em casos e parecem não ter mais pesquisa para a escrita. CM ainda permanece fiel.
Apesar de não gostar da ideia de ler o livro, adorei a resenha! rs
bjs!
Finalmente consegui um tempo pra passar aqui no blog \o/
Eu não conhecia o livro e conforme você começou a falar eu fui me interessando muito, mas depois pelo que você disse e mostrou... É uma pena que tenha ficado nisso. :/
Pelo que você falou, tinha tudo pra ser um livro muito bom.
E não assisto Criminal Minds, nem tempo eu tenho ._.
Oi Mi!
Adorei seu resenha, não sabia que o Jô tinha livro KLJLASKJD bacana!
Beijos, Kamila
http://vicio-de-leitura.blogspot.com
Ai, que pena... A idéia do livro é tão boa!! É triste quando o autor tenta aparecer mais do que a própria história! Que imaturidade...
Eu já conhecia o título, mas nunca li. No início da resenha eu fui ficando muito interessada, pq percebi um certo humor e criatividade em relação à construção dos personagens, inclusive o nome deles. :D
Mas admito que desanimei qdo vc expôs os pontos negativos. Realmente, uma narração muito enfeitada acaba comprometendo o desenvolvimento da história, a ponto de torná-la enfadonha. :/
Eu não assisto Criminal Minds.
A única série policial que assisti foi CSI Las Vegas, nas primeiras temporadas.
Bjs ;)
E' parece que este livro do Jo nao agradou ... eu li As Esganadas e gostei.
Eu estou tendendo mais para o comentário da Karla: "Eu nunca conseguiria ler o Jô Soares
Mais com o DL, tudo é possível.
queria saber quem é o assassino?
Nunca li nenhum livro do Jô, já ouvi falar de alguns, mas nunca li. Eu sempre quis ler As Esganadas. Esse também é bom? encontrei alguns livros do Jo no free ebooks, esse acho que está aqui para quem quer: http://portugues.free-ebooks.net/ebook/Assassinatos-na-Academia-Brasileira-de-Letras
boas leituras!
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